Ele passou muitos anos entre sua casa e o hospital. Dezenas de operações, enxertos de pele, dores, pesadelos e raiva — muita raiva.
Hoje, aos 20 anos, ele diz que a raiva é a “única coisa que o mantém vivo” porque o mantém “fazendo rap e fazendo música”.
Recentemente, foi lançado um documentário sobre sua história, El Niño de Fuego (o menino de fogo, em espanhol), do diretor Ignacio Acconcia.
O jovem mora com sua família na Espanha Foto: NANOUK FILMS
A filmagem não foi fácil, conta Aconcia.
Aleixo é desconfiado e não gosta de lugares públicos nem de que as pessoas olhem para ele. É difícil para ele se abrir. Odiou ter uma câmera o seguindo por vários anos.
Até hoje, diz, não se recuperou emocionalmente do acidente e diz para não esperarem frases motivadoras vindas dele.
Aleixo diz que “até gostou” da repercussão do filme, mas que “tanta bajulação” o deixa confuso.
“Eu fico confuso e me iludo. Até acho que minha vida pode melhorar. Aí eu volto à realidade e tenho que dizer a mim mesmo: ‘Mas cara, acorde, isso não vai mudar você'”, diz Aleixo de sua casa na Espanha, por telefone, à BBC. “A única coisa que me conforta é que as pessoas se sentem melhor depois de me conhecer.”
O jovem ainda sofre muitos problemas de saúde por causa do acidente Foto: NANOUK FILMS
‘Eu não superei nada’
“Não quero que as pessoas cometam erros e me vejam como um exemplo de alguém que melhorou. Eu não superei absolutamente nada. Suporto o que tenho que suportar para viver, como todo mundo. Cada um tem o seu quinhão”, afirma.
“Portanto, se alguém vir alguma força ou exemplo de melhora em mim, não se engane. Se eu aguento, não é por causa de outra coisa senão toda a raiva que tenho dentro de mim. É o que mais me comove, então ainda estou vivo”, diz Aleixo.
O jovem afirma que não quer que as pessoas se enganem pensando que ele “fez algo com a vida dele”.
“E eu não me importo que há pessoas que querem me ver feliz e me ver seguir em frente. Não vejo por que tem que ser assim. Às vezes me engano e acho que a minha vida pode melhorar. Mas não importa o quanto eu minta para mim mesmo, minha saúde não é nenhuma maravilha”, afirma Aleixo.
Hoje ele tem muitos problemas de estômago e dores diárias no corpo.
“Por mais que me digam que está tudo bem, na verdade tudo continua igual para mim. Agora, é claro que vou continuar lutando. Ninguém nunca me deu nada e também não quero que me deem nada”, diz.
“ALEIXO NÃO ME REPRESENTA”
O jovem diz que não se reconhece quando vê as fotos suas de criança.
“Mas não tem nada a ver com aparência física, que pode ser o que todos vão pensar a princípio”, diz ele. “O que não consigo identificar é ter esperança, querer conhecer o mundo ou ser feliz. Nunca mais serei assim.”
Desde o acidente, diz ele, teve que “montar um armadura” e uma maneira própria de fazer as coisas.
‘Mais medo da vida do que da morte’
Aleixo diz que discorda das pessoas que o consideram corajoso por continuar “indo em frente”.
“O que acontece é que, desde o acidente, tenho mais medo da vida do que da morte. Eu nunca esqueço, e uma vez que ele vem à mente, começo a recriá-lo mil vezes em detalhes”, conta.
Enquanto queimava, diz ele, em nenhum momento perdeu a consciência.
“É difícil esquecer. Eu não preciso ficar bem. Não sei ficar bem e não estou acostumado. Na verdade, me sinto mais poderoso quando acordo em um dia horrível, porque então a raiva me move”, diz ele.
“Prefiro continuar sendo assim desde que minha família e as pessoas que amo estejam bem”, conclui.