O Botafogo cumpre roteiro inédito nas edições de pontos corridos do Campeonato Brasileiro. De líder absoluto e campeão do primeiro turno com direito a melhor campanha da história, além de vantagem de 13 pontos, o time caiu de produção e corre sérios riscos de não erguer a taça. E, ainda, luta para conquistar a vaga direta na fase grupos da Libertadores 2024.
Emocionado, Tiquinho leva aos mãos ao rosto após converter pênalti — Foto: Reprodução
São nove jogos sem vencer e uma oscilação inesperada para o ex-líder. Viradas e empates no “apagar das luzes”, além de queda brusca na atuação que encantou durante boa parte do primeiro turno, combinada a quatro trocas de treinadores, fazem jogadores, comissão técnica e torcedores viverem uma espécie de “luto”, conforme explica a psicóloga Helena Lima.
Me parece que aquela euforia do primeiro turno, uma ascensão meteórica, deixou uma pressão muito grande para os jogadores. Essa ascensão meteórica trouxe a sensação de ‘já ganhou’. O pai ‘já ganhou’ e a mãe ‘ansiedade’ pressionaram demais. Não é só a tristeza que deixa a gente estressado, a euforia também. E ela começa a reativar a pressão dos 28 sem títulos e remexer no baú que pressiona demais. Dissolve o espírito de time, cada um querendo ser o salvador. Você vê chutes, com cada um querendo ser herói, e perde a possibilidade de contar com o outro – disse Helena, que é mestre em psicologia social e doutora em saúde pública.
Exemplo das emoções abaladas foram alguns retratos dos dois últimos jogos. Contra o Coritiba, em jogo morno e reta final de pressão por vitória, Tiquinho Soares se emocionou depois de marcar o gol do Botafogo e foi muito abraçado pelos companheiros. Ele levou as mãos ao rosto como forma de alívio.
Um pouco antes da cobrança de pênalti do camisa 9, Adryelson se ajoelhou voltado para o banco de reservas, cabisbaixo, demonstrando tensão em mais momento de emoções afloradas do clube.
Foi sensacional a campanha do Botafogo, mas esse perde e ganha é um ‘luto antecipatório’. Não perdeu, não ganhou, mas está perdendo a liderança e a animação. E o time está sofrendo um luto porque perderam a imagem da ascensão meteórica, de ganhadores.
— Psicóloga Helena Lima
Adryelson se ajoelha ao lado de Tiago Nunes em pênalti de Tiquinho — Foto: Reprodução
Mais do que esses recortes curtos em imagens do jogo, o Botafogo em campo estava nitidamente nervoso, com uma série de decisões erradas: passes, lançamentos, finalizações e faltas. O meia Eduardo foi expulso por uma falta forte, e um pouco antes Tiquinho recebeu cartão amarelo por puxar o companheiro – ação atípica do artilheiro.
– É tanta pressão que a questão tática e técnica começa a ser afetada. No primeiro turno, estava com o título na mão, e agora vê ele se esvair pelos dedos. O ‘tenho que fazer” é um carimbo de impotência – comenta Helena.
No penúltimo empate com o Santos, os meio-campistas Danilo Barbosa e Gabriel Pires também demonstraram indigação e tristeza por deixar escapar mais uma vitória. Gabriel, inclusive, saiu chutando uma lixeira logo ao término do jogo.
Globo Esporte