Com uma hora de atraso em relação ao horário previsto inicialmente, Flávio dos Santos e Lucas Cezar dos Santos entraram às 14h no Tribunal do Júri de Niterói, Região Metropolitana do Rio, onde são julgados a partir desta terça-feira pela morte do pastor Anderson do Carmo. Flávio, que entrou depois do irmão, permanece de cabeça baixa todo o tempo. No julgamento, ambos são indiciados por participação no crime. A primeira a depor é a delegada Bárbara Lomba, que atuou no caso do assassinato. Segundo ela, os dois não articularam o crime sozinhos, e Flávio nunca citou qualquer envolvimento da mãe na morte.
— Eles eram peças manobradas. Nós víamos que não eram eles que tinham pensado no homicídio, planejado o homicídio sozinhos. Eles sofriam influência, e por isso teve o pedido para que eles ficassem presos na delegacia durante o período de prisão temporária — destacou a delegada, que comentou sobre as relações da casa: — O Anderson virou marido da Flordelis, mas não era exclusivamente com ele que ela se relacionava. E ele (Anderson) também não. Era uma relação aberta ali.
A delegada apontou ainda que Flávio não aceitava essa situação.
— O Flávio nunca entregou o envolvimento da Flordelis no crime. Mas chegou a falar informalmente que ele pode ter sido usado, manipulado para cometer o crime. Falou da Simone — citou Bárbara, referindo-se a filha de Flordelis que admitiu em depoimento ser a mandante do crime.
Bárbara falou sobre a diferenciação de tratamento entre os filhos.
— Embora vários filhos tenham sido adotados, havia tratamentos diferenciados, como separação de comida, alimentação diferente, locais onde ficavam na casa. Me parece que o pastor teve visão quase que empresarial de tudo isso. Ele viu que a Flordelis seria um personagem interessante para ganhar dinheiro. Essa coisa da adoção é uma coisa que vende. Ele (Anderson) não tinha uma relação afetiva com ninguém, era muito rígido — disse a delegada antes de ser interrompida pela juíza, que pediu perguntas direcionadas já que o julgamento não é da Flordelis.
No júri, Lucas e Flávio vestem bermuda azul e camisa branca e calçam chinelos brancos. Ambos estão usando máscara de proteção no rosto. Flávio, que entrou depois do irmão, permanece de cabeça baixa todo o tempo. No julgamento, ambos são indiciados por participação no crime.
Na leitura da denúncia, o pai do pastor levantou-se e virou-se na direção de Lucas e Flávio e disse, para uma pessoa que o acompanha, que queria “olhar para a cara deles”. Na chegada, ele pediu por justiça e citou “maldade” e ganância” como motivações para o crime. Os jurados são cinco homens e duas mulheres. O julgamento teve inicio às 14h30.
— Quero que se faça justiça. Meu filho foi morto, e atrás dele foram a mãe e a irmã. Me sinto arrasado, a familia toda está arrasada. Perdi toda minha família. É muita maldade, ganância. Ela podia ter se separado dele. Ela (Flordelis) estaria solta, e ele, vivo. Por causa de dinheiro aconteceu isso. Espero que a justiça seja feita — disse ele.
Ainda durante as investigações da Polícia Civil, Flávio confessou ter atirado no padrasto, na garagem da casa da família em Pendotiba, Niterói, mas depois voltou atrás e negou envolvimento no crime. Já Lucas admite ter ajudado o irmão na compra da arma usada no assassinato, mas já mudou de versão sobre saber ou não que a pistola adquirida por eles seria usada para matar Anderson do Carmo.
No julgamento, a grande expectativa é pelo novo depoimento de Flávio, já que no ano passado o filho de Flordelis voltou atrás em sua confissão, passando a negar ter cometido o crime. Na época, sua defesa era feita pelo advogado Anderson Rollemberg, contratado por Flordelis. Desde o mês passado, Rollemberg não atua mais na defesa de Flávio, que passou a ser assistido pela Defensoria Pública. Flordelis é acusada de ser mandante da morte de Anderson, mas o filho nunca vinculou a mãe ao crime. A ex-deputada ainda não tem data para ir a julgamento.
O interrogatório de Flávio, no entanto, não deve acontecer nesta terça, já que o julgamento deve se estender por aé dois ou três dias em razão do grande número de testemunhas a serem ouvidos. Os réus só são interrogados após a oitiva de todas as testemunhas.