O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), diz que o líder do centrão, deputado Arthur Lira (PP-AL), é o candidato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à sua sucessão no comando da Casa em fevereiro.
Em entrevista à reportagem nesta sexta-feira (30), Maia afirma que não chancelará um acordo que exclua partidos de esquerda da disputa. “Não é uma questão numérica, é uma questão de respeito à minoria, principalmente na casa da democracia.”
Maia ainda disse considerar irrelevante o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e nega ter errado ao criticar em rede social o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, após vazamento de uma conversa.
Pergunta – O que o sr. achou da mensagem postada no Twitter do ministro Ricardo Salles que lhe chamou de Nhonho?
Rodrigo Maia – A gente vive tantos problemas mais graves no Brasil, as mortes pela Covid, agora o recorde da taxa de desemprego. Acho que as palavras do ministro Salles são cada vez mais irrelevantes, né? A gente deve focar no que é fundamental. Até porque na área em que ele é ministro, infelizmente é um vexame enorme para o Brasil. Eu não li a mensagem que ele mandou, e para mim é cada vez mais irrelevante.
Ele não ligou para o sr., só mandou mensagem?
RM – Mandou mensagem e ligou. Depois que eu vi a ligação perdida. Como perdido ele está no Ministério do Meio Ambiente.
Sua opinião é de que ele precisa sair da pasta?
RM – Ele está se tornando cada vez mais irrelevante, prejudicando a imagem do Brasil. Agora, quem nomeia e quem exonera é o presidente da República.
No dia seguinte, o sr. postou uma mensagem acusando o presidente do Banco Central de ter vazado uma conversa de vocês. O sr. não cometeu o mesmo erro do Salles?
RM – Não, é diferente, porque eu botei conteúdo. Fiz uma crítica. O presidente do Banco Central diz que não foi ele. Então ele conversou com alguém e alguém vazou. Acho que fica o alerta.
Mas o Twitter não é o melhor caminho para resolver questões políticas, ou é?
RM – O Twitter é um dos caminhos, da mesma forma que vazar para a imprensa não é o melhor caminho para se resolver questões políticas. Em nenhum momento foi pejorativo, em nenhum momento foi infantil. Foi uma crítica, que eu acho que foi correta em relação ao vazamento entre duas pessoas no dia do Copom, entre dois presidentes, um do Banco Central e outro da Câmara.
Sobre a Comissão Mista do Orçamento, o sr. defende que se cumpra o acordo de fevereiro que previa a presidência de Elmar Nascimento (DEM-BA), e tem um grupo ligado a Arthur Lira (PP-AL) que quer uma nova eleição, argumentando que havia um bloco que não existe mais. O sr. acha que é possível chegar a um consenso?
RM – O bloco não existe mais porque nunca existiu. Todos os blocos para a CMO acabam na primeira semana de março. É uma desculpa que não existe. O problema não é votar, acho até que se votar o Elmar ganha. Mas adianta ganhar na comissão de Orçamento? Ela nunca funcionou no conflito, só por acordo. Se um grupo derrotar o outro, quem perder vai obstruir a comissão. Então é melhor que os partidos sentem à mesa com o presidente Davi [Alcolumbre, do Senado], e construam esse acordo.
Parlamentares dizem que o pano de fundo dessa disputa é a eleição da Câmara. Integrantes da base alegam que o sr. está atrapalhando a instalação por interesses eleitorais pela sua reeleição ou de um aliado…
RM – Quem está obstruindo a pauta da Câmara não sou eu.
Mas estão obstruindo porque o sr. não cedeu.
RM – Eu não. E quem está querendo descumprir o acordo que foi feito em fevereiro também não sou eu. Isso é besteira, é perda de tempo.
Outra questão é o recesso de janeiro. Parlamentares não querem trabalhar em janeiro porque acham que isso pode atrapalhar a disputa pela presidência da Câmara em 2021. Acham que o sr. quer colocar um candidato na disputa ou quer se candidatar. O sr. disse que não vai se candidatar…
RM – Mas tudo bem, e se eu tiver um candidato, qual é o problema? Eles podem ter candidato e o nosso lado não pode ter candidato? Isso me parece uma coisa antidemocrática. Estou fazendo contas. O que estou dizendo é que não dá tempo de votar a PEC Emergencial neste ano. Tudo depende da aprovação das matérias. Se conseguir resolver até 20 de dezembro, ótimo, não precisa convocar em janeiro.
O sr. falou que não adianta começar a corrida presidencial da Câmara agora, mas o sr. já tem um nome?
RM – Tem quatro, cinco deputados que têm a intenção de disputar a eleição, todos são ótimos candidatos, e acho que não é hora de tratar disso. Aqueles que acham que estou tratando de eleição no fundo são os que só pensam em eleição.
O sr. acha que quem está pensando nisso é quem apoia Lira ou o próprio, que é o candidato dos partidos da base?
RM – Eu acho que é o candidato do Bolsonaro.
O sr. acha que Lira é o candidato do Bolsonaro?
RM – Eu acho não, o Bolsonaro está dizendo isso para os partidos, pelo menos é o que estão me dizendo. E acho que é legítimo ele ser o candidato do Bolsonaro. Não tem problema nenhum. O Arthur é um ótimo líder e, tendo o apoio do presidente Bolsonaro, é um candidato forte.Agora, acho que esse assunto precisa ficar mais para frente. Eu de fato não acho que a gente deva olhar a comissão de Orçamento, o plenário da Câmara, olhando a eleição. E ele [Lira] está dizendo que não está, ótimo. A partir da próxima semana a gente vai conseguir voltar a aprovar medidas provisórias, destrancar a pauta. Agora é óbvio que, pelo que eu recebo de informações de presidentes de partidos, [que] o presidente Bolsonaro apoia o Arthur Lira. É o candidato dele e é legítimo que o presidente tenha o seu candidato.
O sr. diz que não é o momento de tratar de eleição, então, quem está tratando está errado?
RM – Acho que está errado discutir eleição e não sou eu que estou discutindo. Agora o Arthur tem dado todas as demonstrações, desde que eu assumi a presidência, de responsabilidade com a agenda do Brasil.
Se o presidente falou que apoia o Lira significa que ele está ativamente entrando na disputa pela presidência da Câmara?
RM – É um direito dele.
Mas com isso o próprio presidente não interfere no processo e atrapalha a votação de medidas que ele deveria aprovar?
RM – Não estou dizendo que o presidente está interferindo, muito pelo contrário, seria injustiça da minha parte. O que ele disse a um presidente de partido e algumas pessoas de fora do Poder Legislativo é que o Arthur é o candidato dele, o que é legítimo. Nenhum problema.
O sr. acha que dá para construir um nome que possa ser consenso entre essas duas alas do centro e centro-direita? A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, por exemplo?
RM – Não faço parte de nenhum acordo que exclua os partidos de esquerda da minha sucessão. Muito pelo contrário, eu pretendo construir um nome que introduza eles na Mesa Diretora, voltando a dar espaço para mais de um partido da esquerda na Mesa e que compreenda que a Câmara é uma Casa plural, da democracia. Não é uma questão numérica, é uma questão de respeito à minoria.
O sr. não vai se candidatar à reeleição?
RM – Eu não sou candidato à reeleição.
O que o sr. acha possível aprovar neste ano?
RM – Acho que, das reformas, as duas que nós temos condições de votar neste ano e início do ano que vem é a emergencial e a tributária. A tributária, se o governo quiser construir um acordo, acho que é bem provável que consiga votar na Câmara neste ano, não nas duas Casas.
O sr. espera que o veto da desoneração da folha de pagamento, que deve ser votado nesta semana, caia?
RM – Até 45 dias atrás, eu diria para você que, sim, que o veto ia cair. Hoje [sexta-feira] eu não tenho como te responder a essa pergunta.
O sr. acha que a Câmara ainda defende a derrubada do veto da desoneração da folha de pagamentos?
RM – Eu defendo a derrubada do veto.
O ministro Paulo Gudes deu uma nova estocada no ministro Rogério Marinho. A continuação da provocação por Guedes não atrapalha o andamento dos trabalhos no Brasil?
RM – Não me cabe ficar fazendo crítica a esse conflito. Óbvio que o ministro da Economia, num momento de tanto tensionamento em relação aos próximos passos do governo brasileiro, principalmente em relação à questão fiscal, perder parte de uma entrevista, coletiva ou live tratando de conflitos internos não me parece o melhor caminho.
O sr. recebeu algum convite, formal ou informal, para integrar o governo ou para um cargo em outro Executivo, como o Rio?
RM – Não recebi [convite] e eu teria dificuldade de participar do governo do presidente Bolsonaro, e acho que ele teria dificuldade de me convidar, sendo bem justo.
O sr. apoia uma chapa Ciro-Lula para 2022?
RM – Não. Acho que o DEM deve ter ou construir aqui no centro uma candidatura mais liberal na economia. A chapa Ciro-Lula seria mais de esquerda na economia.
O presidente oficializou o apoio ao Crivella. Como o sr. vê a entrada do presidente na eleição do Rio?
RM – A minha impressão é que a utilização da imagem do presidente fez o Crivella perder votos entre as mulheres. Certamente a entrada do presidente vai compensar essa perda do voto das mulheres com o voto de homens, que apoiam mais o presidente do que as mulheres. Aí o Crivella pode voltar a ter o patamar de 15%, 16%, voltando a ser favorito para ir ao segundo turno.
RAIO-X
Rodrigo Maia, 50
Parlamentar (DEM-RJ) em sexto mandato, foi eleito presidente da Câmara pela primeira vez em 2016, para um mandato-tampão de seis meses depois da renúncia de Eduardo Cunha, que ocupava o cargo. Foi reeleito em 2017, para mandato de dois anos. Em 2019, já na nova legislatura, foi mais uma vez escolhido para presidir a Casa. Tem naturalidade chilena e é filho do ex-prefeito do Rio César Maia.