O Uruguai se tornou o destino perfeito de brasileiros em busca da vacinação contra a Covid-19. Insatisfeitos com a lentidão da imunização no país, moradores de Santana do Livramento, cidade de 82 mil habitantes localizada no oeste do Rio Grande do Sul, encontraram em Rivera, cidade uruguaia que faz fronteira com o Brasil, uma saída efetiva para receber a vacina sem pertencer a algum grupo de risco.
Uma dessas pessoas é Elza Zavalla de Almeida. A gaúcha, de 53 anos, é casada com um uruguaio e possui dupla cidadania, registro popularmente chamado de doble chapa na região. Pelo lado brasileiro, a vacinação está restrita a pessoas com mais de 70 anos. Já no país vizinho, o governo local anunciou na semana passada o início da vacinação para cidadãos entre 50 a 70 anos, faixa etária que abriga Elza.
Por ter a cidadania uruguaia, ela precisou apenas se cadastrar via WhatsApp com o número da cédula uruguaia e dois dias depois já foi vacinada.
“É muito simples o processo. Eu fiz o agendamento e fui vacinar. No dia não tinha nenhuma fila. Depois só assinei um documento”, disse a brasileira que terá de voltar a Rivera no dia 12 de abril para receber a segunda dose.
A imunização trouxe tranquilidade para Elza no momento mais delicado da pandemia, principalmente após a chegada da variante P1. Em Santana do Livramento, a cidade registra 66 mortes, enquanto Rivera teve 41 óbitos, com aumento diário de casos nas duas cidades.
Além da aflição sobre o crescimento dos números, a gaúcha também disse que se sentiu motivada a ir para o Uruguai por conta da insatisfação com a forma como o governo federal tem lidado com a pandemia.
“Eu não queria viajar para vacinar, mas o Brasil está bem complicado com essa briga política infernal do presidente incentivando as pessoas a não se cuidar. Nosso país está muito dividido e as pessoas estão deixando se levar. Eu não entendo isso. Meu esposo é uruguaio e não queria vacinar. Agora viu a gravidade e mudou de opinião”, desabafou.
Quem também se sente mais segura no lado uruguaio é Miriam Moreira, de 58 anos. Nascida em Santana do Livramento, ela se mudou para Rivera aos 17 anos e desde então vive no novo país. Em 5 de abril, ela vai receber a segunda dose do imunizante Coronavac, uma situação que ela não consegue imaginar se tivesse o Brasil como única opção.
“Eu não tinha expectativa no Brasil porque agora que (a vacina) está em 70 anos em Livramento, sendo que nem todas as pessoas estão vacinadas nessa idade. Com muita sorte, com muita esperança, eu só ia receber no final do ano a vacina no Brasil. O ritmo no país está muito lento”, lamentou.
Miriam relembrou as frases do presidente Jair Bolsonaro sobre vacinas e criticou o impacto negativo que essas declarações causaram na população.
“Ninguém vai virar jacaré, por favor. Eu gosto da evolução das coisas, da evolução do bem. Mas tem umas mensagens que aparecem. Meu Deus! Como alguém pode acreditar em umas idiotices dessas?”, indagou.
“Eu me sinto muito mais segura em relação à informação no Uruguai. Aqui o presidente (Luis Lacalle Pou) decidiu fechar o freeshop para não ter acúmulo de pessoas e propagação do vírus. Ele decidiu e ninguém reclama porque todos sabem que isso é o melhor. Isso não é abaixar a cabeça para o presidente. É um respeito porque ele é coerente”, disse Miriam, opinião que é compartilhada por Elza.