BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) — O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) adotará um discurso moderado e sinalizará ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante a Cúpula de Líderes sobre o Clima, que expandirá, em curto prazo, o volume de operações contra o desmatamento na floresta amazônica.
O presidente já escreveu o esboço do seu discurso, no qual voltará a se comprometer com o fim do desmatamento ilegal no Brasil até 2030 e convidará nações estrangeiras a ajudar no combate a queimadas com a injeção de recursos.
Na sua fala, segundo assessores palacianos, o presidente indicará aumento, ainda neste ano, da previsão orçamentária do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) e do ICMBio (Instituto Chico Mendes), órgãos federais de fiscalização ambiental.
A ideia é que o montante seja investido em equipamentos e veículos. Segundo auxiliares do Palácio do Planalto, o Ministério do Meio Ambiente deve enviar nos próximos dias um pedido oficial à pasta da Economia. O valor e o modelo do aporte ainda não foram definidos.
Os técnicos do governo ainda avaliam se o dinheiro virá por abertura de crédito extraordinário ou por remanejamento orçamentário. O Meio Ambiente já tem um pedido ordinário ao ministério da Economia de recomposição orçamentária que ainda não foi atendido.
O presidente sabe que uma das principais demandas das autoridades estrangeiras é o aumento dos quadros do Ibama e ICMBio.
Mas conselheiros do mandatário destacam que concursos para essas entidades levam tempo e que, portanto, eles não devem contribuir para os resultados que o Brasil precisa apresentar no curto prazo.
Eles também ressaltam que Bolsonaro terá pouco tempo para falar e que a mensagem principal do Brasil deve ser genérica e similar à carta enviada por Bolsonaro a Biden na semana passada. A previsão é de que o presidente utilize o tempo para falar de iniciativas futuras, sem fazer uma autocrítica.
O discurso de Bolsonaro foi debatido em reunião, nesta segunda-feira, entre o presidente e os ministros Carlos França (Relações Exteriores), Ricardo Salles (Meio Ambiente), Tereza Cristina (Agricultura), Fábio Faria (Comunicações) e Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil).
Para compensar o déficit de servidores públicos nas entidades fiscalizadoras, o presidente avalia, como revelou o jornal Folha de S.Paulo na semana passada, manter forças militares para combater crimes ambientais na floresta amazônica.
A reedição de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) para o período de seca no bioma florestal foi discutida na quinta-feira (15) em reunião entre o vice-presidente Hamilton Mourão e os ministérios do Meio Ambiente, da Agricultura, da Justiça e da Defesa.
A ideia é que as forças militares permaneçam na floresta amazônica até novembro, quando recomeça o período de chuvas. O formato e o tempo da iniciativa devem ser discutidos na próxima semana entre técnicos do governo e comandantes militares.
O debate em torno da reedição de uma GLO representaria um recuo nos planos do governo, que anunciou oficialmente a saída dos militares dessas operações a partir de 1º de maio.
O Brasil enfrenta uma crise internacional na área do meio ambiente por conta do aumento do desmatamento na Amazônia, da recente onda de incêndios no pantanal e do histórico de declarações de Bolsonaro.
O presidente já atacou ONGs que atuam na preservação da floresta e é crítico de lideranças indígenas. Ações de países estrangeiros sobre o tema, por sua vez, foram no passado rechaçadas por Bolsonaro por serem, na visão do mandatário, uma interferência na soberania do Brasil sobre o bioma.
De acordo com o Deter, sistema de monitoramento de desmate do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a redução da floresta mensal na Amazônia voltou a crescer em março e bateu o recorde para o mês.
Os dados apontam 367,61 km² de desmatamento. O recorde anterior pertencia a 2018, com 356,6 km² destruídos, seguido por 2020, com 326,49 km² derrubados.