Francisco Gomes de Lima assumiu sozinho a criação das três filhas ainda nos primeiros anos de vida delas, quando a esposa os deixou. Trabalhando como pedreiro, ele sustentou a família por décadas, em João Pessoa. Sem nenhuma doença preexistente, aos 49 anos, ele foi infectado pela Covid-19 e morreu dias após ser internado com a doença.
Ao sentir sintomas leves da doença, ele preferiu ficar em casa. Com a piora do quadro de saúde e a insistência das filhas, procurou atendimento médico em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), na capital paraibana. No local, foi medicado e voltou para o lar.
Já em casa, Francisco passou a ter febre e tosse. Resolveu voltar à UPA, de onde só saiu quando foi transferido para um hospital de referência para casos graves de infecção pelo novo coronavírus.
Emocionada, a filha Dimilly, de 16 anos, Lima recorre a momentos tristes da memória para contar como foram os últimos dias de vida do pai.
“Nisso ele já tava entubado, sedado. Depois de uns dois dias teve uma melhora. Não significativa, mas teve. Eu peguei até uma roupa pra quando ele saísse do hospital. A médica ligou, falou que ele piorou, teve um ataque cardíaco que não deu pra fazer muita coisa. Ele não resistiu e acabou morrendo”, relatou.
Além da dor da perda, as três sofrem por não terem se despedido do pai como gostariam.
“A gente queria ter feito o velório, ter feito uma coisa bonita, já que ele foi um homem bom. Mas não deu nem pra fazer isso”, lamentou Dimilly.
Sempre dedicado e amoroso, Francisco também era divertido. Enfrentava as dificuldades da vida com bom humor. Por isso, é lembrado com carinho pelas filhas.
Um dos momentos em que Milena Lima, de 18 anos, mais sentiu o apoio incondicional do pai, foi quando anunciou que estava grávida.
“Eu pensava que ele ia ficar bravo. Mas não. Ele ficou muito feliz. Disse até que ria que fosse um menino”, recordou.
Michele Lima, também de 18 anos, triste com a partida prematura do pai, lastimou também por ele não ser adepto das medidas de prevenção à Covid.
“Foi um descuido dele. Por mais que a gente mandasse ele se cuidar, ele não se cuidou. Ele só usava máscara quando era pra entrar em estabelecimento, que era uso obrigatório.
Juntas, as três filhas que não puderam se despedir do pai, lembram o que gostariam de dizer para ele.
“Era costume a gente demonstrar o amor a ele. Se painho tivesse na minha frente hoje, eu ia pedir a bênção a ele, dizer que amo muito ele. Faria uma piada pra ele rir e diria pra ele que ele era tudo o que eu tinha. Ele era meu chão, era a minha base”, concluiu Michele.