O ano de pandemia bateu forte na moeda brasileira: o real teve o pior desempenho entre 30 moedas em 2020, entre elas a lira turca, o rublo russo e até mesmo o peso mexicano. O ranking, feito pela FGV, considera as variações no ano até novembro.
No ano, a alta do dólar em relação ao real foi de aproximadamente 35%. Entre os fatores que explicam essa escalada da moeda norte-americana frente à brasileira, estão a baixa taxa de juros, a instabilidade política no país e o aumento da dívida pública, que têm afastado o investimento do Brasil.
Quando o ano começou, cada dólar valia R$ 4,0232. Mas já em maio, a moeda dos EUA bateu seu recorde nominal (sem considerar a inflação) frente ao real: no dia 13 daquele mês, chegou a ser vendido por R$ 5,9007. Nos meses seguintes, o real recuperou parte do seu valor, mas não conseguiu retomar — nem de perto — o patamar de janeiro.
“Apesar de a desvalorização do real ter diminuído a partir de novembro, o real continua muito fraco e ocupa uma liderança negativa bastante triste”, afirmou Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Variação do câmbio — Foto: Economia G1
Na avaliação da especialista, os investidores estrangeiros temem a confirmação de um rombo fiscal recorde acima de R$ 800 bilhões para este ano e a falta de perspectiva para reformas administrativas e fiscais no futuro.
No primeiro semestre do ano, os investidores retiraram US$ 31,252 bilhões de aplicações financeiras no Brasil, segundo o Banco Central. O valor inclui ações, fundos de investimentos e títulos da renda fixa.
Essa foi a maior saída de recursos de aplicações financeiras da economia brasileira desde o início da sua série histórica, em 1995 — ou seja, em 26 anos.
Segundo semestre de 2020
Entre subidas e descidas, o dólar chegou a bater R$ 5,7900 na máxima de 28 de outubro, o maior valor desde 18 de maio. O câmbio turismo, por sua vez, chegou a R$ 6,0186 no mesmo dia.
O novo pico ocorreu pela volta da Covid-19 na Europa e pelo fechamento de bares e restaurantes na França e na Alemanha pela segunda vez.
Para Henrique Castro, parceiro de Claudia na FGV, o Brasil não estava em uma situação boa antes de março e a “pandemia só fez piorar” essa trajetória, o que refletiu diretamente no real.
“O governo estava ensaiando fazer a reforma fiscal, mas não tinha feito proposta alguma anteriormente. Ele estava politicamente desorganizado. Na prática, nem chegou a avançar com as reformas propostas”, criticou o professor de finanças.
Após a vitória do democrata Joe Biden nas eleições norte-americanas em novembro e notícias positivas para a vacina da Covid-19, o dólar passou a cair, se firmando no patamar de R$ 5,33.
“As eleições dos EUA geraram mais barulho do que efeitos práticos no Brasil. O dólar tem se desvalorizado um pouco por causa da transição do governo. Esperamos que essa fase seja tranquila e não respingue no resto do mundo”, avaliou Castro.
Com investidores ainda mais receosos com o risco fiscal do Brasil, mas otimistas com os resultados das vacinas contra a Covid-19, o dólar oscila em dezembro, mas se estabelece entre R$ 5 e R$ 5,11.
Apesar do mau desempenho do real em relação às demais moedas globais em 2020, Claudia alerta que o dólar também está enfraquecido.
Frente ao euro, por exemplo, a moeda norte-americana tem queda anual de 8,25%.
“O dólar tem se desvalorizado perante várias outras moedas também. Ou seja, o real se valorizando em relação ao dólar, não é ele ganhando valor, é a moeda norte-americana piorando em todo mundo”, explicou Claudia.
Variação do dólar em 2020 — Foto: Economia G1
Variação cambial frente ao dólar norte-americano — Foto: G1