Um estudante de enfermagem de 23 anos denunciou à Polícia Civil que um pai de santo, de 52, passou HIV de propósito para ele em Anápolis, a 55 km de Goiânia. Advogada do jovem, Jéssica Victória Souza disse que o rapaz manteve relações por cinco meses com o suspeito, sem saber que ele vive com o vírus.
“Existem diversos indícios que ele passou de propósito. Dentre eles, o fato de que o suspeito omitiu o estado de saúde à vítima, que é uma pessoa muito mais jovem, e vulnerável em virtude de uma série de condições psicológicas das quais ele [o suspeito] tinha conhecimento”, disse a advogada.
O g1 tentou contato com a defesa do suspeito e aguarda um posicionamento até a última atualização desta reportagem.
Por conta da condição psicológica, a vítima disse à polícia que se sentiu manipulada. O jovem falou que contestou a falta de preservativo nas relações, mas o suspeito o convenceu a não usar porque não teria outros parceiros. No entanto, a defesa do rapaz mostrou o contrário.
“O suspeito era casado com uma pessoa, namorava outra e a vítima. A vítima foi informada, em conversa com o companheiro do acusado, sobre a necessidade de fazer exames. Ao se dirigir ao posto de saúde, pôde confirmar que estava infectado”, detalhou a advogada.
Segundo a advogada, o jovem não sabia que o suspeito tinha outros companheiros e um deles que o procurou porque viu conversas de teor sexual entre eles. O jovem descobriu que está com HIV na última segunda-feira (30) e registrou o caso na PC.
“Ele mantinha uma relação de muita confiança com o suspeito, que conhece desde 2018. Não tinha o hábito de manter relações sexuais sem uso de preservativo e não se relacionou com outra pessoa enquanto estava com o suspeito”, frisou Jéssica.
Abalado, o jovem está fazendo acompanhamento psicológico, psiquiátrico e providenciando a medicação para tratar o vírus.
“Ele não está bem. Tem crises de choro sucessivas, mas tem se mantido firme e ficado mais forte com a ideia de que a justiça será feita”, explicou a advogada.
À polícia, a vítima também denunciou o suspeito por ameça, porque ele teria utilizado elementos religiosos para causar medo e coagi-lo a apagar mensagens porque não queria que o relacionamento fosse a público.
O caso foi registrado inicialmente como lesão corporal de natureza grave que se resulta em enfermidade incurável e ameaça. O g1 não conseguiu informações sobre a investigação até a última atualização desta reportagem.
O g1 não conseguiu contato com os outros companheiros do suspeito até a última atualização desta reportagem.
Fuceg
Em nota, Carmen Silva Waldemar Pinto, vice-presidente da Federação de Umbanda e Candomblé do Estado de Goiás (Fuceg), disse que se trata de um caso isolado e que o julgamento compete às autoridades competentes. Carmen explicou também que o suspeito não faz parte da Fuceg.
“A federação existe, mas a pessoa pode optar por não fazer parte dela. A federação existe para dar suporte. Funciona como uma espécie de plano de saúde, você opta por ter ele ou não. Ele não faz parte, mas é acolhido pela federação também”, explicou.
Após ataques nas redes sociais por conta da divulgação do caso, Carmen disse que repudia qualquer discriminação e intolerância religiosa (leia nota completa no fim da reportagem).
Nota Fuceg
Eu, como vice-presidente da Federação de Umbanda e Candomblé do Estado de Goiás e também presidente da Associação de Zeladores de Anápolis, venho repudiar os ataques discriminatórios que estamos sofrendo nas redes sociais. Este caso em questão é um caso isolado que compete às autoridades competentes julgar. Nós repudiamos qualquer ataque de intolerância religiosa. Até as investigações serem feitas, não podemos jugar, muito menos um seguimento religioso que não tem nada a ver com o acontecido. Deixo aqui a minha indignação com estes ataques e vamos tomar as providências cabíveis. Agradeço pela oportunidade de expressão.
G1