Primeiro da família a entrar na universidade, ex-aluno de escola pública dá dicas gratuitas de estudos para o Enem

Felipe Araújo terminou o ensino médio sem saber fazer uma conta de divisão. Partiu em busca de emprego, mas não conseguiu. Foi aí que o jovem, que hoje tem 25 anos, resolveu estudar sozinho, em casa, para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Com seis meses de dedicação, foi aprovado no curso de odontologia e se tornou o primeiro membro da família a conquistar uma vaga na universidade. Agora, o estudante inspira e ensina a milhares de pessoas com as dicas gratuitas de preparação que publica na internet.

“Eu fui procurar emprego [quando terminou o ensino médio] em qualquer área. Se fosse pra varrer a rua, eu varria. E acho que foi Deus mesmo, eu tinha um currículo bom porque tinha ensino técnico. Mas não consegui emprego de jeito nenhum. Então resolvei estudar”, lembrou.

A educação, para Felipe e toda família dele, era algo distante. A violência do bairro de periferia onde morava em Campina Grande, no Agreste da Paraíba, também estava presente na rotina das salas de aula. “Muitos professores tinham medo e não iam dar aula”, reforçou.

Depois do ensino médio e sem trabalho, o jovem não tinha dinheiro para pagar um cursinho preparatório para o Enem. A saída foi estudar em casa, mesmo sem tantos recursos. O celular e o sinal de internet foram os parceiros na maior parte da jornada de estudos.

Felipe Araújo na USP, onde faz mestrado em odontologia — Foto: Felipe Araújo/Arquivo pessoal

O barulho causado pelos paredões de som em volume máximo, que passavam horas estacionados nas ruas, faziam com que estudar durante o dia fosse algo impossível. O paraibano esperava a calmaria e o silêncio do fim da noite chegarem para começar a aprender algo novo e revisar o que já sabia.

“Esperava o pessoal dormir por volta das 23h. Virava a noite inteira até o outro dia pela manhã”, contou.

Foi com esse esforço que, alguns anos depois, Felipe conseguiu sair do aluguel. A educação fez com que a vida dele se transformasse em praticamente todos os aspectos.

“Sempre morei com a minha família. A minha casa sempre teve sete, oito pessoas. Antes de tudo isso, eu morava em uma casa que tinha um quarto pra oito pessoas. Então, era uma realidade muito dura, muito difícil. A educação mudou a minha vida e da minha família”, pontuou.

Jovem desenvolveu dois métodos para ajudar nos estudos para o Enem

Foi estudando em casa, que Felipe desenvolveu os próprios métodos que facilitaram o caminho até a aprovação na universidade. Hoje, ele ensina essas estratégias de forma gratuita para outros estudantes.

O primeiro método é um cronograma que faz com que o estudante entenda o conteúdo de forma progressiva. Esse documento tem aproximadamente 2 milhões de downloads.

O segundo é um modelo de redação, que faz com que o participante não precise construir um texto do zero na hora da prova. O jovem ensina a como montar uma estrutura com base nas competências de avaliação cobradas no exame, que será adequada conforme o tema proposto na prova de produção textual.

Estudante fez odontologia e também passou em mestrado na USP

A escolha de qual curso superior queria estudar foi confusa para Felipe.

“Eu nem sabia o que se fazia em uma universidade”, revelou.

No começo, o jovem pensou que tinha afinidade com administração e direito. Porém, depois de assistir a vlogs na internet, percebeu que essas opções não eram para ele e resolveu cursar odontologia. Os seis meses de estudos na madrugada resultaram na aprovação dele na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

Atualmente, o estudante está matriculado no mestrado, também na área de odontologia, da Universidade de São Paulo (USP).

Viralizou no Youtube

Felipe não guardou todo o aprendizado que ele adquiriu durante a preparação para o Enem. Assim que soube da aprovação em odontologia, ele gravou e publicou um vídeo no Youtube, em 2018, contando que passou no curso dos sonhos estudando em casa.

Esse vídeo viralizou em apenas 24 horas. Muitos outros estudantes começam a perguntar para ele coisas específicas desse período de estudos. Foi respondendo a esses questionamentos que a função youtuber engrenou.

Pouco mais de cinco anos depois, ele continua firme na missão de compartilhar conhecimento.

“A principal contribuição que eu posso dar é mostrar que eu vim de uma realidade parecida. Os alunos que me seguem são como eu era na época que tava estudando. O conteúdo que eu faço é gratuito. E, com isso, mostro que é possível ser aprovado em qualquer curso no Brasil estudando pelo Youtube, sem pagar”, concluiu.

G1