Preso pela morte da cuidadora de idosos Marcelle Monteiro, de 36 anos, o ex-companheiro da vítima, João Carlos Hottz, de 45, admitiu o homicídio e deu detalhes do crime ao ser ouvido na 110ª DP (Teresópolis), que investiga o caso. Na última segunda-feira, o corpo de Marcelle foi encontrado próximo ao carro dela incendiado, com várias perfurações, na cidade de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio. Um dia depois, nesta terça, João foi localizado em um hospital após tentar suicídio por envenenamento.
Aos policiais, João contou que encontrou com a vítima em uma estrada perto do local onde ela trabalhava e a abordou enquanto ela dirigia o próprio carro. “Ela parou o veículo e se iniciou uma discussão”, prosseguiu o assassino confesso, como consta no termo de declaração. “Em determinado momento, o declarante jogou gasolina no corpo de sua ex-esposa e colocou fogo”, prossegue o relato.
Ao notar que Marcelle “não havia morrido em decorrência do fogo que havia ateado, decidiu também por desferir golpes com canivete de sua posse, para que ela morresse”, continua o documento. Em seguida, João revelou aos investigadores que descartou o objeto usado no homicídio em um matagal próximo e fugiu do local.
Ele tentou, então, “buscar abrigo na casa do filho”, mas não foi recebido. João afirma que, neste momento, “escondeu o carro no terreno de seu filho, sem o consentimento do mesmo”. Pouco depois, ele “comprou e ingeriu raticida e defensivos agrícolas”, o que o deixou desacordado até ser encontrado por policiais e levado ao hospital.
Em um desabafo postado nas redes sociais que viralizou na cidade, uma amiga de Marcelle Monteiro contou que ela “estava estudando para ser técnica em enfermagem” e vinha “progredindo a olhos vistos”. A mulher descreveu a cuidadora de idosos como uma pessoa “alegre, de bem com a vida, brincalhona”, que “tinha uma filha adolescente”.
A amiga afirmou ainda que João vinha tentando reatar o relacionamento e que “estava ligando para ela direto, cada vez por um chip diferente”. A mensagem prossegue: “Ela teve que instalar câmeras em casa, pois o carro dela apareceu amassado e o pneu rasgado”. O texto termina com uma despedida: “Segura nas mãos de Deus e vai, Marcelle! Vou sentir muita falta das nossas brincadeiras”.
História repetida
O assassinato de Marcelle ocorreu no distrito de Mury, o mesmo onde Alessandra Vaz e Daniela Mousinho foram mortas em 2019. Há uma semana, o julgamento do responsável por esse outro crime gerou indignação na cidade. Rodrigo Marotti, que trancou as duas mulheres no banheiro da casa de Alessandra, sua ex-companheira, e ateou fogo em um colchão, bloqueando a porta, foi denunciado por feminícidio, mas o júri entendeu que ele não teve dolo no crime, ou seja, intenção de matar.
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Com isso, a competência para o julgamento passou para a Juíza Simone Dalila Nacif Lopes, que o condenou por um crime menor, incêndio resultante em morte, e aplicou uma pena de 19 anos e quatro meses de prisão. O resultado causou indignação e protestos em Friburgo desde então.