O candidato à Presidência pelo Partidos dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, nesta 5ª feira (25.ago), no Rio de Janeiro, focou em respostas sobre a corrupção, admitiu erros no governo petista de Dilma Roussef e defendeu a polarização civilizada e sem ódio. O orçamento secreto também foi abordado pelo petista.
Lula pontuou que, se eleito, pretende rediscutir com os governadores o pacto federativo e prometeu escolher como chefe do Ministério Público Federal, na condução da Procuradoria-Geral da República, um procurador que seja leal ao povo e não a ele. Em tom amistoso e cordial, durante os 40 minutos de sabatina, Lula também respondeu perguntas sobre o Centrão, as alianças e futuras políticas econômicas.
Corrupção
Os escândalos de corrupção envolvendo o governo do petista foram tema da pergunta que inaugurou a entrevista. Lula foi indagado sobre o esquema conhecido como Petrolão, que deu origem à Lava Jato, e respondeu que “a corrupção só aparece quando você permite que ela seja investigada”. Agradeceu a oportunidade de esclarecer sobre o tema e afirmou que o governo dele montou um aparato em órgãos de controle para criar mecanismos de controle de corrupção.
Exemplificou ainda que, em vez de escolher um “engavetador-geral da República”, sempre escolheu o chefe do Ministério Público por meio da lista-tríplice, o que, segundo o candidato, mostra a isenção do governo na apuração de eventuais ilícitos.
Lava Jato
Sobre a operação conduzida pelos procuradores de Curitiba e o ex-juiz Sergio Moro, Lula repetiu que foi perseguido, sobretudo por Moro e pelo ex-procurador Deltan Dallagnol, que coordenavam a Lava Jato. “Eles quase jogam o nome do Ministério Público na lama. O Ministério Público é uma instituição séria.”
Mas perguntado sobre a lista-tríplice, por meio da qual a associação de procuradores envia à Presidência da República indicações de nomes para chefiar o Ministério Público, Lula não foi claro sobre o método de escolha do procurador-geral.
Ainda sobre Lava Jato avaliou que a operação “ultrapassou o limite da investigação e entrou no limite da política”. “O objetivo era condenar o Lula”, afirmou.
Indagado sobre os escândalos em um eventual novo governo, o presidenciável garantiu que os episódios do passado não irão se repetir: “Não há hipótese, eu quero voltar à presidência da República e qualquer pessoa que cometer qualquer crime, essa pessoa será investigada, julgada e condenada ou absolvida”.
Lula ressaltou também que a Lava Jato fechou empresas e provocou desemprego. “Aqui no Brasil se quebrou indústrias de engenharia que levaram quase um século para construir. A gente vai ter que recuperar muitas obras, esse país vai voltar a andar”, disse.
O petista foi condenado e preso pelo então juiz Sergio Moro, da Lava Jato, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. No entanto, o Supremo Tribunal Federal viu irregularidades nas decisões, avaliando que Moro foi parcial nos julgamentos, e os processos contra Lula foram anulados.
Alianças
Lula também aproveitou uma das respostas para emendar elogios ao vice, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB). “Eu quero ser melhor do que eu fui. Eu quero voltar porque eu quero fazer coisas que eu deveria ter feito, mas não sabia que era possível fazer. Por isso que eu escolhi o Alckmin”, disse.
Pontuou ainda que a aliança foi para provar para a sociedade que “politica não tem que ter ódio”. E garantiu que o vice “já foi aceito pelo PT de corpo e alma”.
A ex-presidente Dilma Roussef também foi citada pelo candidato. Em pergunta sobre a política econômica, Lula reconheceu que não irá repetir as políticas adotadas pela ex-presidente. Admitiu que Dilma cometeu equívocos, como a política de preços da gasolina, mas elogiou a parceria e a atuação da ex-política e “companheira”.
Orçamento secreto
O candidato à Presidência também respondeu questões relacionadas ao orçamento secreto, que chamou de “escárnio”.
“Hoje não é só o presidente da República, não. Os governadores dos estados estão refém dessas emendas secretas também. Porque antigamente o deputado ia conversar com o governador pra fazer a aplicação de verba. Hoje os deputados não conversam mais. Tem deputado liberando R$ 200 milhões, R$ 150 milhões, R$ 100 milhões. Isso é um escárnio. Isso não é democracia”, argumentou Lula.
Ele ainda fez ressalvas ao modelo de governo atual do Brasil, no qual o presidente da República “se torna refém do Congresso”. Exemplificou que o Jair Bolsonaro (PL) sequer cuida do orçamento. “Quem libera é o (presidente da Câmara, Arthur) Lira. Isso nunca aconteceu desde a proclamação da República”, declarou. E disse que ele e Alckmin vão acabar “com essa história de semipresidencialismo”.
Na comparação com o esquema conhecido como Mensalão, descoberto em 2005, que envolveu o pagamento de propina a parlamentares e empresas em troca de apoio político no Congresso, Lula relativizou e respondeu: “Você acha que o Mensalão, que tanto se falou, é mais grave que o orçamento secreto?”. Ele disse que o desenho atual do orçamento “não é moeda de troca, é usurpação de poder da Presidência da República”.
Economia
Credibilidade, previsibilidade e estabilidade foram apontados pelo ex-presidente como os pilares de um bom governo. “Você tem que garantir que, quando você falar, as pessoas acreditam no que você fala. Quando você fala de previsibilidade, é que ninguém pode ser pego de surpresa, dormindo, com as alterações do governo. E a estabilidade é para que investidores saibam que possam fazer investimentos aqui dentro.”
Questionado sobre alianças que podem fomentar políticas econômicas em seu governo, falou sobre o Centrão, o grupo de partidos políticos de centro que apoiam o governo no Congresso. “O Centrão não é um partido, são deputados que se juntam em determinadas circunstâncias. Quem ganhar as eleições vai ter que conversar com o Congresso Nacional, não tem que conversar com o Centrão”.
Polarização
Indagado sobre a polarização, que teria sido fomentada pelo PT em anos anteriores em campanhas que levantam o “nós, contra eles”, Lula ressaltou que, antigamente, as relações eram pacíficas entre os candidatos.
“A gente era adversário político. A gente trocava farpas, mas se a gente se encontrasse num restaurante, eu não tinha nenhum problema de tomar uma cerveja com o Fernando Henrique Cardoso […] Política é você ter divergências, você tem divergência programática, mas você não é inimigo.”
O candidato afirmou que a polarização, quando civilizada, é saudável, defendeu o fortalecimento da democracia e o fim do ódio.
“Quando você tem democracia, quando você tem mais que um disputando, a polarizaçao é estimulante, ela é importante, ela é estimulante e faz a militância ir pra rua. Ela faz a militância carregar bandeira. O que é importante é que a gente não confunda a polarização com o estímulo ao ódio”, pontuou.
Por fim, prometeu investir na geração de empregos e colocar os mais pobres nas universidades e no orçamento do país: “Eu vou cuidar das famílias endividadas, negociar dívidas com o setor privado e o sistema financeiro, para que essas pessoas voltem a viver com dignidade”.