Com a pandemia do novo coronavírus, uma família que sempre foi unida está há um ano sem se ver. Isso porque uma das filhas, Gema Clara, é natural de Teresina, capital do Piauí, mas mora em João Pessoa, na Paraíba, há 26 anos. Anualmente, ela visitava a família pelo menos duas vezes no estado piauiense. Como a mãe é idosa, de 94 anos, ela deixou de ir para casa com o medo de contaminar a família e colocar a vida da mãe em risco.
Neste sábado (30) se comemora o dia da saudade no Brasil. Para quem tomou a decisão de manter o distanciamento para proteger a família dos riscos de contágio, tem sido difícil passar tanto tempo sem sentir o amor dos parentes e amigos. A Paraíba tinha 189.415 casos confirmados e 4.036 mortes por coronavírus até a sexta-feira (29).
Clara é professora em João Pessoa, tem 57 anos e seis netos que também moram na Paraíba. Em Teresina moram dois irmãos e a mãe. Ela nunca vivenciou um período tão longo sem ver a família.
“O sentimento de ficar longe das pessoas que a gente ama, sem saber quando vamos nos ver, é terrível. Gera ansiedade, um desconforto muito grande. A gente está acostumado a abraçar, beijar, a gente é muito família e o último ano foi muito difícil”, disse.
A professora admite que já quebrou o isolamento algumas vezes para matar a saudade dos netos, mas não da forma que ela queria e que ama.
“Eu já quebrei algumas vezes esse isolamento, com meus netos. Eu adoro a praia, é um lugar com o clima quente. A gente fica na beira-mar, mas não é a mesma coisa. Eu gostaria de estar agarrada neles, abraçando, beijando, botando no colo e não posso. Temos evitado ao máximo esse contato físico”, afirmou.
Segundo Clara, o que mais dói é não ter perspectiva de quando vai poder matar toda a saudade que está acumulada há tantos meses. “Esse distanciamento, sem saber quando tudo isso vai acabar, é difícil, está sendo muito difícil. Vamos ver até quando que vamos aguentar essa saudade. Vamos nos cuidando com todo tipo de prevenção, na esperança de que isso acabe logo”, mencionou.
Irmã de Clara, Verônica Leal mora em Teresina e sente falta da união da família, de juntar todas as pessoas, e afirmou que fica um vazio grande nos momentos que antes eram compartilhados com toda a família, como aniversários e festas de fim de ano.
“Minha irmã sempre vinha pelo menos duas vezes ao ano, para matar a saudade e para ajudar com nossa mãe. A presença dela sempre é uma festa aqui, quando ela vem. Com a pandemia, isso se tornou impossível. Fica aquele vazio, sentimento de tensão, de quando que a gente vai poder se ver, mas não temos a menor perspectiva”, comentou Verônica.
Apesar de toda a dor da saudade, Verônica não perde a esperança de que logo essa situação provocada pelo novo coronavírus vai acabar. “A gente sente muita saudade desse encontro, de ficar junto, de se abraçar. É uma situação que nunca vivemos ao longo de todos esses anos, mas não perdemos a esperança. A gente acredita que tudo vai passar, que a gente vai se ver o quanto antes pudermos”, mencionou.
Além de Clara ir ao Piauí, a família sempre viajava à Paraíba nas férias para descansar e matar a saudade. Dessa vez, isso não aconteceu e, segundo a professora, causou comoção entre todos.
“Todos os anos eu estava em Teresina, em julho, aniversário de minha mãe. Agora não foi possível. Júlia, minha afilhada, vinha passar todas as férias em João Pessoa e, como não veio dessa vez, chorou de tristeza e saudade”, comentou.
Para tentar minimizar a saudade, o que resta para essa família é manter o bate-papo através de aplicativos de mensagens. “Nós quase nunca nos vemos por chamada de vídeo, pois a rotina é tão corrida, que muitas vezes não dá tempo parar para ligar. Então nos falamos pelo WhatsApp e uma responde a outra quando dá”, disse Verônica.
Todas as recomendações dos órgãos e autoridades de saúde são para que se evitem aglomerações, viagens e festas. O que entristece Clara é ver que poucas pessoas estão seguindo o exemplo da família, e que o comportamento da população de modo geral está prolongando ainda mais a situação da pandemia.
“Vai ser difícil superarmos essa pandemia, pois houve muita aglomeração e a pandemia continua em alta. Nas festas de fim de ano, vimos que as pessoas viajaram muito. Essas aglomerações tem se acentuado e, por isso, a situação piorou. Aumentou o número de casos em todo o país e agora a gente vai continuar sofrendo mais um pouco, até que chegue a vacina para todo mundo”, desabafou a corretora.
Mesmo com a falta de perspectiva, Clara deposita na vacinação a expectativa de poder viajar para abraçar toda a família que está longe. “Graças a Deus a vacina está chegando. O ano de 2020 foi muito difícil longe de quem amo. Esse ano também deve ser difícil, mas a vacina traz a esperança de que tudo vai passar, pelo menos assim eu espero”, comentou.