A consultora jurídica Maria Nazaré Paulino, de 58 anos, alegou ter sido vítima de racismo ao pedir uma corrida por aplicativo, no domingo (17), na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.
A vítima fez um vídeo contando as ofensas e divulgou para a família.
Maria Nazaré disse à CBN que foi chamada de “preta vagabunda” por um motorista da Uber que teria se negado a atender a corrida pedida por ela.
“Eu fiz sinal que eu era a passageira e ele fez a negativa com a cabeça. Eu insisti porque estava chovendo e me aproximei do carro. Mostrei a tela do do meu telefone e ele esfregou a pele. Aí, eu pensei assim ‘ué, será que ele não vai me embarcar por conta da cor? ‘. Eu não acreditei, mas ele falou que ‘não carrega preto no carro, muito menos uma preta, vagabunda’ e arrancou”, contou ela.
Após ouvir as ofensas, a vítima disse que ficou em estado de choque. Depois de chegar em casa, Maria Nazaré fez um vídeo nas redes sociais contando o caso.
“Gravei o vídeo na segunda-feira de manhã enquanto estava no meu estado emocional extremamente abalado. Pois eu realmente queria passar essa dor porque eu acho que, muitas vezes, as pessoas não tem voz igual eu falei. Eu tive oportunidade de estudar os meus filhos também. Eu tenho casa, eu tenho comida no meu prato. Então, eu tenho a obrigação de abrir a boca, se eu tô passando por isso, imagina quem tá na fila do osso,” lamentou.
A mulher denunciou a recusa e as ofensas racistas pelo Disque Denúncia 100. Ela prestou depoimento, na manhã desta quinta-feira (21), na Delegacia de Plantão Especializada em Atendimento à Mulher, Criança, Adolescente e Vítima de Intolerâncias, no Barro Preto, na Região Centro-Sul da capital.
Segundo o advogado da vítima, William Santos, o crime pode ser classificado como racismo, e não como injúria racial.
“Ele simplesmente se negou a atender, fazendo gesto que não carrega pessoa negra dentro carro dele. Então ele atingiu a coletividade e a ela, isso é um racismo. Não um crime de injúria, muito mais, é um crime de racismo, e a gente espera que isso vá pra frente, que assim entenda autoridade policial, o Ministério Público, e nós vamos acompanhar.”
A pena para o crime de injúria é de até três anos. Enquanto o de racismo pode chegar a cinco anos de reclusão.
Em relação a esse tipo de crime, é possível fazer a denúncia em delegacias comuns e também processar os agressores na Justiça, segundo a Polícia Civil. A principal orientação dos especialistas é de que as vítimas tentem unir provas que ajudem nas investigações, o que é fundamental para que os casos sejam encerrados com punições aos envolvidos.
A Polícia Civil disse que “instaurou procedimento e diligências estão em andamento” para apuração do ocorrido. “O registro traz como provável descrição da natureza dos fatos o crime de racismo. Outras informações serão repassadas em momento oportuno”, disse a corporação.
Já a Uber informou que “possui uma política de tolerância zero a qualquer forma de discriminação em viagens pelo aplicativo. A Uber busca oferecer opções de mobilidade eficientes e acessíveis a todos. A empresa reafirma o seu compromisso de promover o respeito, igualdade e inclusão para todas as pessoas que utilizam o app. A empresa se coloca à disposição para colaborar com as autoridades no curso das investigações”, disse a empresa em nota.