Um estudo apontou que o risco de infecção por Covid-19 em pessoas que usam óculos regularmente pode ser de duas a três vezes menor. A taxa de contaminação cai dos usuais 1,35 para a população no geral para 0,48 entre os usuários de óculos, diz a pesquisa.
Liderado pelo cientista indiano Amit Kumar Saxena, o estudo, ainda em fase preliminar, abrangeu mais de 300 pessoas na região norte da Índia entre aqueles que haviam contraído o novo coronavírus ou que não foram contaminados.
Entre os participantes da pesquisa realizada por Saxena, 58 disseram usar óculos de grau na maior parte do tempo ou óculos de sol sempre que estão ao ar livre. Segundo o pesquisador, a mudança nas taxas de transmissão desse grupo em relação ao total da população se mostrou “estatisticamente significante”.
Anteriormente, outro estudo havia sido realizado na China para medir a relação entre usuários de óculos e a baixa taxa de transmissão. A pesquisa apontou que apenas 16 pacientes de um total de 276 internados com Covid-19 no hospital Suizhou Zengdu, na província de Hubei, tinham miopia e usavam óculos com frequência.
Entre os cientistas chineses, chamou a atenção o fato de que apenas 5,8% dos pacientes com Covid-19 internados no local terem miopia enquanto o percentual de pessoas com a doença ocular na província era bem maior, 31,5% da população.
A baixa transmissão pode estar relacionada a “menos toques e fricção nos olhos durante o uso de óculos”, diz o estudo.
Os pesquisadores indianos reforçam que o duto nasolacrimal (que une os olhos ao nariz) pode ser uma via de transmissão, levando o vírus do saco conjuntival para o nariz e a faringe. Nesse caso, o vírus poderia entrar em contato com os olhos e depois ser levado para o sistema respiratório por esse duto.
A contaminação pelos olhos pode ocorrer por gotículas ou aerossol, ou seja, pela viagem que o vírus faz pelo ar a partir da respiração, fala, espirro ou tosse de pessoas contaminadas até encontrar a região ocular de uma pessoa saudável.
Porém, os pesquisadores também apontam para a possibilidade de autoinfecção pelo canal ocular, quando a pessoa encosta em um objeto infectado e leva a mão até o rosto. “A transmissão por contato ocorre pelo toque da face, nariz, boca e olhos após contato direto e fômites (objetos) usados pela pessoa infectada”, diz o texto.
Recentemente, porém, a revista Nature apontou a baixa possibilidade de transmissão por essas superfícies contaminadas, contestando a efetividade das medidas de prevenção baseadas na higienização de superfícies.
A publicação defende que as autoridades gastem tempo e dinheiro para manter o distanciamento social e a ventilação de ambientes em vez de gastar em álcool em gel e outros produtos de limpeza. Essa baixa efetividade da transmissão via contato pode reduzir a relevância dos óculos como um inibidor de toque, como acreditam os cientistas chineses. Mas, ainda assim, o objeto pode ser um protetor contra as gotículas espalhadas pelo ar.
Os cientistas indianos reconhecem que os estudos que relacionam a proteção dos olhos via óculos de grau ou de sol ainda é inconclusivo por diversos motivos, entre eles a amostragem pequena usada no estudo e a dificuldade de se medir o uso dos óculos durante o pico de pandemia. “Mais estudos devem ser feitos para conhecer o efeito do uso de óculos na epidemia de Covid-19”, exortam os pesquisadores.