O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria, nesta segunda-feira (19), para declarar a inconstitucionalidade das indicações de despesas por deputados e senadores para o chamado orçamento secreto. O ministro Gilmar Mendes ainda está votando.
A sessão desta segunda-feira (19) começou às 10h com o voto do ministro Ricardo Lewandowski, que votou com a relatora para derrubar as emendas. Para o ministro, o Congresso buscou travar com a Corte um diálogo a partir das iniciativas dos presidentes do Congresso com esforços muito grandes.
“No entanto, quero adiantar, apesar dos esforços, o Congresso não conseguiu se adequar ao que exige a Suprema Corte no que tange aos parâmetros constitucionais que devem enquadrar as iniciativas processo orçamentação. Embora a nova resolução tenha representado grande avanço, a experiência legislativa revela que as normas não foram capazes de evitar a preponderância dos poderes não institucionais do relator do orçamento”, disse.
Seis ministros votaram para considerar o orçamento secreto inconstitucional. O voto de Rosa Weber, relatora das ações, foi acompanhado pelos ministros Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski.
Os ministros André Mendonça, Nunes Marques, Alexandre de Moraes e Dias Toffoli, embora não tenham concordado integralmente, avaliam que o mecanismo deve continuar válido, desde que passe a ter mais transparência e a seguir critérios de distribuição de recursos.
O orçamento secreto é alvo de críticas pela falta de transparência e por beneficiar somente alguns parlamentares. O destino dos recursos é definido em negociações entre parlamentares aliados e o governo. Justamente por isso, se tornou – durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) – moeda de troca entre o governo federal e o Congresso Nacional.
O julgamento tem impacto político na articulação pela aprovação no Congresso da Proposta de Emenda à Constituição que amplia o teto de gastos, além de seu resultado definir as relações entre os Poderes e indicar como será a governabilidade de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a partir do ano que vem.
A análise começou na última semana, quando ocorreram as sustentações orais. Naquele dia, a Advocacia-Geral da União e a Procuradoria-Geral da República defenderam a legalidade do orçamento secreto alegando que o Congresso aprimorou o instrumento.
Na sessão da última quarta-feira (14), quando o julgamento foi retomado, a ministra Rosa Weber, relatora das quatro ações que questionam as emendas de relator, votou para declarar o orçamento secreto inconstitucional. O voto de Rosa Weber foi acompanhado pelo dos ministros Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia.
Em seu voto, a ministra afirmou não ser possível saber quem são os parlamentares que integram o grupo privilegiado e quais os valores geridos por eles. De acordo com Rosa Weber, não existem critérios objetivos e claros para o pagamento das despesas e nem são cumpridas regras de transparência no pagamento dos recursos.
A ministra afirmou em seu voto que os verdadeiros autores das indicações preservam o anonimato e que o destino dos recursos fica recoberto por um manto de névoas. Para a ministra, a política usa fórmulas para dar aparência de institucionalidade ao que não encontra amparo na lei.
A relatora das ações afirmou ainda que o orçamento secreto do jeito que funciona hoje viola o princípio republicano e que as mudanças promovidas pelo Congresso após a ordem do STF foram insuficientes para garantir transparência às emendas de relator.
Já na quinta-feira (15), o primeiro a votar foi o ministro André Mendonça, que votou para considerar o orçamento secreto constitucional. Mendonça defendeu, no entanto, que o Congresso Nacional deve normatizar as emendas para explicitar valores e rateios. Ou seja, o ministro votou para manter as emendas de relator, mas com mais transparência.
O ministro Nunes Marques também votou pela possibilidade de manutenção do mecanismo do orçamento secreto. Em seu voto, o ministro, que assim como Mendonça foi indicado ao STF pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), ressaltou que a discussão sobre as emendas de relator é um assunto interno do Congresso e que não cabe ao STF interferência.
Ao votar, o ministro Alexandre de Moraes apresentou um voto médio, como alternativa às duas correntes que se formaram – a capitaneada por Rosa Weber e a sugerida por André Mendonça. Moraes propôs que as emendas de relator passem a adotar o mesmo procedimento de transparência previsto para as emendas individuais. Seu voto também prevê que haja identificação de nome do parlamentar, valor, destinação e prioridade, além de determinar que a proporcionalidade seja levada em conta na distribuição dos recursos.
O ministro Dias Toffoli também apresentou uma alternativa em seu voto. Toffoli defendeu que as emendas de relator devem respeitar os princípios constitucionais da transparência, da imparcialidade e da isonomia entre os entes federativos, sendo obrigatória a identificação dos responsáveis pelas indicações e dos beneficiários. Uma das sugestões do ministro é a de que as emendas destinadas a cada município não ultrapassem, em cada exercício financeiro, o limite de 50% do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).