Os anos de trabalho resultaram em uma coleção meticulosamente organizada. As mais de 70 mil moedas de Nathalino Ruy viraram herança para os filhos e netos depois que o idoso, de 83 anos, morreu de Covid-19, em março de 2021, em Jundiaí (SP).
O acervo tinha moedas de vários países, entre eles Japão, Turquia, União Soviética, Grécia e Emirados Árabes. E o desejo de Nathalino era simples: que os herdeiros usassem o valor das moedas para fazer o bem. Com isso em mente, a família resolveu fazer uma doação de panetones e vales para entidades assistenciais da cidade.
“Nós contamos todas as moedas e chegamos a um valor de mais de R$ 20 mil. Decidimos ir até um supermercado que fazia a troca por panetones. O que não conseguimos trocar transformamos em dois vales, que foram doados para famílias necessitadas. Esse era o desejo dele”, conta o filho, Leandro Ruy.
A grande coleção de Nathalino pesava mais de 240 quilos e foi preciso organizar um mutirão, que durou quase 24 horas, para contar tudo.
“Ele sabia tudo sobre moedas e conseguiu passar grande parte desse conhecimento para uma das netas que se interessava pelo assunto. Ela está ajudando com as pesquisas sobre os valores das moedas colecionáveis”, explica Leandro.
Paixão desde a infância
A paixão pelas moedas começou quando Nathalino tinha 14 anos e recebeu seu primeiro salário. Os trocos recebidos iam direto para o pote e, com o tempo, a coleção foi crescendo.
Em 1994, com a chegada da nova moeda, o real, a coleção passou a se misturar com as economias do idoso, que guardava todos os trocos que recebia das idas ao mercado. Os amigos que viajavam ao exterior, sabendo da paixão de Nathalino, sempre davam de presente as moedas dos países visitados.
Toda a coleção era armazenada em um tipo de escritório, na casa do idoso. Cada um dos potes continha um tipo diferente de moeda. Algumas eram organizadas por valor, outras por país de origem.
“Ele sempre foi muito organizado e extremamente inteligente. Adorava isso e estudava muito”, diz o filho.
Batalha contra a Covid
Nathalino tinha problemas cardíacos e, em janeiro de 2021, teve uma queda de pressão e foi levado ao hospital. No entanto, recebeu alta e voltou para casa. Em fevereiro, teve um quadro parecido e, dentre os exames pedidos pelo médico, estava o teste de Covid.
“O médico afirmou que o mal estar era por causa dos problemas cardíacos e disse não haver necessidade do teste. Mas, mesmo assim, nós acessamos o resultado e tivemos a surpresa de estar positivo”, comenta a filha, Lílian de Cassia Ruy.
Nos primeiros dias, Nathalino ficou isolado em casa até que, em 3 de março, teve um mal súbito e precisou ir até o hospital, onde ficou internado na enfermaria. Depois, precisou ser transferido para a UTI, onde ficou por 15 dias, quando morreu no dia 18 de março.
“Foram momentos de tristeza e de esperança. Durante as visitas, ele estava sempre alegre, mandava recados para os conhecidos e pedia uma festa com tudo azul para a sua saída do hospital, mas, infelizmente, não foi possível”, conta.
Para realizar o desejo do idoso, a família fez uma homenagens com balões azul durante o cortejo. “A tristeza foi de não podermos ao menos nos despedir, dar o último abraço, ouvir a última palavra. Sua vacina estava agendada, mas não deu tempo”, diz.