O mundo era muito diferente em 21 de fevereiro de 1922, cem anos atrás. A Semana de Arte Moderna, por exemplo, tinha sido recentemente encerrada. Pessoas de todos os países acompanhavam com tensão os desenrolares posteriores à Primeira Guerra Mundial. O rádio só chegaria ao país meses depois, em setembro. A Copa do Mundo de Futebol nem mesmo existia. Não havia computador, internet, fax. O carro ainda era um produto para pouquíssimos. As comunicações e as formas de se transportar, precárias. Ao mesmo tempo, havia uma efervescência cultural nas principais cidades do planeta que faziam aqueles tempos serem chamados de Loucos Anos Vinte. Pois é em meio a tudo isso que nasce na pequena cidade paraibana de Areia uma menina chamada Anarlete Gondim Vasconcelos, que segue viva até hoje e chega aos 100 anos esbanjando saúde.
Completamente lúcida, gosta de ler, de fazer bordado de ponto de cruz, de conversar. Gosta muito de conversar, faz questão de enfatizar. De se encontrar com as amigas, os filhos, netos, bisnetos. Gosta também de fazer pilates duas vezes por semana e hidromassagem aos sábados. Ainda por cima, prevê para março o lançamento de seu livro de memórias, que já está escrito e passa atualmente pela fase de editoração.
“O negócio é não ficar parada”, ensina ela.
Anarlete Gondim na hidromassagem: a atividade dos sábados de manhã — Foto: Arquivo Pessoal/Anarlete Gondim
Anarlete nasceu no município do Brejo paraibano. Estudou no Grupo Escolar Álvaro Machado e depois se mudou para João Pessoa para seguir nos estudos. Na capital paraibana, realizou um curso de formação de professores e depois retornou para a sua cidade natal.
Em Areia, dava aulas de Educação Física e costumava também ser a responsável pelos eventos culturais dos estudantes da cidade. Seus alunos chegaram a se apresentar no Teatro Minerva, considerado o primeiro a ser fundado na Paraíba.
Anarlete formou-se professora com apenas 18 anos, em 1940 — Foto: Arquivo Pessoal/Anarlete Gondim
Da época de escola, tem uma única amiga viva, que hoje tem 101 anos. Mas ela brinca ao admitir as dificuldades de comunicação:
“A gente bate papo até hoje. Mas ela já é meio surda, meio cega. Falamos com muitas dificuldades”, comenta aos risos.
Aliás, a morte é algo inevitável na vida de alguém que já tem 100 anos. Os pais, o marido, nove dos 14 irmãos, um dos nove filhos, todos esses já morreram. Mas ela não reclama. Diz que a vida vale a pena.