Uma aposentada é exemplo de superação e sororidade em Campina Grande, no Agreste da Paraíba. Mesmo com quatro diagnósticos de câncer e ainda lutando contra um deles, Maria José Rodrigues, de 56 anos, ainda encontra forças para ajudar outras mulheres que passam pela mesma situação que ela.
Enquanto fazia o tratamento contra o câncer de mama, ‘dona Zezé’, como carinhosamente é chamada, enxergou no voluntariado uma possibilidade de dar a volta por cima. Recém criada, a ONG Mulheres de Peito, que fornece apoio psicológico e médico na prevenção e tratamento do câncer de mama em municípios paraibanos, abriu as portas para dona Zezé.
O Hospital da FAP, que desde o início de sua luta contra o câncer se tornou um lar, passou a ser também um lugar para ela “ressignificar” a dor. Com muita força de vontade, dona Zezé passou a acolher outras mulheres com câncer, e mesmo dentro do ambiente hospitalar percebeu que poderia ajudar muita gente.
“Comecei a colocar uma banquinha na ala de oncologia da FAP pra vender os produtos da ONG e arcar com os tratamentos. Nessa barraquinha, passei a ouvir mais as histórias dessas mulheres, e muitas vezes, ao ouvir minha história, quem estava chorando começava a rir”, comenta.
Paraibana luta contra o câncer pela 4ª vez e acolhe outras mulheres com a doença — Foto: Foto: Arquivo Pessoal / Maria José Rodrigues
A luta contra o câncer
Em 2013, após sentir fortes dores abdominais, dona Zezé descobriu um câncer no fígado. O médico responsável alertou que o diagnóstico era apenas um indicativo de algo maior, pois ao que tudo indicava, o tumor no fígado na verdade já era consequência de algum outro local, ou seja, uma metástase.
Mesmo após a cirurgia no fígado, ela continuou sentindo dores fortes e não conseguia ficar plenamente bem. Foi então que a suspeita médica se comprovou. Um câncer ainda mais agressivo foi descoberto no intestino, e dona Zezé deu início aos tratamentos contra os dois tumores, de maneira simultânea.
À medida em que fez a cirurgia no intestino, continuou realizando sessões de quimioterapia para tratar o tumor no fígado. Passou por inúmeras consultas médicas, chegou a pesar apenas 38kg, mas um desafio ainda maior estava por vir.
Já em 2017 ela descobriu um câncer de mama que viria a ser um tumor ainda mais agressivo que os demais. Ela conta que, entre todos os tratamentos que precisou fazer, os procedimentos contra o câncer na mama foram os piores.
“A pior quimioterapia que fiz foi a da mama. Tomei os medicamentos de 21 em 21 dias, e passei uma média de 12 dias a 13 dias em cima de uma cama. Senti enjoo, fraqueza, muitas dores… Se não fosse forte, não aguentaria. Mas não desisti”, conta.
Paraibana luta contra o câncer pela 4ª vez e acolhe outras mulheres com a doença — Foto: Foto: Arquivo Pessoal / Maria José Rodrigues
Nova batalha
Mesmo após 20 sessões de quimioterapia, 30 sessões de radioterapia e inúmeras consultas médicas, dona Zezé recebeu mais um diagnóstico de câncer. Dessa vez no pulmão, em 2020, ano em que o mundo conhecia uma nova ameaça à saúde, que atinge diretamente o sistema respiratório: o novo coronavírus.
Por conta da pandemia, o trabalho voluntário precisou ser adaptado, mas não ficou de lado. Dona Zezé explica que passou a participar de palestras online, gravar o depoimento em vídeo, mandar mensagens em aplicativos, e não mais presencialmente, para mulheres que estão enfrentando o câncer.
Já o tratamento contra o câncer no pulmão continua, com todos os cuidados necessários, a lentos passos. As visitas ao hospital acontecem em menor frequência, e apenas quando há real necessidade de atendimento presencial, para evitar a contaminação pela Covid-19.
“Continuo levando minha vida normal. Não coloco na cabeça que tenho câncer. Mas, por mais forte que sejamos, somos humanas, então fico mal sim. Só que estou vencendo, e estou dizendo a outras mulheres que elas podem vencer também. Tem que que levantar a cabeça, enfrentar e dizer ‘eu vou ficar boa’. Se você baixar a cabeça, é pior porque essa doença é terrível”, diz.
Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a história de dona Zezé se cruza com a de tantas outras mulheres que, além dos anseios provocados pela pandemia e das lutas particulares, enfrentam o câncer.
“Somos tão guerreiras. Superamos tudo. Independente de qualquer doença, problema, levantamos a cabeça e temos fé. Eu caio e me levanto quantas vezes for preciso. Sou mulher”, conclui.