O padre Egídio de Carvalho, ex-diretor do Hospital Padre Zé e investigado por suposto desvio de verbas da instituição, se apresentou nesta sexta-feira (6) na sede do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), em João Pessoa. Segundo a defesa, o padre também entregou o próprio celular, mas não prestou depoimento, apenas se colocou à disposição para esclarecer os fatos.
O advogado afirmou que o padre não prestou depoimento porque não comunicou previamente às autoridades e que ainda aguarda que uma data seja marcada para dar explicações. A defesa também quer ter acesso completo ao material produzido durante as investigações.
“Ele compareceu, ele próprio, para dizer: ‘estou aqui, quero contribuir’. Os fatos que estão sendo apurados são graves e queremos ter acesso a todo o procedimento”, afirmou o advogado Sheyner Asfora, que representa o padre na investigação.
Questionado se o padre era proprietário dos imóveis que foram alvo da Operação Indignus, deflagrada nesta quinta-feira (5), entre eles uma granja na cidade do Conde e apartamentos na orla de João Pessoa , o advogado afirmou apenas que “essa questão ainda está pendente de esclarecimento e que ele vai esclarecer de forma oficial, perante a autoridade competente”.
A defesa também afirmou que os mais de cem aparelhos celulares estavam na sala do padre antes do furto, mas quando ele percebeu o crime, denunciou de forma imediata. O furto dos celulares foi o ponto de partida para a investigação.
Entenda a Operação Indignus
Uma operação conjunta deflagrada para investigar um suposto esquema de desvio de verbas do Hospital Padre Zé, em João Pessoa, foi deflagrada na quinta-feira (5) e cumpriu 11 mandados de busca. O principal alvo da investigação é o padre Egídio de Carvalho, ex-diretor do hospital.
Padre Egídio de Carvalho Neto, ex-diretor do Hospital Padre Zé — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução
A investigação aponta uma ‘confusão’ entre os patrimônios da entidade e do padre. E apura, entre outras coisas, a aquisição de imóveis de alto padrão por parte do religioso, com recursos do hospital.
A operação ‘Indignus’ contou com a participação do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado do Ministério Público do Estado da Paraíba (Gaeco/MPPB), da Polícia Civil, da Secretaria de Estado da Segurança e da Defesa Social (SEDS), da Secretaria de Estado da Fazenda da Paraíba (Sefaz) e da Controladoria-Geral do Estado da Paraíba (CGE).
“Fora as circunstâncias que envolvem corrupção, a gente tem outras circunstâncias que envolvem coisas muito mais graves. É necessário que a gente tenha essa ideia e que a gente consiga ter elementos para filtrar aquelas pessoas que de fato se preocupam com os miseráveis e excluídos, e aquelas outras que usam essas pessoas como instrumento de manobra para suas ganâncias e questões de escala monetária”, afirmou o promotor Octávio Paulo Neto, coordenador do Gaeco.
O que a operação investiga?
Hospital Padre Zé, em João Pessoa — Foto: Hospital Padre Zé/Divulgação
As investigações do caso descrevem possíveis desvios de recursos públicos destinados a fins específicos na gestão do padre Egídio no Hospital Padre Zé, em João Pessoa. As irregularidades também ocorriam no Instituto São José, entidade mantenedora do hospital, e na Ação Social Arquidiocesana (ASA), que também tinham Egídio como responsável.
A investigação aponta para uma absoluta e completa confusão patrimonial entre bens e valores de propriedade das entidades com os bens do padre Egídio. Destaca também uma considerável relação de imóveis atribuídos, aparentemente sem forma lícita de custeio, quase todos de elevado padrão, adornados e reformados com produtos de excelentes marcas de valores agregados altos.
Segundo a investigação as condutas indicam a prática, em princípio, dos delitos de organização criminosa, lavagem de capitais, peculato e falsificação de documentos públicos e privados.
Quando começou a investigação?
Quando começou a investigação?
A operação ‘Indignus’ foi deflagrada na manhã desta quinta-feira, mas as irregularidades no Hospital Padre Zé começaram a ser investigadas quando mais de 100 aparelhos celulares foram furtados da instituição. Esse caso foi tornado público em 20 de setembro. A denúncia, no entanto, foi feita em agosto e imediatamente um inquérito policial foi aberto. Um suspeito, inclusive, chegou a ser preso, mas responde em liberdade e cumpre medidas cautelares.
Padre Egídio deixou a direção do hospital logo após a denúncia sobre o furto de celulares. Os celulares foram doados pela Receita Federal, oriundos de apreensões, e seriam vendidos em um bazar solidário para comprar uma ambulância com UTI e um carro para distribuição de alimentos para pessoas em situação de vulnerabilidade.
No desenrolar das investigações do furto, a Arquidiocese da Paraíba anunciou que estava afastando o padre Egídio de qualquer ofício ou encargo eclesiástico. Na prática, ele fica proibido de ministrar missas ou qualquer outro sacramento da igreja.
Após o furto dos celulares, uma denúncia anônima foi apresentada ao Ministério Público da Paraíba apontado uma série de irregularidades na gestão do padre Egídio.
Na terça, 3 de outubro, uma força-tarefa composta por órgãos públicos da Paraíba foi formada para investigar irregularidades no Hospital Padre Zé.
O Hospital Padre Zé, em João Pessoa, afirmou que constatou inúmeras dívidas que comprometem sua funcionalidade após avaliar a situação operacional, funcional, contábil e financeira da instituição. A gestão disse que a primeira providência foi solicitar ao Ministério Público da Paraíba uma ampla auditoria em todas as contas, contratos, convênios e projetos do hospital.
G1