O pai da menina Aisha Vitória, de 8 anos, morta após ser estuprada e estrangulada por um vizinho no bairro de Pernambués, em Salvador, contou nesta quarta-feira (24) que questionou o suspeito sobre a motivação do crime e recebeu como resposta que o homem teve vontade de matar a vítima.
“Perguntei: Por que você fez isso com minha filha? E ele disse: ‘Porque eu tive vontade de matar’. Aí os policiais mandaram eu me afastar”, contou Rogério Silva, pai da menina.
Joseilton Souza da Silva, de 43 anos, foi preso em flagrante na terça-feira (23), horas depois do corpo ter sido encontrado sobre sacos de materiais de construção na Travessa São Jorge, a cerca de 30 metros da residência onde ela vivia com os pais e os irmãos.
“Esse cara foi tão frio, que viu toda movimentação e esperou o momento da fraqueza de todos da rua para pegar o corpo dentro da casa dele e colocar na rua. Ele não demonstrou arrependimento. Foi frio”, lamentou.
Segundo a polícia, em depoimento, Joseilton confessou ter violentado sexualmente e assassinado Aisha Vitória por asfixia, na casa onde ele morava, perto da moradia da vítima. Ele segue preso e passará por audiência de custódia na manhã de quinta-feira (25).
O corpo de Aisha Vitória foi sepultado sob forte comoção de familiares e amigos e pedidos de justiça, no fim da manhã desta quarta, no Cemitério da Ordem Terceira do Carmo. A mãe dela passou mal e precisou de suporte de uma equipe do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) no local.
No mesmo horário da despedida, moradores de Pernambués fizeram um protesto na Avenida Paralela, uma das mais movimentadas da capital baiana. Na terça-feira (23), um grupo já havia feito uma manifestação no mesmo trecho, e queimou pertences de Joseilton para bloquear o trânsito.
Premeditação
Conforme a Polícia Civil, Joseilton confessou que a ação foi planejada. Ele detalhou que ter mudado para a localidade há quatro meses e disse que “sempre observava a criança” quando ela passava a caminho da escola ou quando saía para brincar com outros vizinhos.
O registro do depoimento indica que ele, “premeditadamente, decidiu faltar ao trabalho, posto que já pretendia atrair a vítima para sua casa”.
“A confissão por si só precisa ser confrontada com os outros elementos de prova. Não é a toa que vários outros exames complementares foram solicitados, um dos quais o encaminhamento do perfil genético dele para o Banco Nacional”, explicou a diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, delegada Andreia Ribeiro.
A Polícia Civil da Bahia solicitou à Justiça a autorização para que o material genético do investigado seja incluído no Banco Nacional de Perfis Genéticos. A partir dessa inclusão, vai ser possível identificar se ele cometeu outros crimes deste tipo.
“É possível que esse indivíduo possa estar envolvido com outros crimes da mesma natureza, não só na Bahia, mas em outros estados”, pontuou Andreia. Ainda não há um prazo para que a polícia receba resposta sobre o pedido.
Em 2015, ele passou pouco mais de uma semana na cadeia, após ter sido preso em flagrante por tentativa de abuso sexual contra outra criança. O caso ocorreu em São Gonçalo dos Campos, onde ele morava na época do ocorrido.
Cronologia do crime, segundo a confissão do suspeito
16h30 de segunda-feira (22) – Joseilton aproveitou que Aisha brincava sozinha para chamá-la até a casa dele. Como a menina não aceitou, ele “tapou a boca” dela e a puxou à força.
Dentro do imóvel, usou uma boneca furtada de outra criança para acalmar a menina e evitar que ela gritasse por socorro. Depois disso, ele abusou sexualmente da criança e a estrangulou “para que ela perdesse a consciência”.
18h – Ele disse que, nesse horário, a criança ainda estava viva, porém desacordada, e notou familiares e vizinhos procurando por ela.
19h – Decidiu matar a menina por entender que, se a libertasse, “seria descoberto”.
Joseilton a estrangulou até a morte e, ao longo da noite, limpou vestígios do crime e planejou como abandonar o corpo.
3h30 de terça-feira (23) – Ao perceber que as buscas tinham sido interrompidas, saiu e deixou o corpo em um beco, em cima de sacos de materiais de construção, próximo à rua onde mora.
De volta à residência, percebeu que se esqueceu de pegar os chinelos da garota e os atirou no telhado da vizinha para ocultar provas. Fez o mesmo com a boneca, escondendo-a atrás da geladeira.
Em seguida, tomou banho e dormiu no mesmo colchão em a garota foi morta.
Pela manhã, acordou com gritos dos pais de Aisha, no momento em que encontraram o corpo dela.
Reincidência
Joseilton trabalhava em uma empresa de construções. Ele revelou à polícia que “tem o hábito de ‘brincar’ com crianças, principalmente do sexo masculino.
Em 2015, chegou a ser preso em flagrante após tentar abusar sexualmente de outra criança. Conforme relato do suspeito, isso ocorreu quando ele invadiu uma casa em São Gonçalo dos Campos, a cerca de 130 km de Salvador, para roubar um celular. O abuso só não teria sido concretizado porque o pai das crianças teria chegado ao local e chamado a polícia.
Apesar da confissão, no depoimento prestado na terça-feira ele foi debochado e disse que “sequer responde a processo criminal”. A Polícia Civil confirmou ao g1 que o homem foi solto dias após a prisão, mas não detalhou o motivo.
Fonte: G1