A rainha Elizabeth II enxugou as lágrimas e foi forçada a chorar sozinha na Capela de São Jorge durante o funeral de seu marido, o príncipe Philip, no Castelo de Windsor, neste sábado. Devido às atuais recomendações de distanciamento por causa da pandemia, ela permaneceu isolada em relação aos demais membros da família.
Foi assim que a rainha se despediu do homem com quem esteve casada durante 73 anos, a sua “força e apoio”, em um funeral sóbrio ao estilo militar com máscaras e poucos convidados devido à pandemia.
Ela parecia abatida pela tristeza e abaixou a cabeça em reverência, enquanto olhava para o caixão de seu amado Philip. Seu filho mais velho, o Príncipe Charles, também chorava enquanto caminhava atrás do caixão, no cortejo que antecedeu a cerimônia na capela, seguido por outros membros da realeza.
O caixão do duque de Edimburgo estava coberto com seu estandarte pessoal e carregava a sua espada, um chapéu naval e uma coroa de flores.
A rainha chegou à cerimônia enquanto o hino nacional tocava e o Bentley real parou ao lado do caixão, onde ela fez uma pausa pungente para um momento de reflexão, enquanto os canhões disparavam e os sinos badalavam em memória do duque.
Ela foi, então, conduzida à Capela de São Jorge com uma dama de companhia, antes de ficar sentada sozinha na frente da igreja, onde curvou a cabeça durante o minuto nacional de silêncio.
Seguindo atrás do caixão estava a procissão real, liderada pelos filhos de Filipe, o Príncipe Carlos, a Princesa Ana, o Príncipe André e o Príncipe Eduardo. Os netos, incluindo o príncipe William e o príncipe Harry, o seguiram, mas os irmãos rivais foram separados por seu primo Peter Phillips.
O duque de Cambridge entrou na capela um lugar à frente de seu irmão mais novo, enquanto os enlutados entravam no edifício gótico histórico sem dizer nada um ao outro.
A rainha decidiu que nenhum membro da realeza deveria usar uniforme militar depois que o príncipe Andrew exigiu se vestir como almirante e o príncipe Harry foi destituído de seus títulos. Eles foram autorizados a usar suas medalhas, no entanto.
Cerimônia
O caixão de Philip foi enterrado no jazigo real da Capela de São Jorge. Os restos mortais do duque de Edimburgo permanecerão lá até que a monarca se reúna com ele após sua morte. O casal reunido ficará então na Capela do Memorial do Rei George VI, pai de Elizabeth II.
A cerimônia começou com um minuto de silêncio, antes do início do rito religioso em São George, capela gótica do século XV localizada no Castelo de Windsor de quase mil anos, cerca de 50 km a oeste de Londres.
Muitos especialistas asseguram que foi Philip quem administrou com mão de ferro uma família marcada por crises, ajudando a rainha a resistir aos escândalos. Mas todos os olhares se voltaram para os príncipes William e Harry, cujas relações estão tensas, em busca de algum sinal de reconciliação, durante o funeral.
Esta foi a primeira aparição pública de Harry de 36 anos com a realeza desde que ele e sua esposa Meghan, que não viajou para o Reino Unido porque está grávida, abandonaram seus deveres reais e se mudaram para a Califórnia.
Harry, entretanto, não caminhou ao lado de seu irmão de 38 anos. Entre eles estava seu primo Peter Phillips, alimentando especulações sobre um desentendimento que persiste.
O funeral foi presidido pelo Arcebispo de Canterbury, Justin Welby, líder espiritual dos anglicanos.
Pandemia
Devido ao coronavírus, os britânicos foram aconselhados a não viajar para Windsor. Mesmo assim, alguns decidiram fazer a viagem enquanto a maior parte do país acompanhava o ato pela televisão.
“As pessoas não deveriam vir, mas este é um grande evento, o único em uma geração. O duque foi especial, então esperamos por muitas pessoas”, disse à AFP Mark, 57 anos, um entre dezenas de policiais nas ruas de Windsor.
Nas proximidades do castelo, os curiosos também ficaram em silêncio, como Kaya Mar, um pintor de 65 anos que chegou no primeiro trem de Londres com um grande retrato de Felipe debaixo do braço.
“Foi muito importante para mim estar aqui hoje”, disse, considerando que “era um bom homem” e “o país vai sentir falta dele”.
Coberto com sua espada, seu boné naval e seu estandarte pessoal, o caixão do duque foi transportado pela manhã por carregadores do Primeiro Batalhão de Granadeiros – do qual Philip foi coronel por 42 anos – da capela particular da família real para outro salão do castelo.
Preparando-se para a procissão, os guardas reais e dezenas de representantes de outros corpos militares posicionaram-se, perfeitamente alinhados, no gramado impecável do pátio central do castelo enquanto soava a fanfarra.
Sob um sol forte, a carruagem pessoal do duque chegou ao local, puxada por seus dois pôneis.
Nos degraus de acesso à capela, posicionaram-se os representantes da cavalaria, vestidos de gala e capacetes com longas plumas.
Sem pompa
O príncipe consorte, falecido em Windson em 9 de abril, dois meses antes de seu centésimo aniversário, foi companhia constante de Elizabeth II, corada com apenas 25 anos em 1952, quando o Reino Unido se reconstruia após a Segunda Guerra Mundial e seu império começava a perder força.
A monarca publicou neste sábado uma foto comovente do casal descontraído no Parque Nacional Cairngorms da Escócia em 2003.
Imagens de momentos marcantes do casamento foram divulgadas nas redes sociais da família real.
Os funerais da realeza britânica geralmente têm grande alcance, aperfeiçoados ao longo dos anos e assistidos por monarcas e líderes de todo o mundo.
Mas as restrições impostas pelo coronavírus obrigaram a modificar os planos de sepultamento de Philip, que se limitaram a 30 convidados íntimos com máscaras e distanciamento de segurança.