Em depoimento à CPI da Covid, o reverendo Amilton Gomes de Paula confirmou que atuou na intermediação de vacinas, por “razões humanitárias”. Mas o reverendo ressaltou que não estava negociando e apenas indicando para o Ministério da Saúde quem poderia fornecer as imunizações.
O reverendo, fundador da Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários), disse que foi procurado pelo policial militar Luiz Paulo Dominghetti, que afirmou deter doses da AstraZeneca.
“As supostas vacinas chegaram até nós pelo senhor Luiz Paulo Dominghetti Pereira, afirmando atuar como representante de empresa americana”, disse o reverendo.
Amilton Gomes de Paula disse que o policial afirmou poder entregar as vacinas em oito dias, ao preço de US$ 3,5. Inicialmente, Dominghetti teria dito que se tratava da empresa Latinair. Posteriormente, o policial militar mudou a apresentação e disse que representava a empresa Davati.
Ao ter contato com Dominghetti, o reverendo disse que escreveu um email para a Secretaria-executiva do Ministério da Saúde solicitando uma reunião. O primeiro encontro, no dia 2 de março, acabou não contando com a presença de Dominghetti, que alegou ter um problema com seu carro, e nem do então secretário-executivo, Elcio Franco.
Uma nova reunião, relata, teria acontecido no dia 12 de março, essa com a presença de Elcio Franco e outros membros do Ministério da Saúde.
O reverendo depois afirmou que as intenções suas e da Senah eram puramente humanitárias e que se decepcionou.
“Fomos usados de maneira ardilosa para fins espúrios”, disse.
REVERENDO NEGA INFLUÊNCIA
O reverendo Amilton Gomes de Paula negou à CPI da Covid que tivesse influência ou contatos no governo federal, mas também reconheceu que conseguiu uma reunião no Ministério da Saúde no mesmo dia em que enviou e-mail solicitando o encontro. Ele foi recebido na pasta no dia 22 de fevereiro.
“Eu não tinha contatos, era sempre de forma formal, eletrônica.”
O reverendo teria sido o responsável por colocar em contato o policial militar Luiz Paulo Dominghetti, que buscava negociar as 400 milhões de doses da imunização, e representantes do Ministério da Saúde.
A Folha de S.Paulo publicou denúncia de Dominghetti na qual afirma ter recebido pedido de propina de US$ 1 por dose da vacina para avançar dentro do ministério a negociação.
O reverendo disse que foi procurado por Dominghetti e teve uma reunião com o policial militar no dia 16 de fevereiro. No dia 22 do mesmo mês, às 12 horas, disse ter encaminhado um e-mail para o Ministério da Saúde solicitando a reunião para o mesmo dia, às 16 horas, para tratar da compra das vacinas. Ele disse que não recebeu resposta, mas mesmo assim foi ao ministério e se reuniu com representantes da pasta, sem explicar como isso foi possível.
Amilton Gomes de Paula afirmou ter estado em duas outras oportunidades futuras no Ministério, em reuniões no dia 2 e 12 de março. Essa última contou com a presença do então secretário-executivo Élcio Franco.
Questionado várias vezes, o reverendo negou que conhecesse agentes públicos, diretores do Ministério e mesmo do Palácio do Planalto. Disse apenas que a rapidez com que foi recebido possivelmente se deu pela “urgência” em adquirir vacinas.
“Fui lá como embaixador mundial da paz”, disse o reverendo.
Senadores ironizaram a celeridade no processo, lembrando que a Pfizer enviou vários e-mails para tentar negociar vacinas, que acabaram ignorados pelo ministério.
“O senhor mandou o e-mail às 12h, apontou o horário a ser recebido [16h30] e houve a reunião. Queria essa eficiência do serviço público para a Pfizer”, disse o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
DOAÇÕES
Em depoimento à CPI da Covid, o reverendo Amilton Gomes de Paula afirmou que concordou em atuar na intermediação entre Ministério da Saúde e a empresa Davati, para a negociação de vacinas contra a Covid-19, em troca de “doações” para a sua entidade.
O reverendo é fundador da Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários). Ele negou a todo momento conhecer agentes públicos, dirigentes do Ministério da Saúde e mesmo autoridades no Palácio do Planalto.
No entanto, também reconheceu que, mesmo sem ter contatos, conseguiu marcar uma reunião no Ministério da Saúde. O encontro aconteceu após quatro horas do envio do primeiro e-mail com a solicitação.
O reverendo defendeu que sua atuação foi totalmente humanitária e que havia sido prometida doações para a sua entidade, pela intermediação. Amilton Gomes de Paula, no entanto, disse que não havia acordo sobre como seria essa doação.
“Não foi estabelecido valores. Desde o início se falava de doação [com a Davati]”.