Os israelenses comparecem às urnas nesta terça-feira (1°) para a quinta eleição legislativa em menos de quatro anos, em um momento desafiador e que pode marcar o retorno ao poder do ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Aos 73 anos, o chefe de Governo mais longevo da história do país tenta conquistar maioria simples entre os 120 parlamentares, ou seja, 61 deputados, ao lado de seus aliados dos partidos ultraortodoxos e de extrema-direita.
As pesquisas mais recentes projetam 60 cadeiras para o “bloco de direita” de Netanyahu, contra 56 para o atual primeiro-ministro, o centrista Yair Lapid.
Lapid estabeleceu em junho de 2021 uma “coalizão de mudança”, que reunia partidos de direita, esquerda, centro e uma formação árabe, com o objetivo de derrotar Netanyahu, acusado de corrupção em vários processos.
Um ano mais tarde, no entanto, a coalizão perdeu a maioria no Parlamento com a saída de deputados de direita, o que levou o governo a convocar novas eleições.
Em 2020, os partidos árabes israelenses conquistaram um recorde de 15 cadeiras com uma campanha conjunta. Mas desta vez estão na disputa com três listas separadas: Raam (islamita moderado), Hadash (laico) e Balad (nacionalista).
No sistema proporcional israelense, uma lista deve obter 3,25% dos votos para entrar no Parlamento, com o mínimo de quatro deputados. Caso não alcance a cláusula de barreira, o partido fica sem representantes. Divididos, os partidos árabes podem não atingir o mínimo necessário e favorecer a vitória do partido de Netanyahu e seus aliados.
Benjamin Netanyahu
Ex-primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu tenta um novo mandato/NIR ELIAS/REUTERS – 30.10.2022
O primeiro-ministro que permaneceu por mais tempo no poder em Israel considera que salvar o seu país, do qual pretende recuperar as rédeas após as eleições legislativas desta terça-feira, é a missão da sua vida.
Aos 73 anos, em campanha para seu quinto mandato legislativo em menos de quatro anos, Netanyahu inovou desta vez e percorreu o país com o “Bibimóvil”, um caminhão totalmente envidraçado e protegido inspirado no veículo do papa e que faz referência ao seu apelido “Bibi”.
Pela primeira vez desde 2009, ele não concorre como primeiro-ministro em exercício, tendo sido deposto do poder em junho de 2021 por uma coalizão heterogênea.
O político experiente nunca se aposentará por vontade própria, diz Aviv Bushinsky, seu ex-porta-voz e grande conhecedor do Likud, seu partido.
Apesar de sua acusação de corrupção em uma série de processos judiciais – acusações que ele nega – o político tem o apoio inabalável de seus seguidores mais fiéis.
Mas se o Likud não obtiver o desempenho previsto pelas pesquisas – cerca de 33 cadeiras, ou seja, a primeira força no Parlamento-, sua base eleitoral pode rachar, estima Bushinsky. “Não há dúvida de que alguns funcionários do Likud vão pedir que ele se retire”, antecipa.
Contrário ao processo de paz palestino-israelense de Oslo, Netanyahu defende uma visão de Israel como um “Estado judaico” cujas fronteiras se estendem até a Jordânia. Nesse sentido, apoia a anexação da Cisjordânia ocupada e suas medidas favoreceram um aumento das colônias.
MARIA-CECILIA REZENDE/AFP
Ele também é um diplomata de carreira. Viveu nos Estados Unidos, onde estudou e foi embaixador na ONU nos anos 1980. Quando retornou a Israel, foi eleito deputado em 1988 pelo Likud, grande partido da direita israelense, do qual rapidamente se tornou o novo astro.
A ascensão de Netanyahu foi imparável até 1996, quando, aos 47 anos, ele se tornou o primeiro-ministro mais jovem da história de Israel. Seu governo, no entanto, durou apenas três anos.
Após permanecer afastado por algum tempo, retomou à política, voltou a liderar o Likud e foi novamente eleito premier em 2009.
Yair Lapid
Primeiro-ministro israelense Yair Lapid tenta derrotar Benjamin Netanyahu em eleição/RONENZVULUN/AFP – 27.10.2022
O atual primeiro-ministro de Israel e ex-astro da televisão tenta desde 2019 reconstruir pontes com os democratas dos EUA e com os europeus, após mais de uma década do governo Netanyahu, que alinhou a política externa israelense com a dos republicanos americanos.
Na agenda de Lapid estão a questão da renovação do acordo sobre o programa nuclear iraniano e o acordo entre Israel e Líbano – assinado na quinta-feira – para delimitar sua fronteira marítima e favorecer a exploração de campos de gás no Mediterrâneo Oriental .
Fundador e líder do partido de centro Yesh Atid (“Há um futuro”), Lapid espera continuar à frente do governo após as eleições legislativas, embora para isso tenha que formar uma coalizão ainda mais ampla do que a que derrotou Netanyahu em 2021.
Patriota, liberal e laico, o primeiro-ministro é rejeitado por judaicos ortodoxos, principais aliados de Netanyahu, com os quais insiste em estabelecer laços.
Em 2012, o jornalista com ares de estrela do cinema deixou a televisão para lançar seu partido. Ele apostou em um discurso econômico focado nos problemas da classe média para se impor no cenário político e fazer com que seu jovem partido se tornasse a segunda força atrás do Likud a partir das eleições de janeiro de 2013.
Quase dez anos depois, após as eleições legislativas de 2021, ele cumpre o objetivo que se propôs: tirar Netanyahu do poder. Para isso, formou com seu amigo Naftali Bennett (do partido Yamina, direita radical) uma coalizão com partidos de direita, esquerda e centro e, pela primeira vez, uma formação árabe. Quando o governo sucumbiu, Lapid sucedeu Bennet até a formação de um novo Executivo, após as eleições desta terça-feira.
Desde que chegou ao poder, Lapid manteve um ritmo constante de operações militares na Cisjordânia ocupada, dando sinal verde para uma forte ofensiva contra a Jihad Islâmica em Gaza.
No entanto, ele se declarou a favor de negociações com base em uma “solução de dois Estados”, com uma Palestina viável ao lado de Israel.
Segurança
Às vésperas das eleições, Israel está em alerta para o risco de ataques cibernéticos e campanhas de interferência de países inimigos, especialmente o Irã.
O ministério das Comunicações e a Autoridade Nacional de Segurança Cibernética se preparam para combater ataques diretos contra os servidores do Comitê Central Eleitoral e contra as infraestruturas nacionais.
Mas há outra ameaça que gera preocupação,”o risco de intervenção estrangeira” por meio de campanhas de influência, estimou Isaac Amit, presidente do Comitê Central Eleitoral.
“Há aspectos técnicos, como o ataque a sites, e questões de conteúdo, como notícias falsas ou a deslegitimação dos resultados”, acrescentou, explicando que neste caso o objetivo é “prejudicar a democracia”, causando “cismas e suspeitas”.
Enquanto isso, grupos da sociedade civil também aumentam seus esforços para combater mensagens incendiárias online.
As eleições ainda acontecem em um momento de tensão na Cisjordânia ocupada, com dois atentados executados por palestinos nos últimos dias.
Após uma série de atentados contra Israel nos últimos meses, o exército efetuou mais de 2.000 operações na Cisjordânia. As incursões, que muitas vezes provocam confrontos, deixaram mais de 120 mortos do lado palestino, o maior número de vítimas em sete anos.