Pré-candidato à Presidência, o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro (Podemos) procurou minimizar nesta quarta-feira (29) a doação feita pelo doleiro Alberto Youssef, pivô da Lava Jato, a um de seus principais aliados, o senador Álvaro Dias (Podemos-PR). Moro deu entrevista à Rádio Capital FM, de Mato Grosso.
Reportagem da Folha mostrou que duas empresas de Youssef em 1998 pagaram R$ 21 mil (o equivalente a R$ 88 mil em valores atualizados) à campanha de Dias, à época no PSDB.
A campanha ocorreu antes da eclosão do caso Banestado, deflagrado nos anos 2000 – o doleiro tinha sido contrabandista e já havia sido preso anteriormente nos anos 1980.
As informações estão na prestação de contas de Dias entregue naquele ano à Justiça Eleitoral no Paraná. As doações se referem a horas de voo em jatinhos que Youssef cedeu ao então candidato.
Youssef, 54, foi condenado por Moro na Lava Jato em penas que somam mais de 120 anos de prisão e chamado em uma das sentenças de “criminoso profissional”. Porém deixou o regime fechado em 2016, graças a um acordo de delação.
Moro disse nesta quarta-feira que, na época da doação a Dias, “ninguém sabia quem era Alberto Youssef”:
“Eu nem conhecia o senador [Álvaro Dias]. Ninguém sabia quem era Alberto Youssef na época. Ele começou a ser processado em 2003, no caso Banestado. Depois foi condenado, preso na Lava Jato.”
“Eu decretei a prisão do Alberto Youssef duas vezes: em 2003 e depois em 2014. (…) Qual criminoso de colarinho branco fica quatro anos preso no Brasil? Ninguém protegeu ninguém ali [na Lava Jato]”.
A reportagem revelou que a empresa San Marino Táxi Aéreo pagou R$ 9.800. Já a Youssef Câmbio e Turismo colaborou com R$ 11.200. Os valores declarados à Justiça Eleitoral se referiam a horas de voo de jatinho que o doleiro cedeu a Álvaro Dias, então candidato ao Senado pelo PSDB.
À Folha o senador afirmou que teve todas as suas contas aprovadas pela Justiça Eleitoral. Já Moro, na entrevista à Rádio Capital, reforçou que foi responsável pela prisão de Youssef.
“A minha relação com o Alberto Youssef eu posso resumir: eu prendi ele duas vezes. E se eu não tivesse feito isso ele nunca teria respondido pelos seus crimes.”
Nos anos 2000, o então juiz mandou prender o operador no âmbito do caso Banestado, um mega esquema de evasão de divisas por meio do extinto banco do estado do Paraná, hoje tido como um laboratório da Lava Jato. Deltan também atuou nos processos.
Youssef firmou naquela época um primeiro acordo de colaboração, feito com aval de Moro em 2003, quando esse tipo de compromisso ainda era novidade no Brasil.
Anos mais tarde, antes da Lava Jato, o magistrado chegou a se declarar suspeito “por razões de foro íntimo” para atuar em um caso do doleiro que visava rediscutir essa delação.