O delegado da Polícia Civil, Elcenho Engel, que foi preso na manhã desta sexta-feira (4), em Patos, no Sertão da Paraíba, é suspeito de praticar crime de peculato e prevaricação. Segundo as investigações da própria instituição, além de desviar recursos oriundos do pagamento de fianças, ele também vai ser investigado por retardar a tramitação de inquéritos. A suspeita é de que as irregularidades tenham sido praticadas nos últimos oito anos.
Em entrevista coletiva realizada nesta sexta, o delegado da seccional da cidade de Patos, um dos responsáveis pela investigação dos crimes, Paulo Ênio, deu mais detalhes sobre como a dinâmica do desvio de recursos de fianças teriam acontecido.
“Havia a lavratura de prisões em flagrante na Central de Polícia em Patos e a cobrança de um determinado valor pela fiança. Esses valores não eram recolhidos, sendo recolhidos somente depois da Justiça identificar isso e cobrar por diversas vezes. Nós da seccional também oficiávamos para fazer o recolhimento. Alguns recolhimentos aconteceram, fora do prazo legal, e outros não foram realizados”, explicou Paulo Ênio.
Delegado Elcenho Engel foi preso pela Polícia Civil, em Patos, no Sertão paraibano — Foto: Instagram/Reprodução
Também em entrevista, foi informado que Elcenho Engel, antes de ser transferido para a delegacia de Teixeira, era responsável pela unidade de Roubos e Furtos de Patos.
Além do crime de peculato, que teria sido cometido pelo delegado, também é investigado a possibilidade do cometimento de prevaricação, isso porque o suspeito teria retardado a distribuição de inquéritos policiais vinculados à prisões em flagrante, com o intuito de ocultar a apropriação do dinheiro recebido como fiança policial. A suspeita é de que ele tenha praticado esses crimes pelos últimos oito anos. Ainda não há um balanço sobre o valor total dos desvios.
Segundo a polícia, a implantação do Processo Judicial Eletrônico (PJe), em meados de 2020, foi fundamental para revelar as atividades ilícitas do servidor policial preso nesta manhã.
Inquéritos policiais e uma pistola na casa do delegado
Pistola de uso restrito foi encontrada na casa de policial preso por suspeita de peculato — Foto: TV Sol
O responsável pelas investigações, Paulo Ênio, também informou na entrevista coletiva, que após buscas na casa do suspeito nesta sexta, vários inquéritos policiais foram encontrados, inclusive de unidades de outros municípios em que o delegado não era titular. Os nomes dessas cidades não foram revelados.
“Havia muitos inquéritos policiais (na casa do suspeito). O que surpreendeu a polícia foi que eram inquéritos policiais de outras unidades que não de titularidade do delegado, de delegacias anteriores, a exemplo da delegacia de Roubos e Furtos de Patos”, explicou o delegado Paulo Ênio, da seccional do município.
Também conforme Paulo Ênio, a investigação a partir de agora vai tentar entender a procedência dos inquéritos encontrados. Segundo o delegado, os inquéritos deveriam estar no próprio Pje da polícia ou ainda no cartório da delegacia.
Além dos inquéritos encontrados na casa do delegado Elcenho Engel, a polícia apreendeu uma pistola de calibre que não foi identificado. A arma é considerada de uso restrito, sem registro, o que caracterizou a prisão em flagrante por posse ilegal de arma de fogo.
Versão da defesa
Corsino Neto é um dos advogados do policial civil investigado por crime de peculato — Foto: TV Sol
Um dos advogados do delegado investigado, Corsino Neto, disse achar “superficial e estranha” a decisão de prisão preventiva expedida pela 6ª Vara da Comarca de Patos. Segundo ele, os advogados não obtiveram acesso aos autos do processo de investigação.
Em relação aos inquéritos encontrados na casa do delegado após buscas da polícia, Corsino Neto disse que não há proibição do inquérito policial “ser trabalhado em casa”. Segundo ele, atualmente, é possível trabalhar de forma remota.
“Hoje é possível você fazer o teletrabalho, você levar para trabalhar em casa, ao contrário de se dizer que isso é algo negativo, quando você leva trabalho para casa é bom. Trabalho em casa é sinal de empenho. Isso era pra ser gratificado e não condenado e combatido”, ressaltou a defesa.
“Trabalhar em casa não é crime. Quem quer desfazer-se de algum material não leva pra casa, se desfaz. Leva para casa para trabalhar”, disse.
A corregedoria da Polícia Civil que acompanha os procedimentos que são feitos com servidores da instituição, como aconteceu nesta sexta-feira, disse que acompanhou o caso e que tudo vai ser analisado para saber qual procedimento administrativo vai ser tomado.
Redação com G1