Areia completa, nesta terça-feira (18), 175 anos de tradição e história. Localizada no Brejo da Paraíba, a cidade da cachaça tem em sua história grandes engenhos e uma população orgulhosa pela história que carrega. Areia é, hoje, a quarta cidade do país com o maior número de engenhos. Não à toa, a Capital Paraibana da Cachaça cruza o seu caminho com o de várias famílias que, entre muitas gerações, fizeram Areia estar inserida na trilha turística de tanta gente.
A história da cidade começa com os tropeiros, ainda no século XVIII, quando as mercadorias eram transportadas no lombo de mulas e cavalos. Quando precisavam descansar, os tropeiros buscavam um lugar tranquilo, mas também estratégico, para dormir, fazendo surgir o primeiro povoado de Areia. Primeiro era uma parada para viajantes. Depois, em 18 de maio de 1846, Areia se tornou, finalmente, uma cidade.
De acordo com os estudos dos pesquisadores Morgana Targino, Mabel Simone e José Wallace, Areia guarda também fatos históricos: antes mesmo da Lei Áurea, Areia foi pioneira na libertação dos escravos.
Com 22.656 mil habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e área da unidade territorial em 269 km², Areia é um município tranquilo, no interior do estado, e tombado como patrimônio histórico nacional.
A arquitetura colonial conta a história dos tempos áureos da cana, quando os senhores de engenho construíram os belos casarões, hoje tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Talvez as temperaturas amenas, que podem chegar aos 12°C no inverno, tenha inspirado a iguaria local.
Engenho Vaca Brava, em Areia, na Paraíba — Foto: Matuta/Divulgação
Capital da cachaça
É permeada por tantos engenhos que a cidade de Areia se cria, se sustenta e se mantém. Com mais de 20 engenhos de cana-de-açúcar, a cultura da produção de cachaça nunca se esgotou.
O Engenho Vaca Brava, onde hoje é produzida a cachaça Matuta, faz parte dessa história, e está em atividade desde o século XIX. Ele fica localizado na Zona Rural de Areia. Desenvolvido por várias gerações, o engenho existe até os dias de hoje e produz uma das cachaças mais conhecidas da Paraíba. O engenho esteve nas mãos de Aurélio Leal Freire, que depois passou a direção do negócio à geração seguinte, permanecendo hoje com o filho Aurélio Leal Freire Júnior.
De pai para filho, a Matuta hoje produz cachaças premiadas nacionalmente, algumas envelhecidas em barris de madeiras, que evoluíram com o passar dos anos. A bebida vem tomando o seu espaço, despontando como uma nova tendência no mercado.
Germana Freire, sócia e diretora da Matuta, conta um pouco de como a tradição da família começou. A família já está na quarta geração de administração do Engenho Vaca Brava. No começo, a cachaça era comercializada a granel, em barril, que era como acontecia o comércio antigamente. Há 19 anos, no entanto, Aurélio Júnior decidiu dar o primeiro passo para engarrafar a cachaça. Foi quando surgiu a Matuta e onde permanece até hoje.
“Ele procurou vários nomes e decidiu por Matuta na época. Teve gente que não apoiou, por causa do ‘ser matuto’”, conta Germana. O nome “matuto”, no entanto, era o nome dado ao tropeiro que comprava cachaça a granel nos engenhos e vendia no interior da Paraíba e em estados vizinhos. Sua figura é parte do imaginário popular da época, assim como o som da moenda e o aroma doce da cana recém-moída. É desse entendimento que nasce o nome da cachaça.
“O Vaca Brava é muito tradicional em Areia. É um engenho antigo e a gente conserva a arquitetura, um maquinário antigo, apesar de termos também um maquinário moderno. As pessoas valorizam muito. Recebemos muita visita, faz parte da cidade de Areia. Acaba que por ser um engenho muito antigo faz parte do contexto de toda cidade. É uma cultura canavieira, as pessoas respeitam isso, valorizam muito a cultura da cidade”, declarou Germana.
Produtos da cachaça Matuta — Foto: Rawide/Arquivo Pessoal
Por muitos anos a cachaça Matuta fabricava a preferência do Nordeste: a cachaça tradicional, conhecida como “branquinha”. Essa nunca deixou de compor as mesas dos paraibanos. Mas com o tempo, Aurélio decidiu envelhecer a cachaça. Foi quando surgiu a Matuta Umburana, envelhecida em barril de umburana, incorporando características e sabor da madeira. Por muito tempo essas foram as duas opções oferecidas pela Matuta.
Há dois anos, no entanto, as variedades cresceram. “A gente vem investindo em uma adega de madeira e em outros tipos de madeira, como bálsamo, carvalho, e várias outras. Foram feitos alguns blends e estamos investindo nisso, com uma boa aceitação”, revela Germana.
A Matuta é a primeira cachaça de alambique embalada em lata. Localizada em Areia, a empresa mói 180 toneladas de cana por dia e produz cerca de 3,5 milhões de litros por ano, seguindo o mesmo processo da época do bisavô de Gustavo Azevedo Leal Freire, gerente de produção.
De sabor persistente e toques discretos de madeira, a Matuta tem como particularidade a colheita manual da cana-de-açúcar ainda verde e prioridade aos pequenos produtores.