SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Representantes de entidades conservadoras entregaram ao presidente Jair Bolsonaro uma carta aberta em que defendem o voto impresso, criticam a interferência do STF nos demais Poderes e pedem que as Forças Armadas “não se eximam de seu papel histórico” de garantir a estabilidade política, a lei e a ordem.
O encontro, na última terça-feira (3), ocorreu com integrantes do Foro Conservador, entidade guarda-chuva que reúne 76 movimentos de direita, e da Marcha da Família Cristã Pela Liberdade. Bolsonaro posou para foto segurando a carta, junto com os ativistas.
“Muitas incertezas vêm pondo em xeque a integridade da nossa jovem democracia e, diante disto, o povo brasileiro sentiu a necessidade da busca de instrumentos para pacificar a nação diante de tamanha tensão política e polarização ideológica”, diz um trecho da carta.
Entre os grupos que subscrevem o documento estão a Ordem dos Advogados Conservadores do Brasil, o Instituto Brasil 200, a Associação Brasileira de Juristas Conservadores e diversos grupos regionais.
Eles dizem estar dispostos a ir para as ruas em defesa do voto impresso, cuja implantação sofreu um revés na semana passada ao ser rejeitada em uma comissão da Câmara dos Deputados.
No entanto, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), prometeu submeter a matéria ao plenário nesta semana, o que deu a ela uma sobrevida.
“Queremos votar para presidente e para os demais cargos, com voto impresso e contagem pública. Estamos dispostos a ocupar as ruas quantas vezes forem necessárias em defesa da democracia, das instituições republicanas e, principalmente, da verdade”, diz trecho do manifesto, que chama o voto eletrônico de “urna de Tróia”.
Dirigindo-se aos militares, os ativistas lembram do papel histórico das Forças Armadas, desde o início da República, em 1889. “Desde a instauração da República em 1889, em todos os momentos de crise política no cenário nacional sempre coube às Forças Armadas o papel de poder garantidor da democracia brasileira e dos poderes constitucionais, das instituições públicas, e da estabilidade política e garantidor da lei e da ordem”, afirma a carta.
O documento, então, faz um apelo para que os fardados sigam exercendo esse “poder garantidor”. “Clamamos que as Forças Armadas não se eximam do seu papel histórico e estejam atentas às possíveis tentativas antidemocráticas de golpe contra a nossa República e ataques à nossa Constituição”
Esta costuma ser a argumentação de bolsonaristas ao invocar o artigo 142 da Constituição, que trata do funcionamento das Forças Armadas. Na opinião da maioria dos juristas, no entanto, não existe poder garantidor dos militares no ordenamento jurídico brasileiro.
Também são feitos apelos a deputados, senadores, ministros do STF, membros do Ministério Público e jornalistas, para que defendam o voto impresso.
No caso dos integrantes do Supremo, a referência ganha tom de alerta para que não interfiram em outros Poderes. “É imperioso que a corte superior, como órgão do Judiciário com o dever de obediência aos ditames da Carta Magna, se mantenha a uma distância segura das prerrogativas constitucionais dos poderes Legislativo e Executivo”.
Da mesma forma, também é dado um recado à imprensa. “Convidamos cada jornalista, blogueiro, youtuber e demais comunicadores sérios deste país para um compromisso com a verdade, relatando os fatos com exatidão e mostrando a importância da transparência da apuração das eleições”. Os movimentos dizem que pretendem elaborar um ranking de jornalistas que mais fizerem “matérias depreciativas” contra o voto impresso.
Independentemente do conteúdo das propostas e da linguagem da carta, o fato de Bolsonaro ter aberto seu gabinete para receber os representantes de movimentos é revelador.
Mostra como o presidente confia nos conservadores, com grande capacidade de mobilização, para ajudar em sua campanha à reeleição, muito mais do que nos militares ou no centrão. Nos próximos meses, certamente veremos uma enxurrada de ativistas no Palácio do Planalto.