Ele estava relaxando em seu jardim quando foi “atingido de uma forma muito desagradável” por dejetos humanos que caíram de um avião.
Os ingleses costumam se preocupar bastante com o clima, mas um homem de Berkshire, a oeste de Londres, tem motivos específicos para se preocupar com o céu.
Ele estava relaxando em seu jardim quando foi “atingido de uma forma muito desagradável” por dejetos humanos que caíram de um avião.
A “chuva de excrementos” ocorreu em meados de julho, mas acabou de vir à tona. Em declarações ao fórum de aviação do The Royal Borough Of Windsor & Maidenhead, a vereadora Karen Davies disse que foi contatada por um contribuinte e ficou “horrorizada” ao saber do “terrível” incidente.
Ela explicou que o “jardim inteiro da casa, seus guarda-sóis e o próprio homem ficaram todos cobertos” de excrementos.
Então, como isso aconteceu? E será que todos nós precisamos ficar olhando para o céu?
O que aconteceu?
O homem mora em Windsor, uma cidade famosa por abrigar um castelo de propriedade da família real britânica. Mas a região também é próxima da rota de voos para Heathrow, o maior dos cinco aeroportos que atendem Londres.
“Eu sei que uma série de incidentes acontecem todos os anos com esgoto congelado de aviões”, disse Davies. “Mas o que caiu dessa vez não estava congelado e todo o jardim do homem estava respingado de uma forma muito desagradável.”
“Ele estava no jardim no momento, então foi uma experiência realmente horrível, horrível. Esperamos que isso nunca mais aconteça com nenhum de nossos residentes”, acrescentou ela.
Outro conselheiro, John Bowden, chamou o incidente de “uma chance em um bilhão”.
Ele sugeriu que o tempo quente significava que o excremento poderia ter “caído como um item mais ‘fluido'”.
Como isso acontece?
Os banheiros dos aviões armazenam dejetos humanos em tanques especiais, que normalmente são esvaziados assim que o avião pousa.
Mas as autoridades internacionais de aviação reconhecem que podem ocorrer vazamentos durante os voos.
A BBC conversou com o especialista em aviação Julian Bray sobre como tal chuva de excrementos poderia acontecer.
“Aeronaves modernas têm banheiro a vácuo, por isso são muito seguras e bem vedadas. O problema é a junção a vácuo entre o mecanismo do banheiro e o tanque de armazenamento”, afirma Bray.
“Mas não é possível existir uma vedação 100% estanque, pois é necessário um pouco de flexibilidade, pois a aeronave passa por vários níveis de pressão.”
“O que parece ter acontecido é que quando a aeronave estava chegando à terra, a 1.800 metros de altura, a pressão mudou. Houve um vazamento e infelizmente o cavalheiro neste jardim — não esquecendo também de seus dois guarda-chuvas — foram atingidos por este material”, diz Bray.
Vazamentos desse tipo são comuns?
“Felizmente, esta é uma ocorrência muito rara. Costumava acontecer muito antigamente. Essa coisa chamada gelo azul costumava cair com mais frequência”, disse Bray.
Essa massa de excrementos é denominada gelo azul, em vez de qualquer outra cor, simplesmente porque ela é uma mistura de urina e desinfetante, explicou ele.
“Isso costumava acontecer, não muito regularmente, mas realmente acontecia. Costumava cair como uma espécie de pedaços de gelo. Não era muito agradável”, acrescentou.
Um homem que viu uma dessas quedas de gelo azul, Paul de Iver, descreveu sua experiência para a BBC.
“Eu estava saindo do Hospital Princesa Margaret e um jato da Air Canada sobrevoou Heathrow”, explicou Paul. “E um pouco de gelo do banheiro caiu do chassi da aeronave e cortou dois ou três galhos de um pinheiro a cerca de 3,6 metros à minha frente”.
Paul se considera sortudo por estar vivo e acha que o morador de Berkshire também deveria se considerar um sortudo.
“Acho que o homem que foi atingido pela chuva teve muita sorte, porque se fosse o gelo azul, ele teria morrido”, disse.
A Autoridade de Aviação Civil da Grã-Bretanha disse à BBC, em 2016, que cerca de 25 quedas de “gelo azul” são relatadas todos os anos nos 2,5 milhões de voos anuais sobre o espaço aéreo do Reino Unido, mas isso, é claro, acontece em todos os lugares.
Incidentes internacionais
Entre as “vítimas” de uma “evacuação involuntária de um avião”, estão alguns infelizes frequentadores de uma festa no Estado americano da Pensilvânia.
Joe Cambray, de Levittown, disse a uma estação de TV local que a festa de aniversário de 16 anos de sua enteada foi arruinada quando “algo desagradável choveu na festa”.
Felizmente, o dossel que eles colocaram para a festa protegeu a maioria dos convidados.
Acredita-se que uma bola de gelo que caiu sobre uma vila no estado de Haryana, no norte da Índia, em janeiro de 2018, tenha sido de excrementos humanos congelados que vazaram de um avião.
O pedaço de gelo de 10 quilos caiu na vila de Fazilpur Badli com um “grande estrando”.
Um oficial local disse à BBC que alguns moradores pensaram que era um objeto “extraterrestre”. “Ouvi dizer que eles levaram amostras para casa”, disse ele.
O jornal Times of India noticiou que uma mulher de 60 anos foi realmente atingida por um suspeito bloco de gelo azul do tamanho de uma bola de futebol em dezembro de 2015.
Na Índia, como em muitos outros países, é considerado boa sorte quando um pássaro faz cocô em uma pessoa, mas, como a infeliz mulher indiana descobriu, não há nada a se comemorar quando se é atingido por outros tipos de excremento que caem do céu.
Ela sofreu uma grave lesão no ombro, mas testemunhas oculares dizem que ela só não morreu porque a bola de gelo caiu no telhado de uma casa antes de atingi-la.
Espalhando o risco
Bray tem boas notícias para a vítima de Windsor: as autoridades aéreas estão mudando a maneira como os aviões se aproximam dos aeroportos.
“Eles vão fazer o que chamam de sistema de funil. No momento, é um sistema linear e todos os aviões seguem uns aos outros”, disse Bray.
Bray diz que, como os aviões não estão descendo uma rota muito apertada, o risco é muito mais amplo”, o que significa que aqueles que estão nas proximidades dos aeroportos podem esperar uma redução desses incidentes.
Mas outras pessoas que moram um pouco mais longe dos aeroportos podem entrar em uma zona de perigo.
Bray diz que a vítima de Windsor deveria fazer um pedido de indenização.
O nome da companhia aérea não foi divulgado à BBC, embora Davies tenha dito que o homem entrou em contato com a companhia, que negou que seu avião estivesse na área. Mas depois confirmou quando o rapaz conseguiu identificar a aeronave por meio de um aplicativo que mostra as rotas dos voos.
Andrew Hall, que estava presente na reunião virtual do conselho, disse que a vítima agiria corretamente se buscasse uma compensação substancial.
“As empresas de saneamento são multadas em milhões ao despejar esgoto nos rios”, disse ele. “Quando uma aeronave despacha excrementos na cabeça das pessoas, acho que é algo ainda mais hediondo, francamente.”
Já Davies disse que o morador decidiu não entrar com o pedido de indenização.
“Obviamente ele não faria isso por causa de alguns guarda-chuvas de jardim, então ele meio que teve que aceitar”, disse ela.
A BBC contatou a Autoridade de Aviação Civil do Reino Unido para comentar o caso, mas não recebeu resposta após vários dias.
Outra fonte relutante em discutir este assunto é o próprio homem alvo desta última tempestade de fezes. Apesar do grande interesse dos tabloides britânicos em sua história, ele tem se recusado terminantemente a discutir os detalhes.
Parece que a inclinação britânica para discutir o que está caindo do céu tem seus limites.