O mundo está em busca de carros totalmente autônomos há anos. Na China, uma empresa ficou ainda mais perto de tornar essa meta uma realidade.
Na quinta-feira (3), a AutoX, uma startup apoiada pela Alibaba (BABA), anunciou ter criado um serviço de táxis totalmente sem motoristas em Shenzhen. A empresa afirmou ser a primeira empresa na China a fazê-lo, alcançando um marco importante no setor.
Anteriormente, as empresas que operavam ônibus autônomos em vias públicas no país eram restringidas por regulamentos estritos, que exigiam a presença de um motorista de segurança dentro dos veículos.
O programa da AutoX em Shenzhen é diferente. A empresa não usa motorista reserva nem qualquer operador remoto em sua frota de 25 robôs-táxis que estão sendo testados no centro de Shenzhen.
A AutoX divulgou um vídeo de sua minivan, uma Fiat Chrysler Pacifica, navegando por conta própria na área central de Shenzhen, mostrando o veículo recebendo passageiros – um deles na companhia de um cachorro –, circulando perto de caminhões de carga, desviando de pedestres e fazendo meia-volta.
AutoX demonstra seus táxis robôs em Shenzhen.
Vídeo: AutoX
“É um sonho”, disse Jianxiong Xiao, CEO da AutoX, em uma entrevista. “Depois de trabalhar por tantos anos, finalmente chegamos ao ponto em que a tecnologia está madura o suficiente para podermos dispensar o motorista de segurança.”
Segundo Xiao, a empresa conseguiu autorização para testes reais com o robô-táxi depois de trabalhar para melhorar seu software e hardware. “Temos mais de 100 veículos circulando todos os dias nas estradas [na China] para coletar dados. Do ponto de vista técnico o carro está pronto, com o software de Inteligência Artificial bem desenvolvido para substituir o motorista”, destacou Xiao.
A AutoX foi fundada em 2016 por Xiao, um ex-professor assistente de Princeton que ainda gosta de ser chamado de “Professor X”. Com sede em Shenzhen, a empresa se especializou no desenvolvimento da tecnologia de carros autônomos e faz parceria com grandes montadoras, como a Fiat Chrysler, para desenvolver e lançar seus robôs-táxis.
A nova iniciativa, porém, continua em fase experimental e ainda não foi aberta ao público. De acordo com o CEO, isso provavelmente não mudará tão cedo, já que ele espera obter permissão para expandir o programa para passageiros regulares nos próximos dois ou três anos.
Corrida do robô-táxi
Embora a AutoX tenha conquistado uma vantagem na China, não é a primeira vez que seus veículos totalmente sem motorista circulam por vias públicas. No meio do ano, a empresa obteve a aprovação para realizar testes de carro autônomo em algumas áreas de San Jose, Califórnia, superando outro obstáculo em um de seus mercados mais importantes.
Em outubro, a Waymo, da Alphabet, deu um passo adiante, dizendo que iria começar a abrir seu serviço de transporte não tripulado para cidadãos de Phoenix, Arizona.
A competição nacional também está esquentando na China. Recentemente, as empresas chinesas começaram a permitir que mais pessoas comuns experimentassem como é andar de carro autônomo.
Este ano, a pandemia de coronavírus demonstrou a necessidade de serviços sem contato, o que encorajou o governo a acelerar os projetos de condução autônoma.
Em junho, a Didi, a maior empresa de corrida por aplicativo da China, começou a oferecer passeios gratuitos em seus veículos autônomos dentro de uma área designada de Xangai.
Outra gigante chinesa da tecnologia, a Baidu (BIDU), também anunciou recentemente que qualquer pessoa poderia experimentar seu robô-táxi em alguns distritos de Pequim. Esse programa, porém, assim como o da Didi, ainda requerem a presença de um motorista de segurança.
A AutoX também tem robôs-táxis com motorista de segurança implantado em cinco cidades chinesas, incluindo Xangai e Wuhan, e espera estender serviço para dez cidades até o meio do ano que vem. Para Xiao, tirar os motoristas humanos do volante nesses outros mercados vai depender dos reguladores locais. Em Shenzhen, a empresa conseguiu a autorização para seus robôs-táxis circularem sem motorista depois de seis meses de testes bem-sucedidos.
Em Xangai, seus veículos com motorista reserva estão disponíveis para usuários públicos, que podem chamá-los por meio do Autonavi do Alibaba, um aplicativo de mapeamento chinês.
Os robôs-táxis precisam se adaptar às condições do tráfego em cada local, ressalta Xiao. Em Shenzhen, por exemplo, há muitos entregadores que usam bicicletas e scooters, e os motoristas são conhecidos por dirigir de forma mais agressiva do que nos Estados Unidos.
“Os cenários de tráfego são muito mais desafiadores”, acrescentou. “Tivemos que trabalhar muito na nossa IA para nos adaptarmos ao modo de dirigir em Shenzhen”.
Maior fabricante de carros do mundo, a China pode um dia se tornar o principal mercado global de veículos automatizados, de acordo com um relatório da empresa de consultoria McKinsey. Ele projeta que o país poderá gerar até US$ 1,1 trilhão em receitas de serviços de mobilidade autônoma até 2040.
O setor, porém, ainda tem um longo caminho pela frente. Xiao estima que pode levar mais cinco anos para que os táxis não tripulados se tornem a norma em toda a China.
“A barreira é altíssima”, disse ele. “É extremamente desafiador, mas estamos muito felizes.”