A adolescente de 15 anos, que foi estuprada pelo padrasto aos 11 anos e é suspeita de perfurar com uma caneta o pescoço do filho, fruto do estupro, foi ouvida nesta segunda-feira (18) pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB), por meio da Promotoria da Infância , em João Pessoa. De acordo com a promotora Ivete Arruda, a adolescente disse em seu relato que pensou que se o filho não existisse, a dor que sentia iria desaparecer.
No início do depoimento, a promotora revela que a adolescente negou as agressões. Mas no decorrer da conversa, ela confessou que tentou matar o filho.
“Ela nos narrou que olhou para a criança na cama e veio na mente dela todas as cenas, como num filme, do que ela tinha passado durante os estupros. A dor que ela sentia, a afetação da dor… Ela decidiu tirar aquela dor e, pela segunda vez, tentou acabar com a vida da criança”, conta Ivete Arruda.
Em seguida, a adolescente teria colocado o fio ao redor do pescoço da criança e, depois, fincou a caneta no pescoço dele. Quando sentiu que ele estava realmente perdendo as forças, ela gritou por ajuda no centro de acolhimento que residia. Os funcionários do abrigo encontraram a criança com a caneta perfurando o pescoço e fios enrolados.
Estupro em 2017
A história de violência envolvendo a adolescente e a criança começou em 2017, quando a mãe, na época aos 11 anos, foi estuprada pelo padrasto e engravidou.
Em seu depoimento, ela narra amor pela criança, mas também muito ódio pelo agressor. A garota demonstra ainda muita revolta por não ter sido amada pela mãe.
“A todo tempo ela demonstra isso na fala, porque a mãe não acreditou no que ela passava e ficou ao lado do agressor“, revela a promotora. A adolescente também disse que estava arrependida e pediu várias vezes para ver o filho.
De acordo com a promotora da infância, Ivete Arruda, como a adolescente tem consciência do que fez e também não nega as agressões, nem a dor que sente, ela deve responder por tentativa de homicídio. No entanto, a promotoria requereu por intervenção psiquiátrica e psicológica para um acompanhamento com mais atenção.
A adolescente, na noite desta segunda-feira, passou por uma série de exames de avaliação para garantir sua integridade física e continua detida. Segundo a promotora da infância, ainda nesta terça-feira (19), a adolescente deve ser encaminhada para o Centro de Atendimento Socioeducativo Rita Gadelha, em João Pessoa.
A criança de quatro anos segue internada na UTI-Pediátrica do Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa em estado de saúde considerado grave. Após receber alta, ela poderá ser encaminhada para algum familiar ou para a adoção.
O juiz da Vara da Infância e Juventude de João Pessoa, Adhailton Lacet, em entrevista ao JPB1, na segunda-feira (18), ressaltou a trajetória de violações da mãe e da criança e fez um apelo à sociedade para que não façam juízo de valor sobre ela.
“Não faça juízo de valor em cima dessa mãe, não vamos taxá-la de assassina e perversa porque ela também sofreu muitas violações enquanto criança”.
Relembre o caso
A mãe deu à luz ao menino aos 11 anos, em setembro de 2017, após ter sido estuprada pelo padrasto. A gestação só foi descoberta aos cinco meses, por meio de uma ultrassonografia, quando a criança foi levada pela avó para um posto de saúde.
Conforme o juiz Adhailton Lacet, o aborto legal não foi realizado porque a idade gestacional da menina já estava avançada, oferecendo riscos à saúde dela. O juiz também informou que o acusado de estupro chegou a ser condenado e atualmente cumpre pena.
Na época, mãe e filho chegaram a ser acolhidos por uma família, mas, após dois anos, eles voltaram para a casa de acolhimento. Enquanto estava com essa família, a adolescente relatou ter tentado afogar o menino em uma banheira, mas como não foi comprovado, a guarda da criança permaneceu com ela, e ambos eram assistidos pela Justiça.