A história que Mayra Aguiar queria contar se encaixou à perfeição ao tatame montado no Budokan. No maior templo do judô mundial, a brasileira se mostrou gigante. No início da noite desta quinta-feira, Mayra escreveu de vez seu nome no rol dos maiores atletas olímpicos do país ao conquistar o bronze na categoria até 78kg nas Olimpíadas de Tóquio. Ao vencer a sul-coreana Hyunji Yoon, garantiu seu terceiro bronze olímpico.
O feito de Mayra é histórico em diversos sentidos. A judoca se torna a primeira brasileira a conquistar três medalhas olímpicas em um esporte individual: antes de Tóquio, já havia subido ao pódio em Londres 2012 e Rio 2016. É, também, a primeira a fazer isso em três Olimpíadas em sequência.
Mayra também chega ao topo do esporte que mais deu medalhas ao Brasil em Olimpíadas. O judô soma 24 pódios em Olimpíadas. Mayra tem três, mais do que qualquer outro no país.
– Não estou conseguindo falar, estou emocionada. Acho que é a conquista mais importante para mim. Foram difíceis os últimos tempos, bem difíceis, tem que superar, superar de novo e de novo. Não aguentava mais fazer cirurgia, ainda mais no momento que vivemos, tive medo, angústia. Mas continuei. Dar o nosso melhor vale a pena – desabafou a judoca em entrevista na zona mista à TV Globo.
Na luta que decidiu o bronze, Mayra estudou com paciência o jogo da rival. Com menos de um minuto de luta, as duas tomaram shidos em punição por falta de combatividade. Logo depois, Mayra levou a sul-coreana ao chão, imobilizou com um kuzure-kami-shiho-gatame por 20 segundos e garantiu a medalha histórica.
Emocionada, Mayra agradeceu à família e aos treinadores pelo apoio que a empurrou a vencer a luta.
– Muito importante para mim. Não conseguiria nada sem minha família, me apoiaram em tudo e estavam comigo nos momentos mais complicados. Obrigada por me apoiar, por me aguentar, eu sou bem chata às vezes. Energia boa. TPM, cansada, com dor, estava comigo. Meus técnicos, apoio, todos. Que me fazem levantar todos os dias. Obrigada por estarem ali. Beijo para o seu Moacir. Me fez amar luta no chão. Pensei: “Não vou soltar, tenho potencial para ganhar essa luta”. Beijão a todos. Obrigada de coração – disse.
Mayra era a maior esperança de medalha do judô brasileiro no dia. Outro judoca do país a ir ao tatame nesta quinta, Rafael Buzacarini caiu na estreia e foi eliminado.
O caminho até o bronze
Mais cedo, na estreia, Mayra venceu a israelense Inbar Lanir por ippon. Mayra começou a luta de forma agressiva. A brasileira partiu ao ataque contra a israelense e buscou o confronto a todo o momento. Em 40 segundos, levou Inbar ao chão. Com um belo ippon, garantiu a vaga nas quartas de final e manteve o sonho de subir ao pódio mais uma vez.
Depois, porém, Mayra Aguiar deu adeus à briga pelo ouro nas Olimpíadas de Tóquio. A judoca gaúcha perdeu por wazari no Golden Score para a alemã Anna-Maria Wagner, atual campeã mundial, caindo para a repescagem nos Jogos.
Na repescagem, Mayra viu Aleksandra Babintseva tomar a atitude no início da luta,. A brasileira, porém, marcou firme cada passo da rival. As duas tomaram shido em punição por falta de combatividade a dois minutos do fim. Foi quando Mayra assumiu o controle da luta. A brasileira quase levou a rival ao chão logo na sequência. Não demorou muito para garantir a vitória. A russa tomou mais duas punições e foi desclassificada, abrindo o caminho para que Mayra buscasse o bronze.