O general Gonçalves Dias, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), deixou, por volta das 13h30 desta sexta-feira (21), a sede da Polícia Federal (PF) em Brasília – onde prestou, por quase cinco horas, depoimento em um inquérito que apura os ataques golpistas às sedes dos Três Poderes.
Após o depoimento, o general declarou à TV Globo:
“O comparecimento na sede da Polícia Federal é, para mim, uma grande oportunidade de esclarecer os fatos que têm sido explorados na imprensa”, disse.
Dias também afirmou que não teve qualquer responsabilidade – nem por omissão nem por meio de uma ação sua – em relação ao que houve durante atos antidemocráticos de 8 de janeiro, quando as sedes dos três Poderes foram invadidas por golpistas.
“Confio na investigação e na Justiça, que apontarão que eu não tenho qualquer responsabilidade seja omissiva ou comissiva nos fatos do dia 8 de janeiro”, afirmou Dias.
O depoimento, que começou por volta das 9h, foi uma determinação do ministro Alexandre de Moraes, relator das investigações na Suprema Corte.
Na última quarta-feira (19), o então ministro pediu demissão após a divulgação de vídeos que mostram o general circulando entre invasores do Palácio do Planalto no dia dos atos golpistas de 8 de janeiro.
As imagens foram divulgadas pela CNN. Câmeras do circuito interno do Palácio do Planalto que filmaram os ataques do dia 8 de janeiro mostram o ministro abrindo uma porta próxima ao gabinete da presidência para os golpistas saírem.
O vídeo também mostra servidores do GSI cumprimentando e dando água para os vândalos. Em um primeiro momento, a emissora divulgou as imagens com os rostos borrados, alegando que optou por “não identificar os militares do Gabinete de Segurança Institucional”. Nesta quinta (20), divulgou as imagens limpas, sem borrar os rostos, e sem edição.
O que diz o ex-ministro
Em entrevista à TV Globo no dia da sua demissão, Gonçalves Dias afirmou que estava no Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro para retirar os invasores golpistas de lá.
“Eu entrei no Palácio [do Planalto] depois que o palácio foi invadido e estava retirando as pessoas do 3º e 4º piso, para que houvesse a prisão no 2º”, disse Dias, na entrevista.
Na entrevista, Gonçalves Dias afirma que sua imagem ao lado de manifestantes foi divulgada fora de contexto. “Fizeram um corte específico na produção, na produção dos vídeos que vocês olharam”, disse.
O ex-ministro afirmou que militares que aparecem ajudando manifestantes devem ser punidos. Ele citou especificamente um major que estava distribuindo água. “Quem tiver algum envolvimento, que seja punido. Inclusive aquele major. Aquilo é um desvio de atitude aqui de dentro”, declarou.
O major do Exército ao qual Dias se refere é José Eduardo Natale de Paula Pereira. Ele atuava como coordenador de segurança de instalações dos palácios presidenciais e estava trabalhando no Palácio do Planalto no domingo.
Na entrevista à TV Globo, Gonçalves Dias afirmou também que a ação do GSI visava a preservar o palácio da ação dos invasores.
“Ninguém fala, mas nós preservamos praticamente o terceiro piso todinho. O coração do Planalto, que é a sala do presidente, ela foi preservada. Toda a ala do gabinete pessoal foi preservada e o quarto piso foi preservado por completo desses invasores”, disse Dias.
Ministros criticam atuação de ex-colega
Ministros do governo Lula fizeram uma defesa pública do general Gonçalves Dias, dizendo não acreditar que ele tenha se envolvido nas invasões do dia 8 de janeiro nem apoiado os invasores.
No entanto, de acordo com o colunista do g1 Valdo Cruz, alguns ministros criticaram a postura do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional. Segundo eles, o general ficou do lado da “farda” e não enfrentou os invasores porque eles eram apoiados por militares bolsonaristas.
O problema, segundo relataram ministros ao blog do Valdo Cruz, é que o general era amigo de muitos militares que trabalharam com o general Augusto Heleno e, por erro de Gonçalves Dias, permaneceram em seus postos.
Fonte: G1