Um menino de 13 anos morreu uma semana depois de dois colegas pularem sobre as costas dele dentro de uma escola estadual em Praia Grande, no litoral de São Paulo. O pai de Carlos Teixeira afirmou que o filho era saudável e acredita que a morte aconteceu em decorrência da agressão sofrida. Segundo apurado pelo g1, o caso foi registrado na Polícia Civil e a causa da morte ainda está sendo investigada.
“A gente leva a criança para escola achando que a criança vai estudar, que vai estar segura e, ao final, olha o que acontece”, lamentou o pai de Carlos, Julisses Fleming, de 42 anos, que trabalha como porteiro e manobrista.
Os dois meninos que teriam pulado sobre Carlos estudavam com ele no 6º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Professor Júlio Pardo Couto, conforme apurado pela equipe de reportagem.
A agressão aconteceu no último dia 9 de abril e, segundo o pai, no mesmo dia o adolescente reclamou de dores nas costas e falta de ar.
Julisses disse que levou o filho à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Praia Grande ao menos três vezes na semana, onde o filho era medicado e, em seguida, liberado.
Os sintomas do adolescente se intensificaram na segunda-feira (15) e o pai decidiu levá-lo à UPA Central de Santos (SP), onde ele precisou ser internado e entubado. Na terça-feira (16), ele foi transferido para Santa Casa de Santos e morreu após três paradas cardiorrespiratórias.
Bullying
De acordo com o Julisses, o filho relatou que estava de costas para a dupla conversando com um outro colega. Neste momento, os adolescentes teriam pulado em cima dele. “Eles não estavam conversando e brincando [entre eles]”.
O pai acrescentou que Carlos sofria bullying e, inclusive, já havia sido agredido por outros alunos anteriormente. “Me sinto acabado e destruído […]. O meu filho estava sofrendo bullying. O meu menino estava em estado de pânico o tempo todo”.
Secretaria de Educação
A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) afirmou ao g1 que lamenta profundamente a morte do estudante. De acordo com a pasta, a Diretoria de Ensino de São Vicente instaurou uma apuração preliminar interna e colabora com as autoridades nas investigações.
A Prefeitura de Praia Grande disse que lamenta profundamente a ocorrência com um aluno da Escola Estadual Júlio Pardo Couto, no Bairro Nova Mirim. A administração municipal se solidariza com os familiares e amigos do jovem.
A Prefeitura solicitou junto a secretaria de Estado uma apuração completa dos fatos, já que a unidade de ensino é estadual e explica ainda que também já está analisando todos os procedimentos adotados no atendimento efetuado no pronto-socorro da Cidade.
Causa da morte
Julisses afirmou que os médicos disseram que a suspeita era de que a causa da morte seria uma infecção no pulmão. Em nota, a Santa Casa de Santos confirmou a transferência da UPA Central, mas disse não ter autorização para dar mais informações sobre o caso.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) afirmou que o caso foi registrado como morte suspeita e é investigado pelo 1º Distrito Policial (DP) de Praia Grande. Conforme apurado pelo g1, o corpo de Carlos passará por necropsia — procedimento médico que examina a causa da morte.
Especialistas
A pedido do g1, os médicos clínicos Carlos Machado e Marcelo Bechara analisaram o caso com base nas próprias experiências profissionais e nas informações passadas pela equipe de reportagem. Ambos afirmaram que o excesso de peso nas costas pode ter levado a um trauma — lesões causadas por um evento traumático externo ao corpo e que acontece de forma inesperada.
De acordo com Carlos Machado, o trauma pode ter sido uma fratura ou esmagamento da vértebra na coluna cervical, torácica e até na costela.
“Se ele estiver com uma dessas lesões, […] podia estar furando o pulmão, o que dificulta a respiração e, respirando menos, faz com que tenha secreção acumulada, que é uma infecção pulmonar”, afirmou o profissional.
Marcelo Bechara acrescentou que, pelo mesmo motivo, ocorre uma parada cardiorrespiratória. “O excesso de peso nas costas podem ter levado a um trauma que pode levar a um pneumotórax […], [quando] o pulmão não consegue ventilar e uma hora chega a parada cardíaca mesmo”, disse ele.
A Prefeitura de Praia Grande foi questionada sobre os atendimentos prestados a Carlos na UPA, mas a administração municipal respondeu apenas que não foram encontrados registros de ocorrência por parte da Guarda Civil Municipal (GCM).
Fonte: G1 Santos