RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – E Lionel Messi levantou uma taça com a seleção argentina. Foram tantos os insucessos desta geração e era tão grande a fila de títulos que a cena, para muitos, já parecia inimaginável. Mas ela foi registrada na noite deste sábado (10), no Maracanã, o mesmo Maracanã que havia negado a glória a ele e a todos os argentinos em 2014.
Não foi do camisa 10 o gol da vitória por 1 a 0 na decisão da Copa América, título que encerra um jejum de 28 anos, mas sim de Ángel Di María. Como um lembrete tardio de que Messi, em todos esses anos, precisava contar com outros protagonistas para decidir e dividir com ele a responsabilidade de fazer a equipe alviceleste campeã de novo.
Quando Di María foi lançado por Rodrigo De Paul, aos 21 minutos do primeiro tempo, os torcedores argentinos presentes no estádio (cerca de 2.200, mesmo número de convidados brasileiros), devem ter visto um filme passar diante de seus olhos, um filme repetido.
Cara a cara com Ederson, Di María chutaria para fora. Como fizeram Higuaín e Rodrigo Palacio na decisão do Mundial, há sete anos. Como o próprio Lionel Messi, que isolou a sua penalidade e viu a Argentina perder pela segunda vez consecutiva uma final de Copa América para o Chile.
Desta vez, porém, houve outro desfecho. O gol é praticamente uma cópia do marcado por Di María na decisão olímpica de 2008, em Pequim. Lançamento, chute de cobertura, gol.
O desafogo para uma geração que prometia, a partir do ouro olímpico, grandes sucessos com a seleção principal e o retorno da esperança. Mas a vitória tardou tanto tempo em chegar que já não é somente um triunfo, é redenção.
Curioso analisar como o peso da fila não parecia estar do lado argentino neste sábado. Foi uma atuação madura, de um time que nunca deixou de competir, mas cuja competitividade nem sempre estava alinhada com a organização.
Ponto para Lionel Scaloni, o novato treinador que conquista seu primeiro título na função. Tantos outros passaram pelo cargo, e até mesmo Diego Maradona foi colocado nesse posto para desenterrar a Argentina de uma vida sem conquistas.
Em sua edição deste sábado, o diário Olé, da Argentina, falava em “Maradona no céu, Messi na terra”, clamando por uma ação divina que pudesse ajudar a seleção.
Em todos esses anos de jejum, não faltaram pedidos e orações destinadas a forças sobrenaturais ou deuses (Diego, inclusive) que pudessem tirar a seleção do incômodo lugar em que se colocou, o de não ganhar nada.
Na preparação para a Copa do Mundo de 1986, o então técnico Carlos Bilardo enviou um grupo de atletas para a província de Jujuy, norte do país, com a intenção de que se aclimatassem à altitude que encontrariam meses depois no México. Na visita à cidade de Tilcara, teriam pedido à padroeira da cidade que, se fossem campeões, voltariam para agradecê-la.
A visita de agradecimento, porém, não aconteceu imediatamente após o torneio. Apenas em 2018, jogadores que haviam levantado a taça no Estádio Azteca retornaram a Tilcara com uma réplica da taça para fazer uma espécie de reparação com a santa.
Quando fizeram a visita, já era um período longo de fila para a seleção argentina, que nunca voltou a ser campeã mundial e buscava um título, qualquer título, desde 1993, ano em que conquistaram a Copa América. O último troféu de um país reconhecidamente berço de craques. Um deles eleito seis vezes melhor jogador do mundo.
Argentinos, culturalmente, tendem a dramatizar tudo. Até mesmo grandes derrotas, como se elas também fizessem parte do que eles são como nação futebolística. E fazem, porque se ganha e se perde nesse esporte chamado futebol, ainda que o torcedor custe a aceitar essa verdade.
Demorou praticamente uma década para os argentinos se convencerem de que Lionel Messi é, de fato, argentino. Uma enorme perda de tempo. Ele não é Maradona, mas também chora, também ama o seu país. E, por fim, também mostrou que é campeão, enfim. Está na história do futebol que Messi é campeão com a Argentina.