O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse nesta quinta-feira (17) que tem “obrigação moral, ética e política” de reparar danos causados aos povos indígenas no Brasil.
Lula fez declaração durante encontro com indígenas de diversos países no Egito, onde está desde o início da semana para participar da COP 27, evento que discute as mudanças climáticas e seus efeitos no planeta.
“Nós temos a obrigação moral, obrigação ética, obrigação política de fazer a reparação para o que causaram aos povos indígenas, sobretudo no meu país.”, disse Lula.
“Eu tenho o compromisso de fazer com que o Brasil possa servir de exemplo com a política de parceria, de uma política em que pessoas não sejam tratadas como de segunda classe, que não ficassem recebendo dádiva do governo. O que quero é que indígenas brasileiros participem da governança do meu país”, completou ele.
Lula criticou o fato de chefes de governo que comparecem à COP não se reúnem com a sociedade civil e movimentos sociais para discutir ações. Ele também disse que, nas reuniões de representantes de países ricos, os problemas da população mais pobre e vulnerável não são discutidos.
“Eu participei de todas as reuniões do G8 quando fui presidente da República, participei de todas as reuniões do G20 depois da crise de 2008. E a coisa que eu mais sentia é que não se falava dos problemas da sociedade nessas reuniões”, disse o petista, se referindo aos encontros que reúnem os oito e os 20 países mais ricos do mundo.
“Quando se reúnem os presidentes dos países ricos, as pessoas pobres não existem, os indígenas não existem, os negros não existem, a periferia não existe. Porque esse não é um assunto levado para a mesa de discussão”, completou.
Sem citar o presidente Jair Bolsonaro, Lula disse que o Brasil “foi quase destruído” nos últimos quatro anos e que, no seu governo, pretende reconstruir políticas sociais “sem ódio, sem rancor e sem querer vingança.”
Lula na reunião com representantes de povos indígenas de todo o mundo, na COP AHMAD GHARABLI / AFP
Reuniões na COP 27
Segundo a assessoria do presidente eleito, após o evento com lideranças indígenas Lula também se reuniu com:
- o secretário-geral da ONU, António Guterres;
- o ministro do Clima da Noruega, Espen Barth Eide, e
- a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock
A agenda previa que, ao fim do dia, Lula desse a primeira entrevista coletiva internacional desde a eleição. Segundo a assessoria, no entanto, o compromisso foi cancelado em razão de atrasos nos encontros bilaterais.
Nesta sexta (18), Lula embarca para Portugal, onde deve se reunir com autoridades do país. O presidente eleito retorna ao Brasil no fim de semana.
Responsabilidade social
Mais cedo nesta quinta, em outro discurso durante evento organizado pelo Brazil Climate Action Hub, grupo criado por organizações da sociedade civil para discutir ações climáticas, Lula afirmou que não adianta falar em responsabilidade fiscal sem antes pensar na responsabilidade social.
A declaração de Lula acontece em meio à articulação do governo eleito com o Congresso Nacional para aprovar uma proposta que, entre outros pontos, autoriza as despesas do Auxílio Brasil a ficarem fora do teto de gastos. A equipe de transição argumenta que a medida é necessária para manter o benefício em R$ 600 mensais e conceder mais R$ 150 por criança de até 6 anos.
“Eu fui fazer um discurso para os deputados e eu fazia o discurso que eu dizia na campanha, sabe? Que não adianta falar em responsabilidade fiscal, a gente tem que começar a pensar em responsabilidade social”, disse o presidente eleito nesta quinta.
Lula se referiu a um discurso feito a políticos aliados em Brasília, no último dia 10, em que questionou: “Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país?”.
Essa declaração gerou reação negativa entre analistas do mercado financeiro. Questionado sobre a repercussão, Lula declarou que “o mercado fica nervoso à toa”.
Ainda no discurso desta quinta, Lula disse que, se falar em responsabilidade social aumenta o dólar, “paciência”.