SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As medalhas de Rayssa Leal, Kelvin Hoefler e Pedro Barros em Tóquio estimularam o consumo de skates no Brasil, quase dobraram as vendas do setor em alguns canais de comércio eletrônico e movimentaram as lojas e espaços da atividade.
A venda pela internet cresceu 50% na comparação entre a semana da primeira conquista olímpica, de 25 a 31 julho, e a anterior, de acordo com a Neotrust. A empresa capta as transações do ecommerce nacional, com exceção das operações do Mercado Livre e de plataformas que anunciam produtos usados.
O faturamento registrou alta de 12% no período.
Um destaque do levantamento é a venda entre mulheres, que representaram 70% do faturamento naquela semana. Skates infantis, classificados na categoria brinquedos, também registraram elevação de 25%, mostrando a influência da atleta de 13 anos entre as crianças.
Eventos como Olimpíadas e Copa costumam mobilizar espectadores e gerar rápidas corridas ao consumo. A busca pelo termo “skate” nunca foi tão alta na história do Google, graças à atenção que o esporte recebeu no país nos últimos dias. A Nike, que patrocina Rayssa, diz que a procura por itens da modalidade subiu 700% em seu site nos dias posteriores à vitória da atleta.
Comerciantes esperam que o interesse da população permaneça a longo prazo, aumentando o mercado que movimenta cerca de R$ 1 bilhão por ano.
“A gente acredita em um crescimento grande no segmento porque agora o skate passou a ser considerado prática esportiva”, afirma Ulisses Muricy, dono de uma loja especializada na praça Roosevelt, no centro de São Paulo, um dos locais na cidade de São Paulo que reúne skatistas.
Muricy convive próximo aos atletas e detectou dois movimentos nos últimos dias: o retorno de quem deixara as rodinhas de lado e o interesse dos pais por skates para os filhos.
O impulso foi imediato após os feitos de Kelvin Hoefler, que garantiu a primeira medalha olímpica do Brasil, e de Rayssa Leal, que se consagrou como a medalhista mais nova do país na história dos Jogos.
O fenômeno da Fadinha nas redes sociais, com perfis que agregam 6,6 milhões de seguidores no Instagram e 3,5 milhões no TikTok, incentiva a procura dos adolescentes.
“Foi realmente impressionante o que aconteceu nas duas últimas semanas. Todo o mundo atrás da roupa da Fadinha, do truck [peça de skate] da Fadinha. A demanda foi muito alta”, diz Ana Paula Wischer, dona da Brutus, distribuidora nacional.
Para Michel Alcoforaro, sócio da consultoria Consumoteca, o consumo vai além do hit, e a modalidade deve achar novas dimensões no varejo após os reconhecimento olímpico.
“As Olimpíadas geram uma dimensão decisiva no consumo pois quebram a moralidade negativa desse estilo de vida, quebram também o receio dos pais. É forte o peso da Fadinha com comportamento político progressista, que estuda e faz isso com leveza”, diz o pesquisador, referindo-se à imagem marginalizada do skate para alguns setores.
Foi o caso dos pais da estudante Paola Maurício, 12, que enfim decidiram matriculá-la na aula de skate. Na terça (3), após alguns tombos, ela conseguiu dar sua primeira batida de backside, uma manobra simples na rampa. Escolheu uma pista no Butantã, zona oeste de São Paulo, a mesma em que treina Luizinho, um dos atletas que disputou o skate park em Tóquio.
Paola ganhou o kit completo — skate, capacete, joelheira e tornozeleira — no domingo (1º), quando a família enfim cedeu aos seus pedidos. “Eu sempre quis, sempre pedi. Meu pai que não escutava, agora escutou”, brinca.
Quase todas as análises da Neotrust mostram redução no tíquete médio dos skates, o que pode estar ligado à maior participação de mulheres, que em média gastam menos, ou à alta na saída de skates infantis.
O Mercado Livre, um dos maiores de comércio eletrônico, aponta que o dia 26 de julho — segunda-feira da medalha de Rayssa e um dia após a disputa de Kelvin —, bateu recorde de vendas de patins e skates no ano. Segundo a plataforma, as vendas na categoria subiram 50% na comparação com outras segundas do mês.
O mesmo efeito foi percebido na Netshoes, segmento do varejo esportivo do Magazine Luiza — a receita do setor cresceu 80% na relação entre o dia da medalha de Rayssa e o da semana anterior. Em surfe, pranchas e assessórios de surfe registraram alta de 17%.
Na OLX, que permite o comércio de usados na internet, o volume de vendas de skate quase dobrou (94%) na comparação mensal entre a última semana de junho e a de julho. Já a Decathlon, que tem lojas físicas e online, divulgou que as vendas registraram elevação de 75% na primeira semana de medalhas olímpicas.