A balconista Ingrid Mendonça Ribeiro, de 34 anos, ficou paraplégica após ser baleada em um assalto forjado pelo ex-marido, que não aceitava o término da relação, na farmácia onde ela trabalhava em Iguape, no litoral de São Paulo. O disparo atingiu o ombro da vítima, atravessou a coluna e a bala ficou alojada no quadril dela. Atualmente, familiares buscam ajuda para a aquisição de equipamentos de locomoção, avaliados em R$ 35 mil.
O crime ocorreu na noite de 16 de outubro, em uma farmácia no Centro da cidade, no dia do aniversário de 11 anos do filho dela. Dois criminosos chegaram ao estabelecimento em um carro prata e, armados, anunciaram o assalto. Após trancarem os outros funcionários nos fundos e roubarem alguns objetos, um dos ladrões disparou contra a balconista.
A bala foi retirada durante cirurgia, mas o estrago já havia sido feito. Ingrid foi diagnosticada com Paralisia Crucial T9. “Ela não sente do umbigo para baixo, não tem liberdade para fazer as necessidades fisiológicas, usando sonda e fralda”, conta um parente, que prefere não se identificar.
“Ainda não sabemos se é reversível e se, um dia, ela poderá voltar a andar. Estamos aguardando os médicos, que não nos deram esperança. Estamos nos apegando ao fio de esperança de Deus, de que vai dar tudo certo”.
Quando a balconista recobrou a consciência, ainda no hospital, contou aos policiais acionados para a ocorrência que o carro prata usado pela dupla era o mesmo veículo que ela notou que a perseguia na rua, dias antes.
Mulher ficou paraplégica após ser baleada por criminosos pagos por ex-marido — Foto: Arquivo Pessoal
Violência doméstica e perseguição
O relato da vítima fez a direção das investigações mudar. Em vez de trabalharem com a hipótese de assalto, as autoridades chegaram à suspeita de tentativa de feminicídio.
Tudo começou no dia 17 de setembro, segundo relatos de familiares ao G1. A balconista pediu o divórcio ao marido, com quem mantinha um casamento de cinco anos. “Foi aí que descobrimos que ele tentava agredi-la”, contou o parente.
“Ele já tentou estrangular ela pelo menos cinco vezes e era totalmente possessivo”, relata. Andrews Ribeiro de Oliveira Martiniano, o ex-marido, chegou a ir à farmácia onde a mulher trabalhava e pedir ao dono para que ela fosse demitida, alegando que ele iria sustentá-la.
Mulher ficou paraplégica após ser vítima de tentativa de feminicídio na farmácia onde trabalhava — Foto: Arquivo pessoal
Ingrid tentou se afastar do marido, mas ele se recusou a assinar o divórcio e passou a persegui-la, insistindo em reatar a relação. “Ela disse que não queria mais, mandou ele pegar as coisas dele e ir embora”.
A gota d’água para Ingrid foi quando, em uma madrugada, ele forçou a porta de sua casa alcoolizado, chamando por ela, que dormia. A balconista conseguiu uma medida protetiva contra o ex-marido, mas a insistência dele só pareceu cessar quando ela instalou quatro câmeras em sua residência.
Nos dias seguintes, ela passou a ter a sensação de estar sendo perseguida por um carro prata, que via por perto onde quer que fosse.
Tentativa de feminicídio
No dia 16 de outubro, Ingrid não chegou em casa no horário combinado para comemorar o aniversário do filho. Os familiares receberam a ligação da polícia contando que a farmácia havia sido alvo de um assalto, e que ela estava inconsciente no hospital, depois de ser baleada.
Enquanto fugiam da Polícia Militar, os criminosos capotaram o veículo na estrada, no sentido São Paulo. O criminoso que estava ao volante, autor do disparo que feriu Ingrid, morreu na hora. O outro suspeito sobreviveu e acabou confessando que o ex-marido dela havia pagado, à vista, R$ 5 mil, e que parcelaria R$ 13 mil para matar a mulher.
O falso assaltante que sobreviveu ao acidente, o ex-marido e, ainda, um intermediário que contratou a dupla seguem presos e à disposição da Justiça, na Cadeia Pública de Registro. Conforme a Polícia Civil, o suspeito confessou que mandou matar a ex-mulher, mas alegou que, depois, se arrependeu, e que os dois contratados disseram que não tinha mais jeito, ameaçando matar a família de Martiniano.
Tratamento
“Ela possuía sua própria casa, a própria moto, trabalhava, era independente. Vê-la hoje em dia, presa a uma cama, não é fácil”, diz o parente. Por conta disso, a família decidiu criar uma campanha online para levantar a quantia de R$ 35 mil.
Com o valor arrecadado, será comprada uma cadeira motorizada com ajuste para posição ortostática, por R$ 20 mil, e um guincho para ela conseguir sair da cama para a cadeira, que custa em média R$ 8 mil.