O biólogo Jimmy Bernot, pesquisador do Museu Nacional de História Natural dos Estados Unidos, se ofereceu para ser infectado por 50 parasitas por um ano como parte de um estudo que tenta desenvolver uma vacina para prevenir a infecção por ancilostomídeos, vermes que se alimentam de sangue e vivem no intestino de mamíferos, incluindo gatos, cães e humanos.
O pesquisador foi infectado pelos parasitas após receber a vacina experimental. Os vermes penetraram em sua pele por meio de um pedaço de gaze colocado em seu pulso por 1 hora. Por cerca de 30 minutos, ele enfrentou a coceira provocada pela ação dos parasitas.
“Em poucos minutos, senti uma sensação de formigamento sob o adesivo. Os vermes bebês estavam penetrando na minha pele! Eles detectam ácidos graxos na pele e liberam enzimas proteolíticas para facilitar o deslizamento entre as células da pele e os vasos sanguíneos”, explicou Bernot em um post no Twitter, onde relatou toda a experiência.
Segundo o pesquisador, a erupção dos vermes e sua resposta imunológica aumentaram durante a semana seguinte, assim como a coceira. “Conheço a biologia desses parasitas e não me preocupei em nenhum momento com minha saúde. A equipe de estudo fez exames de sangue detalhados todas as semanas para garantir que eu não estava tendo nenhum efeito negativo”, afirmou.
Os exames de sangue mostraram que Bernot tem eosinofilia, uma resposta do sistema imunológico que entra em alerta máximo para parasitas. A erupção provocada pelos vermes desapareceu e retornou após 10 dias, o que, segundo o pesquisador, é normal na maioria das pessoas infectadas.
Ação dos parasitas na pele do pesquisador
REPRODUÇÃO/TWITTER
“Não é totalmente compreendido por que isso acontece, provavelmente uma resposta imunológica retardada, pois, neste ponto, os vermes já se foram da minha pele (…) Depois de passar pelo meu sistema circulatório, eles saíram do leito capilar e entraram em meus alvéolos e pulmões”, explicou no Twitter.
Os parasitas também sobem pela garganta do indivíduo contaminado, que pode apresentar tosse. Bernot precisou descrever todos os sintomas em cartões para o estudo clínico a dar uma amostra fecal a cada duas semanas para que a equipe pudesse verificar se tinha ovos de vermes.
Após 76 dias da infecção, foram detectados os ovos nas fezes do voluntário. “A maioria das pessoas elimina os ovos entre 50 e 60 dias após a infecção com o adesivo. Meus vermes estão vivos – e aparentemente se acasalando! (…) Neste momento, eles estão em meu intestino e usando seus dentes para cortar meu intestino e beber meu sangue. Não noto nada”, contou.
Neste ponto da experiência, Bernot relata que sentiu uma diminuição na sua alergia sazonal. “Os vermes secretam compostos para modular ligeiramente o seu sistema imunológico para que não sejam mortos por ele. Foi sugerido que essa imunomodulação pode ajudar pessoas com problemas imunológicos hiperativos, doença de Crohn ou mesmo alergias. O júri ainda não decidiu isso”, explica.
Após 6 meses de estudo, a equipe tratou a infecção causada pelos parasitas no organismo do pesquisador. Bernot tomou 3 doses do medicamento Albendazol durante 3 dias consecutivos e, um mês depois, não havia mais nenhum ovo nas amostras fecais.
“Felizmente, é muito fácil curar a ancilostomíase, contanto que você não esteja sendo continuamente infectado. Normalmente você (ou seu animal de estimação) receberia uma única dose do remédio”, afirma.
Após um ano do experimento, Bernot não sabe se fez parte do grupo que recebeu a vacina que ajudou a desenvolver, como cobaia, ou dos que receberam o placebo. No entanto, o pesquisador guarda a experiência como uma oportunidade de aprendizado.
“Foi realmente interessante experimentar a ciência do outro lado, como um participante do estudo, em vez de um pesquisador. Hoje em dia, temos tantos medicamentos, tratamentos e vacinas que tornam nossas vidas muito mais fáceis. É fácil ignorar todo o trabalho e sacrifício que envolve torná-los seguros e eficazes”, escreveu.