O gabarito oficial do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2022 será divulgado às 18h de 23 de novembro, informou o ministro da Educação, Victor Godoy, nesta segunda-feira (21), em coletiva de imprensa para divulgar um balanço do exame.
As avaliações foram aplicadas em 13 e 20 de novembro. No primeiro dia, quando as provas de linguagens (português, língua estrangeira, artes e educação física) e de ciências humanas (história, geografia, sociologia e filosofia) e a redação foram aplicadas, 26,7% dos inscritos não compareceram ao local de aplicação.
Já no segundo domingo foi a vez das provas de matemática e ciências da natureza (física, química e biologia), que trouxeram questões sobre Covid-19, torneio de times, doping, Anvisa e criação de empregos. No dia, 31,9% dos inscritos não compareceram.
A versão digital do exame teve taxa de abstenção superior a 50% nos dois dias de prova. Segundo Godoy, isso acontece porque a grande maioria dos inscritos na categoria estavam isentos do pagamento da inscrição.
“O fato é que o Enem digital ainda não deslanchou. O Inep tem essa missão de buscar de que maneira consegue trazer tecnologia, inovação e atratividade”, disse o ministro.
Este é a última edição do Enem do governo Bolsonaro, que deixa para trás um histórico de polêmicas, com diversas trocas de ministro da Educação e cortes na verba de instituições.
Em 2021, a menos de três semanas da aplicação do Enem, 37 servidores do Inep renunciaram seus cargos na entidade. Em ofício enviado à diretoria do órgão na ocasião, os servidores justificaram a saída pela “fragilidade técnica e administrativa da atual gestão máxima” do órgão. Também mencionaram episódios de assédio moral, expostos em uma assembleia.
Milton Riberio, ministro da época, também teve sua própria cota de polêmicas. Antes de deixar o cargo por acusações de participar de um esquema que negociava verbas públicas com pastores, ele fez diversas afirmações que causaram alvoroço.
Balanço do 2º dia
Uma das perguntas de matemática aplicada no último domingo não tem resposta correta, segundo cursinhos ouvidos pelo g1. O gabarito oficial, com as 180 questões, deve ser divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) na quarta-feira (23). No entanto, a nota final, que só sai ano que vem, não é simplesmente a soma dos acertos. É usado um método de correção “antichute” para calcular a nota.
No domingo anterior (13), tinha sido a vez da redação, cujo tema sobre comunidades e povos tradicionais foi elogiado, e das provas de linguagens e ciências humanas, que citaram a skatista Rayssa Leal, o cantor Chico Science e o estado democrático de direito.
Quem perdeu o Enem por um motivo justificado, como estar com Covid-19, poderá pedir a reaplicação até sexta-feira (25). Veja aqui como proceder.
Ansiedade
Antes das provas, os candidatos se divertiram com memes nas redes sociais e na porta do exame. A pedido do g1, estudantes escolheram a imagem com o meme que, na opinião deles, resumisse o clima no segundo dia de provas.
Em Goiás, as gêmeas Lara e Lana Cunha, de 18 anos, estavam esperançosas com o exame. As jovens querem cursar psicologia e fizeram a prova pela primeira vez neste ano. No Pará, muitos candidatos, prevenidos, chegaram cedo para não perder o horário e levaram mais de uma caneta, além da tradicional garrafinha de água e lanche. E houve até quem levasse toalha e papel higiênico.
No entanto, assim como em outros anos, teve gente que ficou do lado de fora. No Ceará, no primeiro dia de prova, a estudante Sarah Vivian Gomes até chegou ao local antes do fechamento dos portões, mas saiu para fumar e, quando tentou voltar, às 13h, os encontrou fechados.
Primeiro dia de provas
Considerado a “cara do Enem” por abordar um problema social, o tema da redação “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil” foi bem recebido por professores de cursinho, que o consideraram relevante e deram dicas de como abordar a questão.
Três indígenas macuxis e wapichanas sorriem em fotografia tirada em 1911 — Foto: Fotografia/Theodor Koch-Grünberg/Acervo/Maurício Zouein
Em tempos de COP 27 e transição de governo, nas redes sociais, pessoas de diferentes perfis apontaram que o momento atual é oportuno para debater o legado negativo do governo de Jair Bolsonaro (PL) no assunto.
A líder indígena Sônia Guajajara, uma das cotadas para ser ministra dos Povos Originários na futura gestão Lula, resumiu em um tuíte a forma como o tema foi recebido entre os indígenas.
“Desde a invasão em 1500 nossos direitos têm sido violados, sobretudo, nos últimos quatro anos onde declaradamente a atual gestão, que já derrotamos nas eleições, executava sua política de extermínio dos povos originários e comunidades tradicionais”, publicou a deputada federal eleita.
Sonia Guajajara em foto de 15 de outubro de 2022 — Foto: Reuters/Adriano Machado
Dos quatro itens que constavam como referência para os candidatos na redação, dois foram extraídos do g1. O primeiro era um trecho da reportagem “Gente do campo: descubra quais são os 28 povos e comunidades tradicionais do Brasil” e o segundo era uma adaptação de infográfico de outra reportagem sobre o mesmo assunto, cujo título era: “650 mil famílias se declaram ‘povos tradicionais’ no Brasil; conheça os kalungas, do maior quilombo do país”.
Quanto às provas, os docentes avaliaram que trouxeram temas relevantes e atuais, foram fundamentados em muita “leitura e contextualização” e acabou honrando a tradição do exame.
Segundo dia de provas
O segundo dia de provas, com matemática e ciências da natureza (biologia, física e química), foi considerado “trabalhoso” e “conteudista”, com formato mais similar às provas da Fuvest e da Unicamp, segundo cursinhos. Eles observaram que o exame trouxe muita contextualização do dia a dia, mas sem questões polêmicas.
“É uma prova que vai ser um pouco mais trabalhosa para os alunos porque não tem a conta pela conta, não tem o conteúdo pelo conteúdo”, avalio Sérgio Paganim, diretor do Curso Anglo.
Questão sem resposta
Uma das questões da prova de matemática, no entanto, não apresentou uma resposta correta entre as alternativas por um erro de digitação, segundo cursinhos ouvidos pelo g1. O item aparece como 141 na prova rosa, 175 na prova amarela e 157 nas provas cinza e azul.
A questão pedia para que o estudante apontasse qual “expressão algébrica” representava a composição do salário de um vendedor. No enunciado, o item da prova explicava que o funcionário tem um salário formado por uma parcela fixa e também um percentual sobre as vendas.
Procurado, o Inep, responsável pelo exame, não havia dado retorno até a última atualização desta reportagem.
Enem 2024
Ainda na coletiva de imprensa desta segunda, foi dito que informações sobre o Novo Enem devem ser divulgadas ainda este ano. Formato deve ser implementado em 2024.
“A equipe do Inep está trabalhando na elaboração das matrizes do Enem 2024 de acordo com BNCC, mas ainda este ano querem divulgar cronograma do 2023 para pessoas possam se programar com antecedência”, informou Carlos Moreno, presidente da autarquia.
“O Inep já está trabalhando para que o Novo Enem em 2024 já contemple a nova lógica do Novo Ensino Médio, sempre com o objetivo de que o exame seja um exame técnico, científico, moderno”, completou o ministro Victor Godoy.