Presa preventivamente nessa segunda-feira, 27, suspeita de ter encomendado a morte do namorado, a agente de microcrédito Maria Aparecida Barroso, 36, revelou que passou a sofrer ameaças de morte e agressões do então companheiro ao descobrir que ele havia mantido relação sexual com a filha dele, de 20 anos, e um “ficante” da garota. De acordo com o titular da Delegacia Regional de Polícia Civil (DRPC) de Canindé, Daniel Aragão, as ameaças foram confirmadas em áudios extraídos de um aplicativo de mensagens do celular de Maria.
Em depoimento na Delegacia Regional de Polícia Civil (DRPC) de Canindé, Maria Aparecida alegou ter tentado se separar do namorado após tomar conhecimento da traição, mas foi ameaçada de morte por ele, que não aceitava o fim do relacionamento.
No mesmo aparelho, havia conversas entre a mulher e o jovem de 26 anos que tinha participado da relação sexual a três e que também foi preso. Segundo o delegado, ele resolveu contar a Maria sobre a traição após ter sido enganado sobre a terceira pessoa que iria participar do ato sexual. Ao mesmo tempo, colocou-se à disposição da mulher para atuar como intermediador do assassinato do namorado dela.
“Ele [o jovem de 26 anos] tinha ficado com ela [a filha do namorado de Maria] uma vez e na segunda vez já houve a proposta, por parte dela, de fazer sexo a três. Foi quando houve o ato sexual, mas ele disse que não viu quem era a terceira pessoa porque o quarto estava escuro. Só depois que eles terminaram, foi que ele percebeu que era o pai dela. Aí ele se revoltou com a situação e resolveu contar para a esposa, porque a conhecia”, detalhou o delegado em entrevista ao O POVO.
Ainda conforme Aragão, o jovem relatou em depoimento que depois da primeira relação sexual o pai da garota teria o procurado por diversas vezes para novos encontros a três.
Como o crime foi arquitetado
Segundo o inquérito policial do caso, Maria pagou cerca de R$ 3 mil ao intermediador, que repassou a quantia a outras duas pessoas – entre
elas um adolescente de 17 anos– para que assassinassem o namorado dela. Ele foi baleado na porta de casa, junto com a filha, que tentou intervir na situação após ouvir os disparos. Os dois foram socorridos para um hospital da cidade e não correm risco de morte. A garota recebeu alta poucas semanas após o crime. Já o pai, que chegou a ficar alguns dias internado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), foi transferido recentemente para leito de enfermaria.
Conforme Daniel Aragão, a mandante e o intermediador do crime foram descobertos após a prisão e apreensão dos dois executores, que foram capturados no mesmo dia da tentativa de assassinato. “Com informações deles, nós conseguimos chegar a uma terceira pessoa [o intermediador], que confessou participação no crime e apontou a mandante. A gente já sabia, dois dias depois do crime, de todos os culpados, só que precisávamos juntar provas suficientes para pedir as prisões à Justiça”, explicou o delegado.
Os dois ficarão presos preventivamente por pelo menos 30 dias, prorrogáveis por igual período. A DRPC espera concluir o inquérito, no máximo, dentro de dois meses. Os investigadores ainda analisam áudios e imagens de câmeras de segurança. Nos próximos dias, também realizarão oitivas com testemunhas, entre elas a enteada de Maria, que deve prestar depoimento já nesta quarta-feira, 28. Após esse interrogatório, uma equipe da Polícia Civil irá ao hospital onde o pai da garota está internado para colher seu depoimento. Caso seja comprovado que ele mantinha relações sexuais com a filha antes dos 14 anos, poderá responder pelo crime de estupro de vulnerável.
Mãe da garota estava “em choque”
Há quase cinco anos à frente da DRPC de Canindé, Daniel Aragão disse que “nunca imaginou que um dia pudesse trabalhar numa investigação como essa”, envolvendo relação sexual entre pai e filha, além da participação de terceiro. “A gente pensa que nunca vai passar por uma situação dessa. Já ficamos estarrecidos com os casos de estupro de vulnerável envolvendo pessoas da mesma família, mas daí você chegar a um caso amoroso entre pai e filha, isso aí eu nunca pensei que fosse ver. O mais grave é que, aparentemente, era uma relação consensual”, relata o delegado, acrescentando que a mãe da garota estava “em choque” nesta terça-feira, 28, quando compareceu à Delegacia para prestar depoimento sobre o caso.