O Ministério de Relações Exteriores da Rússia emitiu, nesta 5ª feira (1º.nov), uma nota repudiando a decisão da Alemanha de reconhecer a fome de 1932-1933 na Ucrânia como genocídio. Segundo a pasta, o fato de Berlim responsabilizar a União Soviética pelo período é uma provocação anti-russa e uma tentativa de reverter o passado nazista do país.
“Os alemães estão tentando reescrever sua história e esquecer o arrependimento pelos horrores da Segunda Guerra Mundial. Há ainda outra tentativa de justificar e estimular a campanha patrocinada pelo Ocidente para demonizar a Rússia na Ucrânia, para colocar ucranianos étnicos contra russos e outros povos da ex-URSS”, diz o texto.
A pasta ressaltou ainda que, após adotar a resolução, Berlim “esqueceu” que o período de fome se alastrou não só pela Ucrânia, mas por todo o território russo, resultando na morte de milhares de pessoas. “A Alemanha deveria se envergonhar de tais decisões imorais que revivem a ideologia fascista do ódio racial e da discriminação”, defendeu.
O chamado Holodomor – ou Grande Fome – se refere ao período de 1932-1933, quando o então líder soviético Joseph Stalin passou a adotar um mecanismo de controle da produção de cereais dos camponeses soviéticos. Como a Ucrânia era um dos maiores produtores de grãos, Stalin passou a exigir uma requisição compulsória de grande parte da safra.
A demanda confiscada pelo Estado, no entanto, era tão grande que boa parte dos camponeses tinha que deixar de consumir os cereais. O período resultou em um alto número de mortos, com estimativas que, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), variam entre 3 milhões e 10 milhões de óbitos.
Em 2008, o Parlamento da Ucrânia e 19 nações independentes reconheceram as ações do governo soviético na Ucrânia do início dos anos 1930 como atos de genocídio. Poucos meses depois, a Europa aprovou uma resolução classificando o Holodomor como um crime contra a humanidade. O mesmo foi definido pela ONU.
Um dos últimos a citar o Holodomor foi o papa Francisco, em novembro. Na data, o pontífice afirmou que a população ucraniana vive um “martírio da agressão” e comparou a atual ofensiva russa com o período da fome. “Rezemos pela paz no mundo e pelo fim de todos os conflitos”, pediu Francisco.