Vestígios indígenas foram encontrados no sítio Boa Fé, na zona rural de Cachoeira dos Índios, no Sertão da Paraíba. Este é o primeiro sítio arqueológico do município e atesta a presença ancestral que dá nome à cidade e foi descoberto a partir de um projeto feito com alunos de uma escola municipal.
De acordo com o professor e arqueólogo Juvandi Santos, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), responsável pelo trabalho de catalogação do material, os vestígios são de origens Tupi e possuem entre 600 e 800 anos.
No entanto, ainda não há informações sobre a quantidade de peças encontradas porque o projeto aguarda uma autorização do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para iniciar um trabalho detalhado no local, incluindo escavações.
A descoberta comprova, cada vez mais, a presença desses indígenas no Sertão da Paraíba, além do Litoral. Segundo o professor Juvandi Santos, há duas hipóteses sobre como os indígenas Tupi chegaram ao Sertão da Paraíba.
“Ainda não sabemos de onde os Tupi vieram. Temos 2 hipóteses: 1. Do litoral da Paraíba ou Rio Grande do Norte; 2. Do sertão do Ceará, lá ja esta confirmada a presença Tupi”, disse.
Escavações devem ser feitas em local onde vestígios Tupi foram encontrados, na PB — Foto: Juvandi Santos/Arquivo pessoal
Como a descoberta foi feita
Expedição em busca do sítio arqueológico — Foto: Djalma Dantas/Arquivo pessoal
A descoberta dos vestígios foi feita pelo professor Djalma Dantas, que é mestrando em história pela Universidade Regional do Cariri (Urca). Ele tem um projeto de história oral com alunos de uma escola municipal em Cachoeira dos Índios, a E.M.E.I. F Maria Cândido de Oliveira, o projeto Akangatu, que quer dizer memória em tupi Guarani. Djalma ficou sabendo da possibilidade de vestígios indígenas por meio de relatos de moradores.
Em 2020, a partir de objetos de tecelagem encontrados por um agricultor local, Djalma e o professor Odair Dantas, que também vive na cidade, começaram um diálogo com o proprietário das terras para que a busca por outros vestígios fosse realizada.
Três anos depois, em 2023, após esse diálogo, o professor Juvandi Santos, da UEPB, que é credenciado ao Iphan e, portanto, pode fazer a catalogação dos itens foi até o local para as buscas.
“Quando tomei conhecimento dos primeiros relatos de vestígios indígenas, percebi que era possível encontrar vestígios que legitimassem o topônimo da cidade, ainda mais se a descoberta pudesse ser feita com a participação de alunos da educação básica. Como toda pesquisa, passamos a buscar informações e chegamos ao sitio Boa Fé, era um domingo de calor forte característico do lugar, depois de uma prospecção encontramos as peças de cerâmica”.
Expedição em busca do sítio arqueológico foi feita com participação de alunos da rede municipal — Foto: Djalma Santos/Arquivo pessoal
Odair Dantas disse que há a possibilidade de no local ser um cemitério indígena, mas que é bem evidente que naquele local já existiu um aldeamento.
“Fomos até o local, dentro do mato, e depois de certo tempo, fomos encontrando pedaços de cerâmica indígena. Foi enviado para o laboratório da UEPB de Campina Grande e foi comprovado que era dos índios Tupi”, conta Odair.
O professor Djalma Dantas relatou o momento de emoção dos alunos com a descoberta. “Ver o brilho nos olhos dos discentes que naquele momento participaram de um dia histórico para sua cidade foi de uma emoção inexplicável”.
O projeto, que faz parte da pesquisa de mestrado do professor, deve virar um livro didático para a rede pública local. “Quando comecei o trabalho de estudos do Akangatu (memória em tupi Guarani), com os alunos da Escola Maria Candido, sabia que a memória seria uma fonte histórica importante para o Ensino de História em especial do lugar, pois pouco ou quase nada se estuda sobre o município no espaço escolar. Então muito se questionava sobre o nome da cidade ser Cachoeira dos Índios, pois segundo a cresça não se existia índios e nem cachoeiras”.
Indígenas no interior da Paraíba
Além da presença no interior da Paraíba dos indígenas Tarairús e Kariris, o professor Juvandi Santos explica que pesquisas vêm apontando outros grupos.
“Hoje já temos identificado 20 sitios arqueológicos no interior, com presenças Tupi e Aratu. Além dos Cariri e Tarairiu hoje temos que falar também da presença desses outros dois grupos”.