Neste 5 de agosto, João Pessoa celebra seus 439 anos com um olhar sobre o crescimento vibrante da cidade e sua rica tapeçaria cultural ao longo dos séculos. Embora as curiosidades históricas possam parecer distantes da realidade moderna, é crucial explorar como o passado molda o presente e a identidade dos habitantes da capital paraibana. Os marcos históricos não apenas narram a evolução da cidade, mas também iluminam sua configuração atual e o seu caráter único.
Para mergulhar mais fundo nesses aspectos fascinantes, o historiador Ângelo Emílio conversou com redação do portal, revelando como esses pontos históricos são fundamentais para entender a João Pessoa de hoje.
Ponto de Cem Réis
O Ponto de Cem Réis é um dos locais mais icônicos de João Pessoa, conhecido por ser um importante ponto de convergência entre a cidade baixa e a alta. Emílio explica: “O nome popular ‘Ponto de Cem Réis’ remete ao preço da passagem do bonde que terminava ali, no início do século XX. Originalmente, o Largo do Rosário, que ocupava este espaço, foi um centro vital para a população negra e um local de religiosidade”.
No entanto, com a modernização e a expansão dos transportes urbanos, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos foi demolida para abrir caminho para uma área de tráfego de bondes. “A mudança refletiu um período de transição na cidade, onde antigas estruturas coloniais deram lugar a novas exigências urbanas”, diz Emílio. O nome oficial, Vidal de Negreiros, é uma ironia histórica, dado que o personagem era um importante senhor de engenho e escravocrata.
Crescimento às margens do Sanhauá
Diferenciando-se de outras capitais nordestinas, João Pessoa cresceu às margens do Rio Sanhauá, uma posição estratégica que favoreceu tanto a defesa quanto o comércio. A proximidade com o rio proporcionou à cidade um porto natural, facilitando o escoamento de produtos agrícolas e mercadorias importadas, além de possibilitar a comunicação e o transporte entre o interior e o litoral. Durante a ocupação holandesa, de 1634 a 1654, essa localização foi crucial para a fortificação e proteção contra invasões inimigas. Ao longo dos séculos, a geografia moldada pelo Sanhauá continuou a influenciar o crescimento urbano e econômico da cidade, destacando João Pessoa entre as capitais nordestinas e contribuindo para seu desenvolvimento único.
O Mito da Fonte Tambiá
Localizada na Bica, a Fonte Tambiá é envolta em mistério e tradição. A lenda da “índia que chora” é uma narrativa central na cultura local, simbolizando a resistência e o sofrimento dos povos indígenas. Essa fonte não é apenas um marco histórico, mas também um importante símbolo da memória cultural dos indígenas na história de João Pessoa. A lenda é um exemplo de como as tradições orais desempenham um papel vital na preservação da identidade cultural e na construção da história local.
O Farol do Cabo Branco
O farol ampliou o sistema de sinalização marítima existente, iniciado no século XIX com o Farol da Pedra Seca. “O sisal, usado no design do farol, representa uma parte significativa da economia regional, demonstrando a conexão entre o desenvolvimento moderno e a tradição econômica local”, diz o historiador.
Avenida Epitácio Pessoa
Inaugurada na década de 1920, a Avenida Epitácio Pessoa desempenhou um papel crucial na expansão de João Pessoa. Emílio explica: “Antes da abertura da avenida, a cidade estava restrita a um núcleo urbano limitado. A avenida facilitou a urbanização de novas áreas e o desenvolvimento de bairros ao longo do eixo leste da cidade”. A construção da avenida envolveu a mão de obra de apenados, um método comum na época. “Durante a construção da Avenida Epitácio Pessoa, o trabalho braçal foi realizado por prisioneiros, que eram vestidos com uniformes semelhantes aos dos Irmãos Metralha, como uma forma de identificação e controle”, diz Emílio. Ele acrescenta que, “esse método de trabalho não era incomum na época e reflete a maneira como o sistema prisional era utilizado para contribuir com grandes obras de infraestrutura”.
A abertura da avenida não apenas ampliou a infraestrutura urbana, mas também transformou a percepção da área litorânea. “A avenida permitiu a expansão da cidade em direção ao litoral, valorizando áreas que antes eram vistas como insalubres e promovendo o crescimento de bairros como Tambaú e Manaíra”, explica Emílio.
A Revolução de 1817 e a Praça 1817
A Revolução de 1817 foi um evento marcante na história da Paraíba, demonstrando o desejo de autonomia das províncias em relação à centralização do poder no Rio de Janeiro. Emílio detalha: “O movimento, que começou em Pernambuco e se espalhou para a Paraíba e outras regiões, visava a independência da colônia. A repressão severa, que incluiu a execução pública de líderes como Amaro Gomes Coutinho, José Francis da Silveira e José Peregrino Xavier de Carvalho, foi uma forma brutal de manter o controle”. Essas execuções ocorreram em locais estratégicos, como o Porto do Capim e a antiga Igreja de Bom Jesus dos Martírios. “O movimento de 1817, apesar de não ter conseguido a independência, é lembrado pela sua luta e pelas duras represálias que sofreu”, conclui Emílio.
Com essas histórias e contextos, João Pessoa celebra seu aniversário reafirmando seu compromisso com a preservação e a valorização da história local. Cada ponto histórico revela uma parte vital da identidade da cidade, desde suas transformações urbanas até suas ricas tradições culturais.
Fredrikstad
Em 1634, a cidade de João Pessoa foi tomada pelos holandeses, que a renomearam para Frederichstadt. No entanto, antes da ocupação holandesa, a capital paraibana tinha sido batizada pelos colonizadores como Cidade Real de Nossa Senhora das Neves, em homenagem à santa padroeira da cidade. A fundação da cidade ocorreu às margens do rio Sanhauá, um importante afluente do rio Paraíba, que desempenhou um papel crucial no desenvolvimento inicial da região. Este período de ocupação e as mudanças de nome refletem a rica e complexa história de João Pessoa, marcada por influências diversas ao longo dos séculos.
A primeira rua da Paraíba
A Rua Nova, atualmente denominada Rua General Osório, é a mais antiga de João Pessoa e foi a primeira a ser urbanisticamente planejada pelos colonizadores, tendo sido originalmente chamada Marquês do Herval. No entanto, alguns historiadores consideram que a Ladeira de São Francisco pode ter sido a primeira rua ordenada. Na fundação da cidade de Felipéia de Nossa Senhora das Neves, a região era habitada por indígenas que viviam em malocas e utilizavam veredas e trilhas em vez de ruas ou estradas. O Ouvidor-Geral, ao subir a colina, determinou a construção de uma ermida e proclamou: “aqui será a primeira rua”, o que levou à edificação da Casa da Câmara, da Cadeia e do Açougue.