Fazer malabarismo para sobreviver com uma renda de menos de 30 reais por dia é a missão de 62 milhões de brasileiros. É o maior número de pobres desde o começo da série história do IBGE.
Entre 2020 e 2021, quase 6 milhões de pessoas atravessaram uma linha trágica: a da extrema pobreza. Estamos falando da população que vive com uma renda diária de apenas R$ 10. Os extremamente pobres se concentram nas regiões Nordeste e Norte do Brasil.
Para enfrentar a miséria, que se agravou na pandemia, o governo federal criou o Auxílio Brasil. Foi necessário aumentar o Teto de Gastos com a chamada PEC da Transição para garantir o pagamento de R$ 600 por mês, a partir de janeiro. A ex-ministra do Desenvolvimento e Combate à Fome Márcia Lopes diz que estavam previstos R$ 400, então era preciso um montante para atender o conjunto de 21 milhões de famílias no Brasil para que elas pudessem continuar recebendo os R$ 600.
Segundo ela, houve um corte drástico no orçamento previsto para o ano que vem destinado aos serviços de Assistência Social que atendem à população vulnerável.
“Cortou-se 96% do orçamento da Assistência Social, dos serviços que chegam diretamente à população, os CRAS, o CREAS, os centros de população de rua, os acolhimentos, o que deixa os municípios numa situação muito dramática”, afirma Márcia.
Aldaíza Sposati, professora de Seguridade Social da PUC de São Paulo diz que o atendimento à população pobre está garantido na Constituição de 88, que criou o SUAS, Sistema Único de Assistência Social. Mas a realidade é outra.
“O salário família para quem recebe até R$ 1600 por mês é R$ 56 por criança até 14 anos. Pergunto: como é que se sustenta criança com R$ 56 por mês?”, questiona Sposati.
A professora ressalta que não se discute qual é a política que se tem de apoio aos municípios para manter a atenção dessa população, quantas residências inclusivas faltam, quantos locais de atendimento à criança, quantas famílias acolhedoras poderiam estar acolhendo crianças para evitar a institucionalização e onde está a atenção à orfandade. Não se sabe nem quantos órfãos se tem no país, segundo ela.
Indiara perdeu a mãe para a covid-19 em um momento em que já enfrentava a dor do desemprego. Ela recorreu ao Auxílio Brasil e recebe R$ 400 por mês, por causa do desconto de um empréstimo.
“Para comer mistura aqui é duas vezes na semana, no máximo, geralmente é um ovo que a gente apela pro ovo”, desabafa a empregada doméstica.
Enquanto se vira para sobreviver, Indiara e tantos outros brasileiros esperam um futuro diferente, com mais oportunidade de emprego e um salário para poder pagar as contas em dia.