Nesta terça-feira (31), a França voltou a registrar grandes protestos quando frentes sindicais de diversas categorias convocaram uma nova greve geral contra a reforma da Previdência apresentada pelo governo de Emmanuel Macron, que pretende aumentar a idade mínima de aposentadoria dos 62 para os 64 anos. Os protestos de rua são o segundo ato convocado pelos sindicatos, que há duas semanas reuniram mais de 1 milhão de pessoas nas ruas das principais cidades do país.
Os serviços de inteligência da França esperam que cerca de 1,2 milhão de manifestantes saiam às ruas, nesta terça. O número é similar ao da primeira jornada de manifestações da semana passada.
Confirmaram adesão à paralisação trabalhadores dos transportes, do setor de energia, professores do ensino básico e até mesmo policiais e outros agentes da segurança pública. O funcionamento de ônibus, trens e bondes em cidades como Paris e Nice foram total ou parcialmente interrompidos. Já o serviço de trens de alta velocidade foi afetado “de forma significativa”, de acordo com operadoras ferroviárias. A Air France estimou que um em cada 10 voos de curta e média distância seria cancelado.
Metade dos professores do ensino público, da pré-escola ao ensino médio, não deve trabalhar, de acordo com os sindicatos que convocaram os protestos. Segundo o ministro do Interior, Gérald Darmanin, 11 mil policiais e gendarmes fiscalizarão os atos desta terça-feira – 4 mil deles apenas em Paris.
– A primeira-ministra [Élisabeth Borne] não pode continuar ignorando esta formidável mobilização que se criou: “Ouça o descontentamento que está sendo expresso em todos os lugares” – pediu Laurent Berger, líder da Confederação Francesa Democrática do Trabalho.
A declaração foi dada na segunda-feira (30). Berger é líder de uma das principais entidades sindicais da França.
Borne assegurou, no domingo (29), que o adiamento progressivo até 2030 da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos “não era mais negociável”, enfurecendo a oposição de esquerda, que pediu uma “moção popular de censura” nas ruas, onde foram convocadas 240 manifestações.
O novo dia de protesto pode aumentar a tensão na Assembleia Nacional, a Câmara Baixa do Parlamento francês, que iniciou na véspera a revisão da reforma e tem menos de uma semana para debater 7 mil emendas apresentadas ao projeto original, que deve ser levado ao plenário na segunda-feira.
O plano atual, apresentado pela primeira-ministra Élisabeth Borne no último dia 10, prevê, além do aumento da idade mínima de aposentadoria, o aumento do tempo mínimo de contribuição para aposentadoria integral (de 42 para 43 anos). Há dispositivos diferenciados para quem começou a trabalhar antes dos 20 anos e para aqueles que interromperam suas carreiras por motivo de saúde ou pessoais – como no caso de mulheres que ficaram períodos sem trabalhar para cuidar dos filhos.
Com a já anunciada rejeição da frente de esquerda e da extrema-direita, o governo espera o apoio do partido de direita Os Republicanos (LR), favorável a uma reforma, mas “dividido sobre a proposta atual”, afirmou o deputado Stéphane Viry um dia antes.
Sabendo que seus votos são fundamentais, os legisladores da LR aumentam suas exigências sobre a reforma em vários dos pontos mais impopulares: melhor consideração para mulheres sem carreira de trabalho contínua, para aquelas que começaram a trabalhar jovens, entre outros.
No entanto, o adiamento da aposentadoria para 64 anos e a antecipação para 2027 da exigência de contribuir por 43 anos – e não 42, como atualmente – para receber uma pensão completa provoca a oposição da opinião pública, que avança, apesar do esforço do governo para convencê-la do contrário.
Em Haia (Holanda), Emmanuel Macron, de 45 anos, voltou a defender na segunda-feira uma reforma “indispensável”; especialmente, quando a idade de aposentadoria na França é uma das menores da Europa, para “salvar” um sistema que, segundo o governo, enfrentaria um déficit no futuro.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) expressou seu apoio ao presidente francês na segunda-feira, manifestando-se a favor de uma reforma que, juntamente com a aprovada sobre o seguro-desemprego, permitiria à França reduzir a sua dívida pública, que supera 110% do PIB.