SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) — Equipes da Polícia Civil de São Paulo prenderam na manhã desta sexta (16) quatro homens apontados como integrantes de uma organização criminosa especializada no desbloqueio de celulares, principalmente de iPhones, para a invasão e sangria de contas bancárias das vítimas, fenômeno conhecido como “limpa-conta”.
De acordo com a polícia, essa é uma das mais sofisticadas e famosas organizações criminosas que atuam na região central de São Paulo e que são capazes de burlar sistemas de segurança de smartphones, como reconhecimento facial, biometria e senhas alfanuméricas, por meio de softwares especiais.
“Infelizmente, apesar de as empresas fabricantes de celulares terem vários itens de segurança para o desbloqueio, como o reconhecimento facial, digital e alfanumérica e tal, eles conseguem desbloquear. Aí, desbloqueando, é um campo muito vasto para pesquisa”, afirmou o delegado Roberto Monteiro, titular da 1ª Delegacia Seccional, responsável pelos distritos da região central de São Paulo.
Ainda segundo o delegado, após conseguirem desbloquear o aparelho por meio de um software pirata, comprado pela deep web (internet profunda), eles passam a fazer a garimpagem do conteúdo do aparelho, por meio de um segundo software específico para essa extração de dados.
“A partir do momento em que eles desbloqueiam, eles avaliam a relevância do que tem no celular. Se percebem que a pessoa tem recursos, tem informações importantes, inclusive bancárias, eles usam outro software para tirar todas essas informações e passam a aplicar golpes, principalmente por meio do PIX.”
Os policiais acreditam que essa quadrilha pode ter sido a responsável pelo ataque ao vereador da capital Marlon Luz (Patriota), conhecido como Marlon do Uber, em junho deste ano. Após seu celular ser furtado por criminosos, ele teve as contas bancárias acessadas pelos aplicativos do aparelho e sofreu o desvio de R$ 67 mil.
Conforme série de reportagens publicadas pelo jornal Folha de S.Paulo, esse tipo de modalidade criminosa cresce em São Paulo desde o ano passado e tem feito vítimas principalmente na região central da cidade. Há, também, relato de vítimas no interior do estado, como na região de Campinas.
As prisões desta sexta (16) fazem parte de uma operação batizada pela Polícia Civil de Meucci, em referência ao italiano Antonio Santi Giuseppe Meucci (1808-1889), criador do Teletrofone, ou “telégrafo falante”, aparelho considerado o precursor do atual telefone. Essa é a terceira fase desencadeada pelos policiais.
A operação tinha nove alvos de mandados de prisão preventiva, entre eles o de um homem de 30 anos, natural da Guiné-Bissau e considerado o chefe da quadrilha. O suspeito mantinha quatro apartamentos no mesmo prédio na rua Guaianazes, no centro, e um sistema de monitoramento de câmeras para vigiar a rua.
Os policiais acreditam que foi graças a esse sistema de monitoramento que ele conseguiu evitar ser preso na manhã desta sexta (16). Outros quatro supostos comparsas dele não tiveram a mesma sorte, incluindo seu braço-direito, que acabou preso.
Esse endereço do chefe da quadrilha era considerado uma espécie de triângulo das bermudas do rastreamento de aparelhos furtados.
“Esse prédio é o campeão de desaparecimento de localização de iPhones e também de Androides. Quando a polícia vai atrás, quando a vítima diz ‘olha, está aqui’, a localização está me dando aqui, tal’, aí, você vai lá e está dando nesse prédio. Mas é um prédio enorme”, disse o delegado Monteiro.
Além da prisão, os policiais conseguiram apreender uma série de telefones celulares e equipamentos eletrônicos com os quais os criminosos conseguiam desbloquear os aparelhos e fazer a garimpagem de informações bancárias das vítimas, para poderem fazer a sangria das contas.
Esses equipamentos serão periciados para identificar quais foram as contas invadidas pelo bando e os valores desviados.
Esse tipo de desbloqueio, segundo a polícia, é diferente daquele desenvolvido pelos criminosos como engenharia social. Técnicos em informática trocam o chip dos aparelhos, investigam informações para adivinhar senhas e, depois, devolvem o chip para o aparelho da vítima para fazer a limpeza das contas.
Criminosos ouvidos por policiais do Deic, que abriam o celular por meio dessa investigação de dados, já haviam relatado a existência de uma quadrilha capaz de desbloquear de celulares por meio de um software. A prisão dessa quadrilha confirma, em tese, a existência dessa tecnologia.
De acordo com a polícia, um total de 80 policiais civis, pertencentes à 1ª Delegacia Seccional de Polícia (Centro), 38 viaturas caracterizadas e descaracterizadas, 10 equipes do DOPE, com o apoio da unidade aérea (Pelicano), e 3 equipes da Guardas Civil Metropolitana com cães farejadores.
Foram cumpridos 17 mandados de busca e apreensão. O trabalho de investigação da polícia vinha sendo desenvolvido havia seis meses pelos policiais do 8º DP (Brás/Belém).