BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) — Governos europeus até tentaram embasar cientificamente suas decisões sobre se, quando e como retomar grandes eventos musicais. Mas a onda de novos casos provocada pela variante delta do coronavírus jogou areia nos resultados e acendeu um sinal amarelo para o setor, que contava com uma reativação neste verão europeu.
Na Holanda, que já em março fazia baladas-piloto para tentar retomar shows e concertos, um festival ao ar livre que reuniu 20 mil pessoas durante dois dias na cidade de Utrecht no começo de julho funcionou como um banho de água gelada.
Só entrava quem tivesse o certificado anti-Covid, provando vacinação completa, recuperação da doença ou teste negativo recente. Mas, depois do evento, o coronavírus foi detectado em 1.050 desses participantes.
Com a doença se alastrando entre os jovens também em outras cidades, o governo holandês acabou recuando da abertura quase total feita no final de julho e proibiu shows ao vivo e casas noturnas até pelo menos o final desta semana.
Uma das hipóteses dos organizadores do festival de Utrecht é que a janela de 40 horas entre o teste e a entrada no evento tenha sido longa demais, permitindo a contaminação. Reduzir esse intervalo para 24 horas, como eles sugerem, pode ser porém uma barreira para os promotores de evento. Foi essa restrição maior que fez o Pukkelpop, festival de quatro dias que é um dos maiores eventos de música da Bélgica, cancelar sua edição de 2021.
Na França, onde festivais de música de verão atraem grande número de turistas, os eventos foram autorizados a partir de 30 de junho, mas as restrições fizeram seus organizadores seguirem caminhos diversos.
Campeões de bilheteria, como Rock en Seine, Lollapalooza, Hellfest, Main Square ou Eurockéennes, cancelaram mais uma vez sua edição anual, mas outros eventos foram em frente, apesar da redução no faturamento. O Festival de Jazz de Marciac, um dos maiores do gênero na Europa, abriu suas portas de 24 de julho até a quarta da semana passada, mas sentiu um baque na bilheteria, segundo a prefeitura da cidade.
As reservas começaram bem, mas encolheram a partir de meados de julho, quando as notícias sobre a expansão da variante delta se tornaram mais frequentes e o governo francês endureceu as regras anticontágio. Com capacidade para 6.700 participantes, o evento precisou seguir as regras sanitárias anti-Covid, que tornam obrigatório o certificado de saúde quando mais de mil pessoas estão presentes.
Para fazer parte dessas plateias maiores, é preciso mostrar vacinação completa, recuperação de Covid ou teste negativo. Mesmo as apresentações gratuitas, na praça da cidade, acabaram afetadas. O lugar foi cercado com grades, e a entrada só era permitida aos que tinham o passe sanitário.
As barreiras não foram suficientes para cancelar por mais um ano outras atrações turísticas do verão, como o Musicalarue, no sudeste francês, ou o Francofolies, em La Rochelle, mas organizadores se queixaram da necessidade de correr para atender às novas restrições. Na cidade de Lorient, o festival Inter-Celtic, que começou na semana passada e vai até o dia 15, derrubou sua previsão de vendas de ingressos de 70 mil, em anos normais, para 30 mil neste ano.
Também no Reino Unido empresas se queixam de mudanças nas regras sanitárias divulgadas pelo governo. A falta de seguro para a eventualidade de cancelamento, que só foi resolvida na semana passada, com um esquema de proteção do governo britânico, fez com que muitos descartassem seus planos para este verão europeu.
Uma das maiores ausências foi a do Festival de Glastonbury, o segundo maior evento de música a céu aberto do mundo, mas o alto risco atingiu dezenas de organizações menores.
Outras adiaram suas datas para agosto, prevendo que um avanço maior da vacinação traria mais segurança. A aposta se mostrou certa quando o governo britânico adiou a reabertura cultural de 21 de junho para 19 de julho, por causa da variante delta.
Por enquanto, os eventos deste mês estão garantidos na Inglaterra, e a situação deve melhorar a partir de setembro, quando começar a valer o pacote de £ 750 milhões, ou R$ 5,5 bilhões, do seguro governamental. Mas, como nesta pandemia a única coisa certa é que tudo é imprevisível, veículos jornalísticos mantêm atualizações frequentes da programação de festivais.