BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) — O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) afirmou nesta quarta-feira (1º) que “pode ser” que ocorra “algum racionamento” de energia no Brasil, diante do cenário de baixa dos reservatórios.
A fala do vice ocorre um dia depois de o ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia) ter dito, em rede nacional de rádio e TV, que a crise hídrica se agravou e ter pedido esforço da população e empresas para reduzirem o consumo de energia elétrica.
“Olha, o que eu tenho acompanhado é que o governo tomou as medidas necessárias. Criou uma comissão para acompanhar e tomar as decisões a tempo e a hora no sentido de impedir que ocorra isso aí que você colocou [apagão ou racionamento], que haja apagão. Agora, pode ser que tenha que ocorrer algum racionamento, o próprio ministro [Bento] falou isso”, disse Mourão, ao chegar em seu gabinete, em Brasília.
“Vamos torcer para… nós temos uma matriz energética muito baseada em hidrelétrica. A maior parte, vamos dizer, do uso da água é para atividades da agropecuária. O consumo humano é a menor parte, a outra é geração de energia. Então tem que haver uma dosagem disso aí. É algo que a gente vai enfrentar nos próximos anos, na minha visão, enquanto não houver uma recuperação plena dos nossos reservatórios”, acrescentou.
A falta de chuvas deixou os reservatórios das hidrelétricas em seu pior nível em 91 anos e tem forçado o governo a tomar medidas para tentar afastar o risco de racionamento de energia.
Na crise energética de 2001, quando houve racionamento de energia, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi o responsável pelo pronunciamento na cadeia nacional de rádio e TV.
No pronunciamento de terça (31), Bento afirmou que o período de chuvas na região Sul foi pior que o esperado. “Como consequência, os níveis dos reservatórios de nossas usinas hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste sofreram redução maior do que a prevista”, disse o ministro.
Ele informou que essa perda de geração hidrelétrica equivale a todo o consumo de energia de uma grande cidade como o Rio de Janeiro por cerca de cinco meses.
Em junho, em outro pronunciamento, o ministro havia pedido que a população poupe energia e água para enfrentar a crise hídrica.
Bento disse ainda na terça que o esforço de redução do consumo é “inadiável”.
Também na terça, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) anunciou uma medida que vai elevar o custo da conta de luz. Foi criada uma nova bandeira tarifária para fazer frente ao aumento dos custos decorrente do agravamento da crise hídrica.
Chamada de “Escassez Hídrica”, a nova bandeira custará R$ 14,20 a cada 100 kWh (quilowatt-hora) e vigora a partir desta quarta-feira (1°) até abril de 2022.
O Ministério de Minas e Energia evita a criação de um programa de racionamento, algo compulsório. Na semana passada, Bento anunciou um plano de descontos na conta de luz aos consumidores do ambiente regulado (residencial e empresarial) que, voluntariamente, economizassem energia em horários de pico.
Nesta quarta, Mourão foi questionado por jornalistas se o pedido enfático por redução do consumo de energia não deveria ter sido feito antes, uma vez que a escassez de chuvas já tinha sido apontada em meses passados.
“Os decisores, eles tinham todos os dados disponíveis. E se não tomaram uma decisão mais drástica antes é porque, na análise do risco que fizeram, não era o caso”, disse.
Ele minimizou ainda o impacto da alta de luz nos índices de inflação.
“Eu não vejo dessa forma. Os fatores que volta e meia fazem a inflação aumentar ou até diminuir são sazonais. Esse é um dos fatores sazonais. Os setores do governo encarregados do assunto estão trabalhando juntos nisso aí e acompanhando diuturnamente o que está acontecendo, e as medidas que devem ser necessárias e tomadas”.