BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) — O general do Exército Fernando Azevedo e Silva, ex-ministro da Defesa do governo Jair Bolsonaro (PL), já participou de reunião de transição no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), onde atuará como diretor-geral.
O militar emitiu sinais de que a indicação a um cargo na corte, diretamente relacionado à realização das eleições, é uma tentativa de neutralização de eventuais contestações ao resultado das urnas.
Azevedo teve participação, ainda que discreta, na campanha de Bolsonaro em 2018. Ele atuou em um grupo que formulou propostas para o então deputado federal e capitão reformado do Exército.
De janeiro de 2019 a março de 2021, o general exerceu o cargo de ministro da Defesa.
Em uma crise militar sem precedentes desde a década de 1970, o ministro e os comandantes das três Forças foram demitidos pelo presidente.
O general submergiu desde então. Agora, foi indicado para o cargo no TSE. Caberá a ele dar a palavra final sobre aspectos logísticos e tecnológicos das urnas eletrônicas.
Para tentar desacreditar as eleições, diante da larga desvantagem em pesquisas de preferência eleitoral divulgadas até agora, Bolsonaro fez diversos ataques e divulgou uma série de informações falsas sobre a segurança do sistema eletrônico de votação.
O presidente é investigado em inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) em razão das fake news divulgadas contra as urnas.
Nas primeiras declarações dadas por Azevedo desde a indicação ao cargo no TSE, o general fez afirmações sobre a efetividade das urnas eletrônicas e apontou a dimensão das eleições de 2022, quando Bolsonaro deve disputar a reeleição.
O principal oponente de Bolsonaro deve ser o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder em todas as pesquisas até agora.
Em uma conversa com representantes do IREE (Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa), transmitida nas redes da entidade na internet na sexta-feira (17), Azevedo afirmou ter participado de reunião de transição no TSE dois dias antes.
“Na reunião estavam [o ministro Luís Roberto] Barroso [atual presidente do TSE], [Edson] Fachin [próximo presidente do TSE, a partir de fevereiro] e Alexandre [de Moraes, ministro do STF que assume a presidência do TSE em agosto]. Fiquei um pouco surpreso. Já sabia da magnitude das eleições de 22, mas a logística é impressionante. É uma logística de guerra”, disse o general.
“Você vai ter aproximadamente 577 mil urnas, e esse resultado é apurado no mesmo dia. É uma logística que não é simples. São 148 milhões de eleitores, 2 milhões de mesários em 2022”, afirmou.
O ex-ministro de Bolsonaro afirmou que o convite ao cargo de diretor-geral do TSE “foi feito a várias mãos”. O general deve assumir em fevereiro, quando Fachin assume o cargo de presidente do tribunal, e permanecer durante as eleições, na gestão de Moraes.
Azevedo disse ter aceitado o cargo por se tratar de uma instituição de Estado.
“Como ministro da Defesa, eu representava as três Forças, que são instituições de Estado. As eleições e a Justiça das eleições, o TSE, também representam o Estado brasileiro. Não tem partido político representando. Não tem uma maioria, uma minoria”, disse o general.
Bolsonaro demitiu Azevedo do cargo de ministro da Defesa e colocou no lugar outro general da reserva do Exército, Walter Braga Netto, alinhado diretamente aos interesses do presidente. Os três comandantes das Forças também foram trocados.
Os atuais chefes de Marinha e Aeronáutica, almirante Almir Garnier e brigadeiro Carlos Baptista Junior, já deram demonstrações públicas de alinhamento ao bolsonarismo.
O comandante do Exército, general Paulo Sérgio de Oliveira, atendeu a pressão de Bolsonaro e Braga Netto e livrou o general da ativa Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, de ser punido após manifestação política ao lado do presidente.
A missão que o TSE tem, segundo Azevedo, é fazer eleições seguras e “divulgar o resultado com vencedores e vencidos”.
Para o general, já não se discute o instrumento que será usado como fio condutor das eleições em 2022: as urnas eletrônicas.
“Isso é um dado, vai ser ela que vai conduzir a eleição, conforme decidido pelo Congresso. Não tem de se discutir mais, se vai ser ela, se vai ter voto impresso. O Executivo mandou um projeto de lei, foi votado e derrubado”, disse.
Segundo o ex-ministro de Bolsonaro, o que será feito é uma tentativa de aperfeiçoamento. “Meu conhecimento ainda é muito incipiente. Quando chegar ao cargo, vou ter um tempo bom até tomar pé da situação.”
O general disse que acompanha “essa mexida dos candidatos para 2022”. Segundo ele, as fake news “distorcem um pouco o processo”.
“As redes sociais mudaram o perfil não só das eleições, mas da comunicação, o modo de ser da imprensa. Foi um avanço tecnológico que mexeu com muita coisa. O TSE e o STF estão debruçados nisso, para fazer uma regulamentação nessa questão das fake news”, afirmou na live do IREE.
Para o ex-ministro de Bolsonaro, que atuou no gabinete de Dias Toffoli em 2018, quando o ministro ocupou a presidência do STF, não há praticamente nenhum sobressalto nas eleições no Brasil. “Espero que no final da eleição de 2022 tudo saia muito bem, como saíram as outras.”